Como parte da programação da Temporada França-Brasil 2025, a exposição Nego fugido, memórias quilombolas leva ao Museu Nacional da República e à Aliança Francesa um ensaio do fotógrafo italiano Nicola lo Calzo sobre uma manifestação cultural do Recôncavo Baiano. Entre 2022 e 2024, Calzo fotografou a encenação do Nego fugido, realizada todo domingo do mês de julho em uma comunidade de Salvador.
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Com cerca de 50 fotografias, Calzo mostra detalhes dessa manifestação dedicada a performar uma prática comum na região que retoma memórias da escravização no Brasil. A encenação retoma histórias que começam no momento em que homens e mulheres eram capturados na África, passando pela deportação para o Brasil, a escravização e as tentativas de fugas.
A pesquisa de Calzo começou como parte de um projeto desenvolvido na Escola Nacional de Arte de Paris sobre a memória da escravidão ultra Atlântico. “Viajei entre África, Américas do Norte e do Sul e Caribe, nos últimos 15 anos, para fazer esse projeto. É um trabalho colaborativo com os quilombolas do Recôncavo Baiano. O que tento fazer é interrogar, por meio da imagem, sobre as práticas contemporâneas que contam a resistência à escravidão e como são utilizadas hoje também como meio de resistência”, explica o fotógrafo.
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O Nego fugido é uma encenação transmitida de geração em geração até os dias de hoje. “A encenação trata da liberação de pessoas escravizadas em razão de suas próprias lutas. É uma espécie de contranarrativa em relação ao relato oficial. É algo que funciona como uma contestação das narrativas oficiais relacionadas à memória da escravização. É também um espaço político que permite à comunidade defender a relação com a terra, com os ancestrais e até com a ecologia”, explica.
Serviço
Nego fugido, memórias quilombolas
Exposição de Nicola lo Calzo. Em cartaz no Museu Nacional da República até 6 de outubro e, na Aliança Francesa, até 7 de setembro
