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Nova série 'Como nascem os heróis' faz revisão de regimes e mitos

A TV Brasil estreia a série Como Nascem os heróis, que redesenha a expressão de destacadas figuras do imaginário nacional. E entra também em cartaz o vencedor da Palma de Ouro, Foi apenas um acidente, do politizado Jafar Panahi

Livro de Aço, objeto de homenagem a personalidades que tiveram papel fundamental 
na sociedade -  (crédito:  Marina Dantas/CB/D.A Press)
Livro de Aço, objeto de homenagem a personalidades que tiveram papel fundamental na sociedade - (crédito: Marina Dantas/CB/D.A Press)

Decifrar uma política das escolhas de mais de 70 lideranças descritas como heroínas e heróis, numa lista que integra o Livro de Aço exposto no Panteão da Pátria, em Brasília, é uma das propostas da série Como nascem os heróis. Junto com as produtoras locais Pavirada Filmes e Quartinho, a paulistana O Par remexeu no que muitos veem como sacramentado: as conexões entre presente e passado, e estímulos à reflexão para a construção de um futuro mais promissor. "Assim como monumentos, a história deve ser sempre revisitada e pensada. À luz de novas fontes, teorias, visões de mundo e conhecimentos, tudo pode desabar", defende uma das produtoras, Maíra Carvalho. A série de tevê vai ao ar, a partir de hoje, na TV Brasil (e sempre às quintas-feiras, na faixa das 23h).

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Uma dezena de ícones da história nacional, entre os quais a lendária feminista Anita Garibaldi e o idolatrado Zumbi dos Palmares, uma figura que quase alcançou século 18, como autoridade do quilombo de resistência aos escravizados, estão no rol das personalidades em foco. "O autor da série é Rafael Leporace Farret, historiador, doutor, com ampla pesquisa sobre o tema. Além dele, temos contribuições de dezenas de entrevistados especialistas na história de cada um dos nossos personagens", adianta a produtora Maíra. A persona drag Rita von Hunty, uma criação de Guilherme Terreri, responde pela apresentação da série desenvolvida por mais de uma década, e que traz direção geral de Iberê Carvalho, e codireção de Marcelo Díaz, dedicado ao segmento documental, às filmagens de externas e à condução de cena.

"Zuzu Angel (que lutou pela verdade, diante do desaparecimento do filho, durante a ditadura) é a personagem mais atual abordada nessa temporada e ainda é pouco conhecida do grande público, apesar de ser uma mulher de história impressionante e uma figura apaixonante", conta Maíra Carvalho, ao falar da artista, morta em 1976, diante das ações ativistas a favor dos direitos humanos. "Existem muitas pessoas contemporâneas a nós que mereceriam estar entre os heróis e as heroínas da Pátria. Em primeira mão, penso logo em Marielle Franco, e em como seu mandato incomodou as milícias do RJ. Ailton Krenak, Daniel Munduruku, Eliane Potiguara e Alessandra Munduruku são outros exemplos de vozes, vidas e lutas alinhadas com as questões mais prementes de nosso tempo: o combate ao modo de vida que nos trouxe ao colapso ambiental. Para usar as palavras de Paulo Freire, uma das "bonitezas" do projeto é que no futuro podemos pensar em temporadas que contemplem os heróis e heroínas do futuro!", completa o ator Guilherme Terreri (Rita von Hunty).

Com episódios desenvolvidos em 26 minutos, Como nascem os heróis contempla figuras importantes para a Inconfidência Mineira, como o mártir Tiradentes, e inclui a liderança indígena Sepé Tiaraju, morto em meados do século 18. No pacote televisivo, está a trajetória de Dom Pedro I, o imperador que, em 1822, proclamou a Independência do Brasil e ícones de respaldo dúbio, como o presidente Getúlio Vargas e o Patrono do Exército Brasileiro, Duque de Caxias, que teve firme histórico associado à unificação nacional. "Talvez Duque de Caxias seja o personagem mais controverso e que gere mais polêmicas, por dar nome a cidades, ruas e praças e ser ainda hoje idolatrado por alguns militares, como os que o alçaram a herói oficial da Pátria", pontua a produtora Maíra.

E, passíveis de serem desmontados, os mitos, que por vezes controlam hordas e convidam a quebra-quebra e remoção de monumentos, poderiam instigar mobilização de latentes espectadores da série? "Não acredito que chegue a esse ponto. A nossa série faz mais um convite à reflexão e a construção da nossa identidade brasileira e construção da nossa história do que à revolta", conta a produtora, também responsável pela direção de arte do programa. Ao que o intérprete de Rita von Hunty completa: "É importante frisar que um 'monumento' de cultura é sempre, e, ao mesmo tempo, um monumento de barbárie, como nos lembra Walter Benjamin. O que deve nos interessar é exatamente a capacidade de reconhecer quando, como e porquê certas figuras terminam por ocupar essas posições 'monumentais'. Nosso programa (Como nascem os heróis) tenta proporcionar a quem assiste essa jornada". 

Duas perguntas // Iberê Carvalho, codiretor da série


Qual o dispositivo de linguagem empregado junto a jovens e como vocês os instigam a fugirem da doutrinação?

Rita Von Hunty é mestre em dialogar com público diverso. Sua linguagem além de muito bem-humorada é fluida e respaldada por muito conhecimento. A proposta é fugir da doutrinação, mas deixando claro que temos um posicionamento e que há uma perspectiva neste olhar. Não pretendemos trazer verdades consolidadas, mas sim trazer a nossa interpretação e deixando claro que ela existe.

Reformatar a história e gerar revisões requer que tipo de responsabilidade?

Uma série como esta não poderia ser feita sem um profundo embasamento histórico e sem estarmos ancorados em depoimentos dos maiores especialistas vivos em cada um dos temas abordados. É evidente que a nossa abordagem aos temas não será uma unanimidade e não fugimos ao risco de críticas.

 

 

  • Cena da série Como nascem os heróis
    Cena da série Como nascem os heróis Foto: Pavirada Filmes
  • Iberê Carvalho
    Iberê Carvalho Foto: Quartinho Direções/Divulgação
  • Foi apenas um acidente: desejo de vingança com pitadas de humor
    Foi apenas um acidente: desejo de vingança com pitadas de humor Foto: Imovision
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postado em 04/12/2025 04:31 / atualizado em 04/12/2025 09:50
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