Fritura

Semana termina ruim para Jean Paul Prates, presidente da Petrobras

Saiba porque aumentaram as especulações sobre a saída do comando da empresa. Entre os prováveis sucessores, está Aloizio Mercadante

Há menos de um mês, Lula tentava aparar arestas na Petrobras. Mas as rusgas entre Prates e o ministro Alexandre da Silveira continuam -  (crédito:  Ricardo Stuckert/PR)
Há menos de um mês, Lula tentava aparar arestas na Petrobras. Mas as rusgas entre Prates e o ministro Alexandre da Silveira continuam - (crédito: Ricardo Stuckert/PR)
postado em 05/04/2024 03:56

Os rumores sobre a saída de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras ganharam força ontem, ressoando em uma grande volatilidade no mercado. O desgaste entre o atual CEO da petroleira e integrantes do governo é antigo, desde o início do governo, e tornou público o desalinhamento entre o comando da estatal e as pastas da gestão.

No governo, o dia foi de silêncio, com a ausência de declarações oficiais do Planalto, das Minas e Energia ou da Fazenda. Mas, nos bastidores, a saída de Prates é, cada vez mais, dada como certa. Uma das principais críticas em relação à sua gestão é de que ele toma decisões sem consultar o governo, especialmente o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil, Rui Costa, responsável pela articulação e coordenação das atividades do Executivo federal.

Há também uma percepção de que o ex-senador do PT não está conseguindo ter um papel de liderança à frente da empresa. Os atritos se intensificaram nas últimas semanas, a partir do debate sobre distribuir ou não os dividendos extraordinários aos acionistas. Enquanto Silveira propôs reter 100% dos ganhos extras, Prates tentou uma solução que agradasse ao mercado e à União, retendo apenas metade dos proventos para reserva e distribuindo a outra metade.

Ontem, nas redes sociais, Prates ironizou as especulações sobre sua substituição. Dando a entender que seguirá no cargo, ele publicou no "X", o print de uma conversa do WhatsApp, sinalizando que sairia quando terminasse o expediente, mas voltaria no dia seguinte. "Jean Paul vai sair da Petrobras?", pergunta um interlocutor na conversa, em referência aos rumores da perda do cargo. "Acho que após às 20h02. Vai para casa jantar... E amanhã às 7h09 ele estará de volta à empresa, pois sempre tem a agenda cheia", responde a pessoa à qual foi feita a pergunta, provavelmente um assessor, indicando a permanência no cargo.

A decisão sobre o novo destino de Prates estava prevista para depois das eleições municipais, mas a situação já é vista como incerta. Apesar do fogo cruzado, a substituição também não deve ser imediata. Ontem, falava-se que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva receberia o CEO hoje, mas a reunião não constava da agenda presidencial até o fechamento desta edição.

Um dos cotados pelo governo para assumir o cargo seria o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloízio Mercadante, que, por sua vez, seria substituído pelo ex-ministro do Planejamento e da Fazenda do governo Dilma Rousseff e, hoje, diretor de Planejamento do BNDES, Nelson Barbosa.

Precificação

A avaliação, entre analistas, é de que a repercussão negativa sobre a decisão do governo de reter os dividendos somada à saída de Prates poderiam ter um impacto negativo ainda maior sobre a petroleira. "O mercado já teme, há algum tempo, a interferência na empresa, e agora já vê que a Petrobras vai virar um departamento de Estado, um braço do governo. Com a possível indicação do Mercadante, já se espera que ele vá fazer um limpa colocando nomes alinhados ao governo, então o mercado está bem receoso", avaliou Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos.

Diante do "risco iminente" mapeado pelos investidores, voltou a se falar sobre a privatização da empresa, apesar de ser quase impossível de ocorrer por iniciativa do atual governo. "A Petrobras tem sofrido ingerência política ao longo dos anos, principalmente devido à sua condição de empresa estatal. Isso se manifesta através de indicações políticas para cargos de liderança, interferência nas políticas de preços dos combustíveis e direcionamento de investimentos de acordo com interesses políticos de curto prazo", comentou Fábio Murad, sócio da Ipê Investimentos.

