agronegócio

Brasil quer produzir mais fertilizantes e diminuir a dependência externa

O presidente Lula inaugurou ontem o complexo que deve fabricar 1 milhão de toneladas do produto por ano. Atualmente, o agro brasileiro depende em 80% da importação de países como a Rússia que, por causa da guerra, dificulta o envio

Presidente Lula cumprimenta o CEO para América do Sul da EuroChem, Gustavo Horbach. Empesa inaugurou fábrica de fertilizantes em MG  -  (crédito:  Foto: Ricardo Stuckert / PR)
Presidente Lula cumprimenta o CEO para América do Sul da EuroChem, Gustavo Horbach. Empesa inaugurou fábrica de fertilizantes em MG - (crédito: Foto: Ricardo Stuckert / PR)
postado em 14/03/2024 03:54

Serra do Salitre (MG) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu início ontem à sua rodada de viagens mirando o agronegócio. Em Serra do Salitre (MG), o mandatário participou da inauguração do Complexo Mineroindustrial da EuroChem, empresa europeia que abriu no Brasil sua primeira mineradora fora do continente. O empreendimento deve impulsionar a produção brasileira de fertilizantes e, de quebra, reduzir o preço do insumo para o agro.

Em seu discurso, Lula fez fortes acenos ao setor e declarou que o Brasil será o "celeiro do mundo" no futuro, seja em produção de alimentos, seja em energias renováveis. Ele argumentou ainda que não se pode "desvalorizar as commodities", mesmo com a vontade do governo de investir na reindustrialização. O complexo inaugurado ontem representa investimento de US$ 1 bilhão no país, e deve produzir 1 milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados por ano, 15% da produção total brasileira.

O chefe do Executivo também destacou a necessidade de tornar o país autossuficiente em fertilizantes, já que 80% do insumo é importado hoje em dia. "Se o Brasil, Fávaro, é um país agrícola, quase que imbatível hoje pelo alto grau de investimento em ciência e tecnologia, em genética, por que que a gente não é pelo menos autossuficiente na produção dos fertilizantes que nós precisamos?", discursou, dirigindo-se ao ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, também presente.

Apenas a guerra entre Rússia e Ucrânia, para o presidente, levantou a preocupação sobre os fertilizantes. Em 2022, com o início do conflito, o envio dos produtos pela Rússia - maior exportador para o Brasil - ficou ameaçado. Lula também citou que o Brasil fechou fábricas de fertilizantes no passado, como a de Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, por conta de um "complexo de vira-lata", acreditando na qualidade superior dos importados.

"Não existe arma de guerra mais importante na face da Terra do que o alimento. Porque o alimento é a sobrevivência de todas as criaturas vivas", enfatizou. O mandatário argumentou ainda que o país caminha para ser o "celeiro do mundo" não apenas na produção de alimentos, mas também de energia renovável. "É verdade também que a gente não pode desvalorizar as commodities, porque a gente sabe o quanto de tecnologia tem em um grão de milho, em um grão de soja", afirmou. Citando a cafeicultura mineira como exemplo, o petista também pediu por um "salto de qualidade" no agronegócio. Segundo ele, em vez de apenas produzir os grãos, é preciso também investir no produto final, já processado e torrado.

Também estavam presentes o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviço, Geraldo Alckmin, e os ministros Rui Costa (Casa Civil), e Alexandre Silveira (Minas e Energia), além do governador de Minas Gerais, Romeu Zema — adversário político do governo federal. Empresários da EuroChem também discursaram.

Subprodutos

Além de um milhão de toneladas de fertilizantes por ano, será produzida a mesma quantidade de ácido sulfúrico e 240 mil de ácido fosfático, subprodutos também utilizados para a fabricação dos produtos. Ao todo, a expectativa é de que a empresa empregue 1.500 pessoas, de forma direta e indireta, além de 3.500 empregos diretos gerados durante a construção do complexo, que tem uma área próxima a 20 milhões de m², incluindo barragens. Em novembro passado, o governo aprovou o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), que tem como objetivo atender, em 2050, entre 45% e 50% da demanda por fertilizantes com a produção nacional, reduzindo a dependência do mercado externo.

Em sua fala, sem citar exemplos, Silveira mandou um recado para outras grandes mineradoras: para que produzam no Brasil. "É irresponsável o que, infelizmente, temos por parte das grandes mineradoras no país. É inaceitável que algumas fiquem 50 anos com os direitos minerários sem explorá-los", frisou o ministro. O discurso ocorre em meio à tensão entre o governo e a Vale, incluindo críticas por mais investimentos por parte da empresa. Para ele, mineradoras deixam de produzir efetivamente e gerar empregos. "Isso tudo acontece para algumas mineradoras que especulam fazerem reserva de mercado. Isso tem, e vai, acabar", assinalou.

O diretor global da EuroChem, Oleg Shiryaev, também discursou e falou sobre a importância do Brasil para a companhia, sendo um dos maiores mercados agropecuários do planeta. "A EuroChem é uma das empresas líderes globais na produção de fertilizantes, com mais de 20 milhões de toneladas por ano. Mais de um terço disso vem para o Brasil", explicou Shiryaev. "Com essa inauguração, o Brasil não será só um consumidor dos nossos produtos, mas também produzirá mais de um milhão de toneladas de fertilizantes por ano", emendou.

 

 

*Vinícius Doria viajou
a convite da EuroChem

 

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