OFENSIVA TARIFÁRIA

"Guerra tarifária vai começar quando eu der uma resposta ao Trump", diz Lula

No Chile, presidente sinaliza abertura ao diálogo e recomenda a empresários brasileiros interlocução com norte-americanos

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Fotografia oficial no Palácio de La Moneda, em Santiago -  (crédito:  Ricardo Stuckert / PR)
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Fotografia oficial no Palácio de La Moneda, em Santiago - (crédito: Ricardo Stuckert / PR)

Após participar de uma reunião de cúpula no Chile, em defesa da democracia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o Brasil não está em guerra tarifária com os Estados Unidos. Segundo o chefe do governo brasileiro, essa situação ocorrerá se o país aplicar medidas de reciprocidade, por exemplo, caso o presidente norte-americano, Donald Trump, "não mudar de opinião".

"Nós não estamos em uma guerra tarifária. Guerra tarifária vai começar quando eu der uma resposta ao Trump, se ele não mudar de opinião. As condições que o Trump impôs não foram condições adequadas", afirmou Lula, que voltou a rechaçar a alegação do líder americano sobre deficits na relação comercial com o Brasil.

Lula disse estar "tranquilo" em relação à crise e elogiou o trabalho do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, e do ministro Mauro Vieira, das Relações Exteriores.

O presidente disse, ainda, que os empresários brasileiros precisam conversar com os americanos, pois os setores produtivos dos dois países são prejudicados.

Em Brasília, Alckmin se reuniu com representantes de big techs para discutir saídas ao tarifaço do governo de Donald Trump. Participaram do encontro representantes de empresas como Meta, Apple, Google e Visa. Também estiveram presentes secretários do Mdic, da vice-presidência da República e do Ministério das Relações Exteriores.

De acordo com Alckmin, a reunião com as big techs foi convocada após os Estados Unidos citarem redes sociais no anúncio das investigações contra o Brasil, pelos Estados Unidos, no âmbito da Seção 301. Para os EUA, instituições brasileiras agiram contra o funcionamento de big techs.

Questionado sobre se o Pix foi abordado na reunião com big techs, Alckmin negou. "O Pix é sucesso absoluto. Elas (as big techs) falaram que defendem Pix para todos", relatou o vice-presidente. Quanto à possibilidade — considerada por Lula na semana passada — de o governo brasileiro taxar big techs, Alckmin negou que a reunião tratou de tributação. "Não tocaram nesse assunto de taxação", pontuou.

Qualidade de acordo

Enquanto os governantes brasileiros mencionam disposição para dialogar, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, afirmou que o país não tem pressa para concluir os acordos antes de agosto — quando as tarifas sobre importações brasileiras entram em vigor. Segundo ele, as negociações comerciais estão avançando, mas a prioridade do governo é garantir a qualidade dos acordos, e não apenas cumpri-los dentro de um prazo.

"Não vamos nos apressar para fechar acordos", disse em entrevista à CNBC. Questionado sobre a possibilidade de adiar a entrada em vigor em casos de negociações avançadas, o secretário afirmou que essa decisão caberá ao presidente Donald Trump. "Veremos o que o presidente quer fazer. Mas, novamente, se de alguma forma voltarmos à tarifa de 1º de agosto, acredito que um nível tarifário mais alto pressionará ainda mais esses países a chegarem a acordos melhores", apontou. 

Bessent não mencionou diretamente o caso do Brasil, que enfrenta a maior alíquota entre os países afetados, de 50%. Ele observou que a União Europeia avançou de forma lenta nas negociações, mas avaliou que o bloco está agora mais engajado no processo.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou, ontem, que manterá o diálogo com os Estados Unidos e não pretende abandonar as negociações. Ele admitiu a possibilidade de a tarifa entrar em vigor, caso não obtenha resposta das autoridades norte-americanas, mas enfatizou que "o Brasil não vai sair da mesa de negociação". "Vamos continuar lutando para ter a melhor relação possível com o maior mercado consumidor do mundo, vamos lutar por isso", disse em entrevista à Rádio CBN. 

Plano de contingência

O ministro afirmou que a equipe econômica já conta com um "plano de contingência" para mitigar os impactos sobre os setores afetados. Segundo ele, a longo prazo, mais da metade das exportações atualmente destinadas aos Estados Unidos pode ser redirecionada a outros mercados. "Em uma situação como essa, a Fazenda se prepara para todos cenários", declarou. 

Haddad também criticou a investigação aberta para apurar um suposto impacto do Pix na economia norte-americana. Ele se disse surpreso com a ação e afirmou que o meio de pagamento brasileiro não tem nenhuma relação com o comércio internacional, o que dificulta a compreensão sobre a investigação. "Como que o Pix pode representar uma ameaça a um império?", indagou.  

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postado em 22/07/2025 04:00 / atualizado em 22/07/2025 06:40
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