CB TALKS

Plantio direto cresce e aumenta custos para produtores, diz pesquisadora

Estudo do Instituto Escolhas revela que uso de herbicidas cresce junto ao plantio direto de soja desde a década de 1990

A prática de plantio direto cresce no Brasil desde o início da década de 1990, acompanhada pelo avanço no uso de herbicidas. Dados do Instituto Escolhas mostram que, entre 1993 e 2023, ambos os fatores aumentaram de forma proporcional, com média anual de crescimento de 11%, segundo Juliana Luz, gerente de Pesquisa do Instituto.

“Essa prática, de fato, foi revolucionária pro avanço da soja no Brasil, porque o revolvimento de solos como os nossos, tropicais, latossolos, argisolos, eles trazem muita desvantagem. Ele aumenta o risco de erosão, ele faz perder matéria orgânica. Então o não revolvimento é, de fato, uma prática indispensável”, disse a pesquisadora, nesta terça-feira (2/9), durante o CB Talks: A Soja e os Desafios da Transição da Agricultura Brasileira, realizado pelo Correio em parceria com o Instituto Escolhas.

Por outro lado, Juliana destacou que a técnica também traz consequências a longo prazo. Entre os principais problemas, ela mencionou o aumento das plantas daninhas. Segundo ela, há uma relação direta entre a expansão do plantio direto e o uso crescente de herbicidas, o que impacta tanto os custos do produtor quanto a conservação do solo.

Carlos Vieira - Segundo painel do evento A Soja e os Desafios da Transição da Agricultura Brasileira, realizado pelo Correio com apoio do Instituto Escolhas

“O plantio direto, de modo isolado, enquanto prática isolada, ele tem o seu trade-off, ele gera suas externalidades negativas, que é o trade-off perverso de aumento da demanda de herbicidas e do que é prejudicial para a saúde do solo e também para o bolso do produtor, porque aumenta os custos”, sustenta.

Diante disso, a pesquisadora levantou um questionamento em relação ao futuro e à viabilidade da transição do modelo produtivo da soja no Brasil, que foi o tema do segundo painel do evento.

Para ela, o setor agropecuário precisa ir além dos modelos tradicionais para reduzir o uso de herbicidas sintéticos. Juliana citou a meta do Plano ABC+, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que prevê a expansão de 4,5 milhões de hectares do Sistema de Plantio Direto (SPD) e de 8 milhões de hectares em Plantio Direto de grãos.

“Esse novo normal precisa de modelos produtivos, e eu incluo a cadeia de insumos que sejam não só sustentáveis, mas que garantam a rentabilidade e a resiliência do produtor. E para isso dar certo, a gente precisa de compromisso nacional e compromisso público, privado, da sociedade civil, do setor produtivo. E só isso, com compromisso nacional, coletivamente, que é capaz de nos levar para além”, concluiu Luz.

Veja a transmissão: 

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