MÚSICA

No Cristo Redentor, Rosalía corta músicas sobre sexo e deixa "Berghain" de fora

Audição restrita de ‘Lux’ no santuário surpreende ao excluir faixas mais populares e explícitas, reforçando o contraste entre devoção, imagem pública e limites do sagrado

cantora apresentou apenas músicas de tom mais simbólico e espiritual durante o evento no Rio de Janeiro -  (crédito: Divulgação )
cantora apresentou apenas músicas de tom mais simbólico e espiritual durante o evento no Rio de Janeiro - (crédito: Divulgação )

O Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, sediou a audição do novo álbum de Rosalía, o Lux, na noite de domingo (30/11). A presença da artista no santuário já chamava atenção, mas o que causou estranhamento foi a ausência dos dois maiores sucessos do disco na setlist do evento.

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Tanto Berghain, considerada o principal destaque crítico e comercial da produção, quanto La Perla, não foram apresentadas — ambas líderes de audições no Spotify. A performance reuniu apenas um grupo reduzido de faixas e não contou com cobertura midiática. A quarta música mais ouvida da cantora atualmente, Sexo, Violencia y Llantas, também ficou de fora.

Em vez das músicas notórias, Rosalía interpretou Relíquia, Mio Cristo Piangi Diamanti, Sauvignon Blanc, Magnolias, Divinize e Memória — faixas que acumulam menos da metade das reproduções dos grandes hits. Todas dialogam de maneira mais indireta com os temas centrais do trabalho, como desilusões amorosas, autonomia feminina e desejo, mas com viés mais simbólico ou espiritual.

As músicas omitidas têm em comum letras sobre relações intensas, fracassadas ou marcadas por forte carga sexual. Em Berghain, a frase “I’ll fuck you ’till you love me” (“eu vou transar com você até você me amar”) aparece repetida várias vezes. La Perla aborda a coleção de sutiãs de um amante, enquanto Sexo, Violencia y Llantas traz a provocação de amar o mundo antes de amar a Deus.

A Sony Music, gravadora da artista, afirmou à Folha de S. Paulo que a escolha da setlist seguiu “um caminho de respeito ao santuário e ao fato de ser um lugar sagrado”, afastando qualquer interferência da Arquidiocese do Rio, administradora do Cristo Redentor. A Arquidiocese, por sua vez, declarou ao Correio não responder pelo Santuário. O Santuário Cristo Redentor afirmou que as músicas foram escolhidas de comum acordo, sem nenhum problema. 

O alinhamento das canções apresentadas reforça elementos espirituais já presentes na identidade visual da era Lux, que incorpora a estética cristã para contrapor corpo, desejo e transcendência. O próprio título do álbum, que significa “luz” em latim, remete à presença divina. A capa, com Rosalía usando um véu que lembra o de freiras, faz parte da abordagem.

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Nas músicas escolhidas para o Cristo, as referências são explícitas. Divinize abre evocando a Bíblia ao citar a maçã como fruto proibido e relacioná-la à espiritualidade guardada no corpo da artista, mencionando também rosários. Em Sauvignon Blanc, Rosalía canta sobre “acender a minha luz” ao se desprender do material — queimando um Rolls-Royce, descartando sapatos Jimmy Choo e ouvindo Deus — retomando uma tradição de religiosidade ibérica que marca parte de sua obra.

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postado em 02/12/2025 14:55 / atualizado em 03/12/2025 11:12
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