Pnad contínua

Renda do brasileiro aumentou, mas a desigualdade continua gigante

Rendimento do brasileiro melhorou, ajudado, especialmente, pelo Bolsa Família. Mas a diferença entre ricos e pobres é grande

A desigualdade foi escancarada em um novo recorte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) -  (crédito:  Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
A desigualdade foi escancarada em um novo recorte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) - (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)

Os 40% mais pobres da população brasileira têm rendimento mensal 39,4 vezes menor do que o grupo do 1% mais ricos do país. A desigualdade foi escancarada em um novo recorte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O rendimento médio mensal real domiciliar per capita — ou seja, a renda média de um domicílio dividida pelas pessoas que lá habitam — do 1% mais rico foi de R$ 20.664 em 2023, um aumento de 13,2% em relação ao valor observado em 2022 (R$ 18.257). Já o rendimento médio mensal dos 40% mais pobres foi, em média, de R$ 527 no ano passado. O valor representa uma alta de 12,6% em relação ao número registrado em 2022 (R$ 468).

Segundo o analista da pesquisa, Gustavo Geaquinto, essa discrepância é resultado de um aumento maior do rendimento entre os trabalhadores mais bem remunerados ante aqueles na base do mercado. "Chama atenção, nesse movimento, o avanço do rendimento entre os trabalhadores com ensino superior completo, quando considerado o grau de instrução, e entre os empregadores, quando a referência é a posição na ocupação", ponderou.

A renda média do 1% mais rico não cresceu só sobre a dos mais pobres como também foi maior, inclusive, que a média nacional — no Brasil, o rendimento médio subiu 11,5% entre 2022 e 2023, o maior valor da série histórica de pesquisa.

  • ECO-Rendimento medio
    ECO-Rendimento medio Valdo Virgo/CB/D.A Press

O rendimento médio mensal domiciliar per capita do Brasil chegou a R$ 1.848 em 2023, maior valor já apurado no país. O recorde anterior havia sido registrado em 2019, ano que precedeu a pandemia da covid-19. A pesquisa, intitulada Rendimento de todas as fontes, apura todas as fontes de renda além das provenientes do trabalho, por exemplo, aposentadoria e pensão, aluguel e arrendamento, pensão alimentícia, doação e mesada de não morador.

Geaquinto afirmou que houve um aumento da massa de rendimento do trabalho, mas destacou os programas de transferência de renda do governo, que impulsionam a média. "No último ano, houve um aumento importante da população ocupada, ou seja, muita gente que estava fora do mercado de trabalho, sem renda do trabalho, e foi reinserida. No entanto, o rendimento do trabalho cresceu a uma taxa mais elevada na classe dos 10% da população ocupada de maior renda", destacou.

"Por outro lado, também houve um crescimento considerável dos rendimentos de outras fontes, sobretudo da rubrica outros rendimentos, que inclui os programas sociais. Isso beneficiou fortemente a população de menor renda. Então houve esse efeito dos dois lados", acrescentou o pesquisador.

Efeito Bolsa Família

O valor médio do benefício pago pelo programa Bolsa Família, que já tinha aumentado em 2022, na época que ainda era chamado de Auxílio Brasil, também voltou a crescer em 2023. "Isso refletiu no valor médio dos outros rendimentos, principalmente pelo fato de que o rendimento proveniente do Bolsa Família é o de maior peso na rubrica outros rendimentos", observou Geaquinto.

A pesquisa aponta que o percentual de domicílios beneficiários do Bolsa Família também foi recorde em 2023. No ano passado, quando a nova versão do programa foi implementada, a proporção de domicílios com beneficiários chegou ao maior patamar da série histórica (19,0%). Os maiores percentuais estavam no Norte e no Nordeste.

Para o economista Newton Marques, professor da Universidade de Brasília (UnB), apesar do abismo no rendimento entre os mais ricos e os mais pobres, os dados apontam para uma melhora do quadro com os programas sociais. "A diferença entre os mais ricos e os mais pobres ainda é muito elevada, mas com o programa de redistribuição de renda, como é o caso do Bolsa Família e outros tipos de políticas públicas, o melhoramento da saúde e da educação tem permitido que a classe mais pobre melhore a renda média. Alguns até estavam fora da estatística e passaram a estar no indicador", afirmou.

De acordo com o IBGE, o Brasil tinha 215,6 milhões de habitantes. Desses, 140 milhões tinham algum tipo de rendimento. Isso representa 64,9% da população, a maior proporção registrada pela pesquisa iniciada em 2012.

 

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postado em 20/04/2024 03:54
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