O economista fez uma correlação com a Eletrobras, que reportou lucro recentemente. "A Petrobras poderia seguir o mesmo caminho de privatização, especialmente se houver indícios de que a gestão privada poderia melhorar sua performance financeira e operacional. No entanto, é importante garantir que a privatização não resulte em monopólios privados que explorem os consumidores", acrescentou.

FUP defende

Em nota, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) criticou o que chamou de "processo de espancamento público", sofrido por Jean Paul Prates. "A FUP reconhece a atuação da gestão Prates em busca do fortalecimento da Petrobras como promotora de investimentos, capazes de contribuir para a geração de emprego e renda dos brasileiros", diz a nota.

"Destacamos que o presidente da Petrobras restabeleceu o diálogo com a categoria petroleira e promoveu o início da implementação de uma nova e importante política de melhoria das condições de vida do trabalhador brasileiro, como o fim da nociva política de preço de paridade de importação (PPI)", finalizou a federação, que disse que acompanha o desenrolar dos acontecimentos.

Além de político, Prates é empresário, com mais de 30 anos de atuação no setor de petróleo e gás.

 

Volatilidade

As ações da Petrobras passaram por forte oscilação ontem, diante das incertezas relacionadas aos rumores de troca de presidente, nesta quinta-feira (04). Os papeis da estatal (Petr4) abriram a sessão da Bolsa com leve alta, cotada a R$ 38,47; ao longo do dia caíram, chegando a R$ 37,43; depois voltaram a subir, atingindo o valor máximo de R$ 39,48. Encerraram o dia em queda de 1,4%, a R$ 37,88.

Primeiro, o mercado reagiu mal aos rumores de que o atual presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante. O economista petista provoca o temor de que haja ingerência política na gestão da estatal.

Diante da informação divulgada pela colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, de que o governo concordou em distribuir aos acionistas dividendos extraordinários retidos no mês passado, o humor do mercado virou, elevando o valor das ações. Segundo a jornalista, o pagamento foi acertado na reunião de quarta-feira entre os ministros Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Fernando Haddad (Fazenda).

Em entrevista após a reunião, Haddad havia informado que o tema foi o plano de investimento da Petrobras, e que a decisão sobre os dividendos decorreria de uma definição da estatal sobre o plano. Segundo o ministro, o conselho da Petrobras aguardava "informações finais" da diretoria da estatal para decidir sobre como prosseguir com o plano de investimentos e com a distribuição dos dividendos.

A jornalista escreveu que Costa e Silveira, contrários ao repasse do montante aos acionistas, aceitaram os argumentos de Haddad, favoráveis à distribuição dos recursos. O tema, no entanto, ainda seria analisado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que decidirá com base na análise dos riscos para a execução do plano de investimentos da estatal.

Dividendos

No final do dia, a Petrobras publicou uma nota à imprensa, na qual afirma que "não há decisão quanto à distribuição de valores referentes aos dividendos extraordinários". O documento recorda que a decisão de não distribuir foi oficializada em uma reunião do conselho da estatal e que nova decisão em contrário só pode ser deliberada pelo conselho.

"Conforme Fato Relevante de 07/03/2024, o Conselho de Administração (CA) da Petrobras propôs à Assembleia Geral Ordinária que o valor de R$ 43,9 bilhões referente ao lucro remanescente do exercício de 2023 seja integralmente destinado para a reserva de remuneração do capital. A competência para aprovar a destinação do resultado, incluindo o pagamento de dividendos, é da Assembleia Geral de Acionistas, que será realizada no dia 25/04/2024", diz a nota.

Os dividendos são a parcela do lucro que uma empresa passa aos acionistas. Em março, a companhia distribuiu apenas o mínimo de R$ 14,2 bilhões previstos na Lei das Sociedades Anônimas.

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