Em nada abatido com o etarismo, o ator e diretor Pierre Richard, que recentemente, visitou o Brasil é das raríssimas exceções de intérprete e diretor ainda em atividade, passados os 90 anos, numa escassa lista que inclui Alejandro Jodorowsky, Clint Eastwood, o quase centenário Mel Brooks, Costa-Gavras e a longeva dupla Elaine May e Lee Grant. Numa curiosa estirpe, impressiona a quantidade de gênios que persistiram na arte do cinema, na França, casos dos falecidos Jean Renoir, Alain Resnais, Agnès Varda e Jean-Luc Godard.
Com extenso legado, ainda que morto há 40 anos, no auge da maturidade, ainda muito jovem, François Truffaut (em alta, pela exibição da itinerante Truffaut por completo, atualmente na capital, no Cine Cultura Liberty Mall) foi outro realizador francês que soube valorizar o avanço da idade e o segmento artístico. Leitor costumaz de Balzac, Proust e Jean Genet, Truffaut popularizou, no mundo, Henri-Pierre Roché, quase octogenário, quando da publicação de seus dois (e únicos) romances inaugurais. Poliglota e negociante de obras de arte, Roché, nascido na Paris de 1879, se deteve como jornalista em segmentos como os da criação de peças teatrais, traduções, ensaios e poesias. Foi na calçada da referencial livraria Delamain que, em meados dos anos 50, Truffaut esbarrou na simplicidade defendida nos textos de Roché, e que desbancou o preferido escritor dele, Jean Cocteau.
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Com a bússola de uma "moral ética e nova", o escritor Roché, morto em abril de 1959, que foi amigo de Gertrude Stein, Pablo Picasso e Marcel Duchamp, fabulou na literatura um caso vivido com Franz Hessel e a esposa deste, Helen, enredo transposto por Truffaut para a telona no clássico Jules e Jim — Uma mulher para dois (1962), incluído na mostra Truffaut por completo. A ser exibido nesta quarta (17/12), às 20h30, o longa As duas inglesas e o amor vem ancorado pelo miolo do segundo livro do septuagenário autor Roché e será precedido pela exibição de A história de Adéle H., de origem literária, e que conta bastidores do drama da filha de Victor Hugo (criador de Os miseráveis). Hoje (16/12), a mostra Truffaut traz Atirem no pianista (às 18h30) ; enquanto A sereia do Mississippi será mostrado às 20h20.
