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Artista queer brasiliense, Gahbi emenda segundo papel no cinema em 2025

Gahbi vive um assessor de celebridades no longa de comédia "Mãe fora da caixa", ao lado de Miá Mello, em cartaz

Gahbi é um artista brasiliense -  (crédito:  SimoneFransisco)
Gahbi é um artista brasiliense - (crédito: SimoneFransisco)
Depois do sucesso de Câncer com ascendente em virgem, o ator brasiliense Gahbi estreou seu novo personagem nos cinemas. Ele é Cláudio, um assessor da celebridade, moderno, conectado, absolutamente por dentro do mundo de influenciadores, redes sociais e marketing de conteúdo, no longa Mãe fora da caixa, estrelado com Miá Mello e já em cartaz em todo o Brasil.
Com direção de Manuh Fontes, Gahbi, que interpretou o Polvilho, em Elas por elas, na TV Globo, aparece como uma pedra no caminho de Manu (Miá Mello). Isso porque a protagonista está cuidando de um grande evento de uma influenciadora famosa, chamada Gleicy Anne (Jey - Jeniffer Setti), e junto com isso está acontecendo o aniversário da sua filha. Cláudio cuida para que esteja tudo impecável e de acordo com as vontades e faniquitos de sua diva e patroa, que, por sua vez, tem fobia da cor azul, passa mal e tudo mais. Porém, Manu vai estar vestida de Galinha Pintadinha, totalmente azul, para festa de sua filha. Essa é a imagem do pânico total para a celebridade. A saga de Cláudio é descobrir o que está acontecendo e eliminar qualquer vestígio da cor azul que possa haver naquele hotel.
Confira a entrevista com o artista, que é ator, drag queen e humorista, e foi a primeira pessoa não-binária a conseguir a retificação de gênero em uma ação judicial individual no Distrito Federal.

Entrevista | Gahbi

Como você se preparou para esse papel? Teve alguma referência de alguém?

Cláudio é moderno, conectado, absolutamente por dentro do mundo de influenciadores, redes sociais e marketing de conteúdo. Ele é assessor da Gleicy Anne e cuida da produção e presença digital dela. O assessor e a celebridade estão naquele hotel para o super evento de lançamento do perfume Pink Star. Ele se submete a situações e mimos absurdos da sua patroa. É uma relação tóxica e abusiva desenhada com muito humor. Como isso é o que ele recebe dela, Cláudio oprime todos os outros que passam, repete o comportamento autoritário e abusivo com as outras pessoas que estão pelo caminho. Esse personagem representa o clássico fenômeno psicológico e social da síndrome do Pequeno Poder, em que uma pessoa que sofreu opressão, humilhação ou falta de reconhecimento em contextos hierárquicos. como no trabalho, passa a reproduzir comportamentos autoritários, controladores ou abusivos quando se vê em uma posição de poder, ainda que mínimo. Para viver o Cláudio, eu fiz um mergulho no mundo “diva digital + gay que resolve tudo”. Nesse duplo que se popularizou, pesquisei e estudei casos como “a aspirante a celebridade” ou celebridade midiática e seu “gay de estimação”, seu “gay chaveirinho”. Um laboratório de observação dessas figuras públicas e também de pessoas próximas que têm esse tipo de relação, quase Virgínia com seu amigo Lucas Guedez (rs com todo respeito, não sei da relação íntima deles, mas a relação pública e exposta apareceu como referência sim!). Observei assessores reais, claro! E, no sentido positivo, os desafios de seu trabalho, as demandas urgentes e a dinâmica super ativa e, por vezes, ansiosa. Já no sentido comportamental, a verdadeira referência foi essa dinâmica tóxica e divertida onde a celebridade surta e o assessor apaga incêndios.

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Você gosta mais de interpretar personagens cômicos ou dramáticos?

Olha, eu gosto mesmo é de contar histórias, independente de serem cômicas ou dramáticas. E eu acho lindo poder transitar. Sempre digo que quem faz humor aprende a olhar o mundo com sensibilidade, com escuta, com verdade, nas entrelinhas, fora do convencional, e isso serve tanto pro riso quanto pra emoção dramática. Não vejo como dois mundos separados: são só duas linguagens para falar sobre quem a gente é. Se o personagem me provoca, me move e me dá a chance de entregar algo real, eu fico feliz, seja pra fazer rir, chorar ou os dois ao mesmo tempo. Agora, eu tenho trabalhado bastante com comédia. O humor é revolucionário e muito sexy! Ele envolve as pessoas. O riso abre vias de acesso. Creio que o humor tem um poder transformador. Quando eu subo no palco ou apareço nas redes sendo quem eu sou, com todas as minhas nuances, eu tô dizendo: 'Olha, existimos, estamos aqui e temos voz. Minha arte não é só sobre fazer rir, é sobre fazer pensar, desconstruir estereótipos e abrir espaço pra conversas que, muitas vezes, são evitadas. Como pessoa não-binária, eu me coloco ali com coragem, vulnerabilidade e também deboche, porque rir das estruturas que tentam nos apagar também é resistência. Eu acredito que quanto mais visibilidade a gente tem, mais pessoas se sentem autorizadas a viver suas próprias verdades. E se alguém se sente um pouco mais livre depois de me ver em cena, então já valeu!

Quais as boas recordações você tem do personagem Polvilho, em Elas por elas?

Ah, eu tenho um carinho muito especial pelo Polvilho porque foi minha primeira novela e eu sou noveleiro desde criança. Então ele traz a simbologia da realização do sonho. Sempre penso nele, acho que me atravessou e ficou, em relação à amizade, em dois sentidos: no da empatia, da troca e da entrega, mas também que empatia sem limites é o caos certo. Ouvi muito que ele é o amigo que todo mundo queria e precisa ter. Como foi meu trabalho de maior visibilidade pública, ainda hoje tem pessoas que me encontram e não me chamam de Gahbi, chamam de Polvilho. Às vezes erram, chamam de Sequilho, de Biscoito rs. Tenho boas recordações das gravações, set e equipe. Tenho saudades, gostei daquela rotina, quero fazer outras novelas.

Gahbi é um artista brasiliense
Gahbi é um artista brasiliense (foto: SimoneFransisco)

Você é um ator não-binário. Hoje em dia, o mercado do audiovisual está mais aberto para a diversidade?

O mercado está mais aberto à diversidade sim, mas não é uma abertura muito grande não. Ainda precisamos inovar na dramaturgia e em quem conta e produz as histórias. Por exemplo, quando ocorre, eu acho que há muita narrativa gay centrada em homens dentro de padrões de beleza e reproduzindo heteronormatividade e amor romântico. Para avançar de verdade, é preciso criar personagens e histórias que reflitam a diversidade real da nossa sociedade, incluindo pessoas não-binárias, trans e outras vivências marginalizadas. Inclusive, uma situação que ilustra bem o desafio de gerir minha carreira aconteceu recentemente. Um produtor de elenco me disse: "Gahbi! Te adoro! Você é tão talentoso. Quero te escalar, mas seu perfil é tão específico. "Na hora, rebati com sinceridade e expliquei que a minha formação em atuação cênica e interpretação me permite ser versátil e adaptar meu perfil às demandas do personagem. Citei exemplos de colegas que têm tatuagens ou características marcantes e que, ainda assim, são facilmente maquiados ou ajustados em novelas de época, por exemplo. A mensagem que passei é que o talento e a técnica permitem ampliar infinitamente o alcance de um ator, mesmo quando o mercado tenta colocar limites por aparência ou estereótipos. Para mim, essa experiência reforça a importância de tomar as rédeas da própria carreira e mostrar que, com preparo e criatividade, é possível criar oportunidades em vez de esperar que elas apareçam.

Qual o personagem que você ainda sonha em interpretar?

São tantos! No audiovisual, eu adoraria interpretar um vilão escrito por João Emanuel Carneiro ou Walcyr Carrasco, personagens complexos, cheios de ambição, sombra e nuance. Também sou muito atraído pela ideia de um papel no universo de Raphael Montes, porque seus personagens têm uma profundidade sombria, misturam crime, paixão e psicologia de um jeito muito intenso. No teatro, tenho um desejo grande de viver o Veludo, de Navalha na carne, de Plínio Marcos, esse personagem gay marginalizado, vulnerável, cheio de camadas de poder e delicadeza. Também sonho com clássicos de Shakespeare: papéis que desafiam gênero, poder, identidade, imagino desempenhar personagens como Hamlet, Próspero ou talvez até mesmo o Mercúcio, explorando toda a riqueza dramática e poética que o teatro shakespeariano permite. Eu também amo a ideia de trazer fantasia para o teatro ou audiovisual, como O Gato de Alice no País das Maravilhas ou personagens mágicos que acompanham Dorothy em O Mágico de Oz. Esses papéis me permitem brincar com física, humor, linguagem corporal e imaginação, criando experiências lúdicas e memoráveis. Também queria fazer o Fofão da Augusta no cinema, uma versão baseada na história escrita por Chico Felitti (já falei isso pra ele! rs). Acho que há algo de poético e brutal na vida dele: artista de rua, maquiador, figura marginal, mas também uma lenda urbana. Seria um papel incrível explorar identidade, glamour, decadência e humanidade numa só narrativa.

Quais são seus projetos futuros?

No momento, estou com alguns projetos em andamento e outros prestes a sair do papel. Estou aguardando resultados de testes e participações em produtos para estrear no audiovisual (como a série Réu, dirigida pela Cibele Amaral, e a terceira temporada de Matches, dirigida pela Manuh Fontes), e também tenho projetos para o teatro que quero desenvolver em breve. Paralelamente, tenho investido muito no stand up comedy, com shows regulares e o projeto Banheirão da Casa na Casa da Comédia Carioca, junto com o Pahby e o Gabe Brandão, somos Os Debochados. Além disso, estou criando quadros de arte, humor e entretenimento para o Instagram e também trabalhando na construção do meu solo de stand up comedy para 2026. O mais importante nesse momento é a autogestão da carreira. O mercado ainda restringe muitas oportunidades, então estou literalmente colocando a mão na massa e abrindo as portas com minhas próprias mãos. É desafiador, mas também libertador, porque me permite criar os projetos que acredito e construir trajetória de forma genuína.

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postado em 02/12/2025 17:45
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