Crítica // Filho de boi ★★
O cinema brasileiro tem um apego regular com a arte circense. Antes mesmo dos filmes encabeçados pelos Trapalhões, e mais ainda, depois, exemplos não faltam: Bye bye Brasil, O grande circo místico, A mulher do atirador de facas, Jonas e o circo sem lona, Circo mágico Nelson e Os pobres diabos. Fixada no sertão da Bahia, a trama de Filho de boi segue a tradição. Sem muita festividade e leveza, o longa assinado por Haroldo Borges fala do rito de crescimento do tímido e introvertido João (João Pedro Dias, talento pinçado de Juazeiro), empenhado em atravessar situações de resistência e enfrentamento.
Inseguro, ele faz lembrar alguns dos tipos enfileirados no recente filme do Nordeste Sem coração. Solitário, sofre regulares sessões de humilhação e bulling, em que tem o pai associado ao termo corno, demais pornografias, e, sem piedade, é aconselhado a voltar "para o seu curral". Depois de um entrosamento pouco convincente com a trupe de circo que passa pela cidade interiorana, João tem a limitada relação com o pai, vivido por Luiz Carlos Vasconcelos (Abril despedaçado), colocada à prova. A entrada de João no picadeiro é muito abrupta, e, a bem da verdade, ele não parece nutrido de muito talento. Como em muitos filmes que exploram a plasticidade das paisagens naturais e amplas, até certo ponto, pesa a atmosfera encantatória, mas é pouco para sustentar um filme.
Vencedor do prêmio de público no Festival de Málaga (Espanha) e de um prêmio mexicano conjugado aos resultados técnicos, em Guardalajara, o filme se rende ao excesso de citações, que fazem ecoar de Boi neon a Central do Brasil. Avacalhado, e com lacuna na questão da maternidade, a João restará um nariz vermelho de palhaço e a empatia do acolhedor amigo Salsicha (o talentoso Vinicius Bustani).
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