O espetáculo Caim e Abel — As bestas é atração hoje, às 15h, e amanhã, às 19h, no Espaço Cultural Renato Russo da 508 Sul. A peça do Grupo Desvio é inspirada no texto bíblico, questiona a masculinidade e a violência da sociedade contemporânea. Segundo o diretor Rodrigo Fischer, a obra nasce do desejo de revisitar debates sobre masculinidade presentes em trabalhos anteriores do grupo, como no espetáculo Os fracassados, de 2014.
O enredo acompanha dois homens atravessando um deserto não só físico, como também simbólico. Lá, os personagens enfrentam medos e vulnerabilidades, tendo que lidar também com atos violentos. "Caim e Abel funda uma narrativa do homem como homicida do próprio homem. A peça não fala sobre Caim e Abel, ela revisita a história a partir deles", observa Gil Roberto, dramaturgo e ator da peça. Para ele, revisitar essa narrativa é essencial para "descortinar muitas das formas de violência praticadas pelo homem".
O espetáculo apresenta a execução de uma trilha sonora ao vivo, que materializa afetos e memórias, acompanhando as cenas de tensão e reflexões propostas pela peça. O cenário da peça também é composto por projeções audiovisuais. Algumas das imagens foram captadas durante o processo de imersão da equipe em Cavalcanti (GO). "A trilha e as projeções participam como atores, elas estão em cena o tempo inteiro. A ideia é que os elementos audiovisuais multipliquem a narrativa e tragam outras camadas", diz o diretor.
Caim e Abel — As bestas recorre ao humor e ao nonsense para expor os temas retratados de forma absurda. Para o diretor, tratar da masculinidade é "uma questão de sobrevivência". "Porque os homens matam muito e se matam muito também. É um tema muito delicado, muito sensível", explica Fischer. Gil acrescenta que a violência patriarcal permanece na base das relações sociais: "É uma violência estrutural, e precisamos falar sobre esse assunto até que não seja mais uma necessidade vital".
A obra não se organiza de forma linear, seguindo diversas ordens narrativas e mesclando sonhos, realidades e memórias. Essa característica reforça a atmosfera onírica do espetáculo. O ator e dramaturgo afirma não conseguir resumir a peça por sua complexidade, mas revela a poesia que encerra o espetáculo: "Éramos grão / guardados na dureza / paciente das pedras".
O Grupo Desvio soma 23 anos de trajetória, com nove espetáculos apresentados em oito países. As produções do grupo são marcadas pela incorporação de tecnologias e elementos audiovisuais no teatro. Ao fim de cada apresentação, a equipe realizará um bate-papo com o público, ampliando a reflexão da obra para além dos palcos.
Caim e Abel — As Bestas
Grupo Desvio. Hoje, às 15h, com libras e audiodescrição, e quinta-feira, às 19h, no Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul). Entrada gratuita mediante retirada de ingressos pelo Sympla. Não recomendado para menores
de 16 anos.
*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco
