
Nahima Maciel
Uma ideia nascida durante a pandemia para celebrar o centenário do nascimento de Clarice Lispector em dezembro de 2020 acabou suspensa pela pandemia de covid-19 e, somente agora, sobe aos palcos da cidade. Idealizada pelo compositor e dramaturgo Marcus Mota e em cartaz a partir deste sábado (6/12) no Teatro Mifásol-Lá, Clarice(a)nas é um misto de teatro, recital e espetáculo de artes visuais, uma costura de imagens, texto e música que procura explorar a obra da autora de forma sensorial.
O espetáculo tem como base um recital de piano durante o qual é tocada a suíte Clarice(a)nas, composta por Mota. "Escrevi umas obras a partir de textos de Clarice e a gente integrou a esse recital projeções especialmente criadas para o espetáculo", explica o diretor. "Então vai ter texto de Clarice e texto que escrevi no processo criativo. É uma mistura de recital com música, literatura, artes visuais e teatro." Assinadas por Alexandre Rangel, as projeções dividem o espaço com a atuação da atriz Camila Guerra, que interpreta os textos em linguagem de sinais e encena as composições de Mota.
O diretor teve a ideia de montar o espetáculo durante a pandemia, logo no início de 2020, para celebrar os 100 anos de nascimento da autora. Comemorações estavam previstas por todo o Brasil, mas a maioria foi cancelada por causa das medidas restritivas para conter o novo coronavírus. "Todo mundo no lockdown e começou a circular com intensidade aquela entrevista da Clarice para a TV cultura, feita em 1977. Ela não sabia, mas já estava com câncer e deu a entrevista como testamento para ser veiculado depois da sua morte", conta o dramaturgo. "Ela estava cansada e aquilo virou meio que uma imagem da Clarice, meio triste."
Mas Mota queria uma outra imagem da escritora. Ao se deparar com a entrevista, ele começou a ler a história da autora e refez a transcrição do áudio. "E tinha muita coisa errada", conta. "Comecei a me aprofundar e comecei a ver outros aspectos da Clarice, a Clarice pintora, a Clarice com o piano, na máquina de digital", lembra.
Todos esses aspectos foram levados para Clarice(a)nas. O objetivo do espetáculo é fazer uma imersão multissensorial e, ao mesmo tempo, trazer essa a de uma Clarice plural, múltipla, que não é só abstrata, melancólica. "Ela era muito irônica, tinha outra relação com a vida. As pessoas tentam igualar pensamento a sofrimento, porque acham que pensar doi, e toda pessoa que é reflexiva é triste. Mas não é assim. Clarice tinha um cômico sério. É isso que a gente tenta celebrar, em vez de reduzir uma mulher ao sofrimento. Ela é tudo, pode tudo", avisa o diretor.
Serviço
Clarice(a)nas
Diretor: Marcus Mota. Com Gisele Pires (piano) e Camila Guerra (atriz). Sábado (6/12), domingo (7/12) e terça (9/12), às 20h, no Teatro Mifásol-Lá (CRS 503, Bloco C, Loja 49 – Entrada W2 Sul). Ingressos gratuitos

Diversão e Arte
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