
O apresentador Luciano Huck foi alvo de crítica após viralizar um vídeo em que diz a indígenas largarem o celular para “limpar a cultura”. A fala ocorreu durante visita ao Território Indígena do Xingu, no Mato Grosso, junto à cantora Anitta, em agosto. Em nota enviada à imprensa, ele rebateu as críticas ao alegar que o momento não “se tratou de qualquer tipo de limitação cultural ou de consumo”, mas sim de uma “decisão de direção de arte".
Na gravação, é possível ver o momento em que Huck pede para os indígenas que estão sem vestimentas tradicionais saírem do enquadramento da imagem. “Limpa a cultura de vocês aí”, diz o apresentador. Em seguida, ele pede para que eles parem de mexer no celular.
Luciano Huck pedindo p/ q os indígenas não usem celular e q quem estivesse vestido se retirasse. Tinha um fotógrafo muito famoso q fazia algo parecido. Uma vez, no sertão, a assistente dele pediu p/ fotografar mulheres sertanejas,mas tinha q ser só com roupas velhas e empoeiradas pic.twitter.com/5PkYiDi6u7
— Flávio Costa (@flaviocostaf) December 4, 2025
“Aqui está cheio de câmera, quanto mais o celular de vocês aparece, eu acho que menos é a cultura de vocês. Quanto mais a gente conseguir preservar as nossas cenas sem celular (...) Porque quando aparece vocês de celular, eu acho que mexe na cultura original”, afirma em diálogo com um líder da comunidade. “Quando tiver gravando, se vocês puderem ‘segurar’ o celular, eu acho que, quem tiver que ver, valoriza mais vocês”. Em seguida, o porta-voz comunica o recado para os demais.
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Movimentos indígenas reagiram à fala e à justificativa publicada por Huck. “Podemos usar o que vocês usam, sem deixar de ser quem somos”, escreveu a Articulação dos povos indígenas do Brasil (Apib) nas redes sociais. “ Possuir um celular não torna um parente menos indígena. Nossa identidade não se mede por objetos, mas por ancestralidade, território, memória e luta. O acesso à tecnologia é um direito de todos os cidadãos brasileiros. Para nós povos indígenas, ela tem sido ferramenta essencial na defesa dos territórios, no monitoramento ambiental, no acesso à educação e ao trabalho, na comunicação entre comunidades e Estado, e na denúncia de violações historicamente invisibilizadas”.
Em nota, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) afirmou que as culturas indígenas “não precisam ser limpas” e exigem respeito. “Ao dizer 'limpa a cultura de vocês aí', sugerindo que a presença de celulares diminuiria a 'autenticidade' da imagem, reforça-se uma visão equivocada e perigosa sobre os povos indígenas. As culturas indígenas não precisam ser 'limpas'. São diversas, vivas, dinâmicas e múltiplas em toda a Amazônia e no Brasil. Não cabem em estereótipos, nem devem ser reduzidas a imagens folclorizadas para consumo público”, declarou.
Na manifestação, Luciano Huck defendeu ainda ter uma relação de décadas com as comunidades indígenas e conhecer de perto a realidade. Confira a nota na íntegra:
"Minha relação com as comunidades indígenas no Brasil atravessa décadas. Sou, e sempre serei, defensor dos povos originários, de sua cultura, de sua territorialidade e de sua preservação. Dos Zo’é aos Yanomami, estive pessoalmente em dezenas de terras indígenas ao longo da minha trajetória. Eu conheço de perto essa realidade; não foi alguém que me contou.
Sempre defendi que as escolhas sobre modos de vida, tradições e caminhos futuros pertencem única e exclusivamente aos próprios povos indígenas.
Sobre a imagem em questão, registrada nos bastidores de uma gravação, é importante esclarecer: não se tratou de impor qualquer tipo de limitação cultural ou de consumo. Foi apenas uma decisão de direção de arte, um ajuste pontual dentro do contexto de um set de filmagem, nada além disso."

Diversão e Arte
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