
São Paulo — O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reconheceu, nesta segunda-feira (29/9), que a taxa básica da economia (Selic), de 15% ao ano, é elevada, mas que ela condiz com a atual conjuntura de inflação que segue acima da meta, de 3%, com limite superior de 4,5%. E, nesse sentido, ele reforçou que o BC segue buscando o centro da meta, sem buscar desvios para atingir o objetivo principal, e vai permanecer “vigilante, sereno e persistente”.
“Não tem atalho para a política monetária”, disse Galípolo no evento Macrovision 2025, do Itaú BBA, em São Paulo. Segundo ele, a meta da instituição é fazer a inflação convergir em 3%. “Cabe ao BC colocar os juros em patamar suficientemente consistente para trazer a inflação para a meta”, acrescentou.
Na avaliação de Galípolo, os desafios do BC são enormes e o processo para que o indicador de carestia volte para o centro da meta. Ele reforçou o discurso da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) de que os juros devem continuar elevados por um período “bastante prolongado” para que a inflação possa convergir para o centro da meta nos próximos 18 meses, o chamado horizonte relevante monitorado pela instituição.
Conforme dados do Relatório de Política Monetária (RPM), divulgado na última quinta-feira (25), o BC prevê a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acima do centro da meta até o primeiro trimestre de 2028 – último período disponível.
No RPM, o BC reduziu de 2,1% para 2% a previsão de crescimento do produto interno bruto (PIB) deste ano, taxa mais conservadora do que a do Ministério da Fazenda, de 2,3%, e do que a mediana das estimativas do mercado, de 2,16%. “A gente continua precisando manter a taxa de juros no patamar restritivo suficiente para a gente produzir essa convergência para a meta”, frisou.
Durante a apresentação no evento, Galípolo justificou que os juros seguem nesse patamar porque a economia segue resiliente, principalmente o mercado de trabalho, com dados positivos e acima do esperado pelo BC. “Acho que do ponto de vista dos estímulos é preciso considerar que a política fiscal de um governo mais progressiva que tende a estimular um pouco mais o consumo”, afirmou.
O presidente da autoridade monetária ainda reforçou que a taxa de juros atual, mesmo no patamar restritivo, segue reduzindo a atividade econômica de forma gradual e, além disso, o mercado de trabalho segue aquecido e próximo ao pleno emprego.
Em relação aos indicadores de inflação, Galípolo reconheceu que a desancoragem das expectativas do mercado “é algo que nos incomoda bastante”. “Não vai ter uma bala de prata para uma taxa de juros com o mesmo efeito em patamares mais baixos”, disse.
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Galípolo descartou ainda qualquer tentativa de uso das reservas internacionais do Banco Central e reafirmou que tem a maior convicção de que o câmbio flutuante seguirá como um dos principais pilares da política macroeconômica do país. “Temos reservas robustas para responder a qualquer tipo de disfuncionalidade no mercado. Não há nenhum outro objetivo oportunístico para uso dessas reservas”, frisou.
Para o economista e ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, o processo de flexibilização da política monetária deverá ser gradual, independente das surpresas de um índice ou outro que aparecer pelo caminho. “É importante que o BC siga sem se emocionar com indicadores nesse processo”, disse.
Galípolo informou que o BC tem incorporado algum impacto do tarifaço dos Estados Unidos nos indicadores de inflação brasileiro e norte-americano, mas ainda existem incertezas sobre a conjuntura internacional que abrange vários bancos centrais. “Existe uma convicção maior entre os diretores de bancos centrais de que há uma preocupação se os preços estão refletindo esse conflito geopolítico”, destacou.
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