CB.Poder

"Os EUA não são mais os donos do mundo", afirma economista

O professor do Departamento de Economia da UnB, José Luis Oreiro, disse em entrevista ao Correio que o Brasil deve ignorar o "ególatra" Trump e se preparar para o pior: um tarifaço em todos os setores

Para Oreiro, a ficha de Donald Trump só vai cair quando os empresários norte-americanos reclamarem dos preços dos produtos brasileiros -  (crédito:  Bruna Gaston CB/DA Press)
Para Oreiro, a ficha de Donald Trump só vai cair quando os empresários norte-americanos reclamarem dos preços dos produtos brasileiros - (crédito: Bruna Gaston CB/DA Press)

Durante entrevista ao programa CB.Poder desta terça-feira (22/7) — uma parceria do Correio com a TV Brasília —, o professor do Departamento de Economia da UnB, José Luis Oreiro, comentou sobre a tarifa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil. Segundo ele, as autoridades brasileiras estão reagindo como mandam as instituições econômicas vigentes no cenário global. 

Em conversa com os jornalistas Carlos Alexandre de Souza e Samanta Sallum, Oreiro disse que o Brasil está sendo fiel às diretrizes da Organização Mundial do Comércio (OMC), herdeira do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT) — feito imediatamente após a Segunda Guerra Mundial e que os próprios Estados Unidos participaram na criação. À época, ficou decidido não haver mais guerras comerciais. “A verdade é que as instituições não estão mais valendo. Infelizmente”, lamentou o economista. 

Oreiro ressaltou também que os Estados Unidos são um mercado importante para a indústria de transformação brasileira, porém principalmente daqueles setores com mais alto valor adicionado e mais sofisticados, impactando muito mais as indústrias nacionais do que o agronegócio. O agrobrasileiro, lembrou o especialista, depende fundamentalmente da China. "Os EUA não são mais o donos do mundo", garantiu o economista. 

A dependência norte-americana dos produtos exportados do Brasil é maior que a brasileira em relação ao mercado norte-americano. “70% do suco de laranja que os americanos importam é do Brasil, sendo que as exportações de sucos de laranja para os Estados Unidos só representam 40% das nossas exportações do produto. Tem uma assimetria aí”, frisou. 

O professor reforçou que as tarifas do "ególatra" Donald Trump ao Brasil foram de teor político, diferentemente do que foi anunciado aos outros países também taxados pelo presidente norte-americano, essas de teor comercial. “Isso é uma intromissão inaceitável de uma potência estrangeira num Estado soberano”, opinou. 

Oreiro disse ainda que Trump pode eventualmente recuar com as tarifas pressionado por empresários, como aconteceu com as taxas impostas aos chineses. “É possível que os empresários brasileiros junto com os empresários norte-americanos consigam pressionar o governo dos Estados Unidos a não aplicar os 50% em setores específicos”, comentou. Para ele, a ficha do republicano só vai cair quando os empresários dos EUA reclamarem dos preços dos produtos brasileiros.

Mesmo assim, o professor do Departamento de Economia da UnB disse acreditar que o tarifaço ocorrerá, talvez com algumas exceções. Na opinião dele, o Brasil deve se preparar para o pior: um tarifaço em todos os setores. Mas relembrou que o país tem condições e experiência em lidar com desequilíbrios econômicos, como, por exemplo, a crise financeira de 2008, popularmente chamada de crise do subprime.

“Todos os países do mundo foram afetados. Tanto os países desenvolvidos quanto os países em desenvolvimento. O Brasil se recuperou rapidamente da crise, muito mais rápido do que os Estados Unidos e os países da União Europeia”, observou. 

Confira entrevista na íntegra:

*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

  • Google Discover Icon
CY
postado em 23/07/2025 17:27 / atualizado em 23/07/2025 17:31
x