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Garimpo legal cobra linhas de crédito e capacitação para eliminar uso de mercúrio

O setor organizado sustenta que já adota processos mecânicos e atende à legislação, mas que a falta de incentivo e de financiamento impede o avanço rápido na eliminação do metal

Camboim ressalta que, mesmo cumprindo os requisitos legais, o garimpo regulado ainda é, por vezes,
Camboim ressalta que, mesmo cumprindo os requisitos legais, o garimpo regulado ainda é, por vezes, "punido como se estivesse cometendo um crime" - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

O setor de garimpo organizado busca fortalecer a legalidade e eliminar o uso de mercúrio, mas enfrenta dificuldades devido à falta de apoio e de financiamento, segundo Gilson Camboim, presidente da Federação das Cooperativas de Mineração do Estado de Mato Grosso (Fecomin). A fala foi feita nesta terça-feira (7/10) durante participação no evento Controles sobre o uso de mercúrio e o futuro da extração do ouro, realizado pelo Correio Braziliense, em parceria com o Instituto Escolhas.

Ele enfatizou que a atividade em áreas proibidas, como reservas ambientais ou indígenas, é extração ilegal e um crime que deve ser combatido. Do outro lado, o garimpo legal opera com título minerário e licença ambiental, cumprindo os rigores da lei.

O Brasil, como signatário do Protocolo Internacional de Minamata, tem o objetivo de reduzir e, eventualmente, eliminar o uso de mercúrio, explicou Camboim. A substância é considerada prática, eficiente e reciclável, o que dificulta sua substituição imediata.

Entretanto, ele destacou que as cooperativas já utilizam processos mecânicos em sua extração, como a mesa vibratória, que funciona por meio da gravimetria, e não utilizam mercúrio nesses procedimentos. O processo consiste no bombeamento do material com água, concentrando o ouro em carpetes e calhas até que o metal seja obtido de forma mais limpa.

O presidente da Fecomin ressaltou que estudos em Campinas e nas universidades federais do ABC Paulista, Mato Grosso e Amazonas já trabalham em tecnologias substitutas, como nanopartículas de magnetita e pau-de-balsa.

“Por que não é tão simples assim simplesmente trocar o mercúrio, já que o mercúrio se tornou um item caro e de custo elevado para o garimpo? Porque às vezes o processo é demorado, ele precisa de uma questão de orientação, e tudo que a nossa atividade, até hoje, avançou, além de ter sido com recursos próprios, foi praticamente de forma empírica”, lamentou.

O setor também não possui linha de crédito para financiar a busca por aprimoramento e tecnologia, dependendo dos recursos próprios dos cooperados. Camboim apontou que, mesmo cumprindo os requisitos legais, o garimpo regulado ainda é, por vezes, “punido como se estivesse cometendo um crime”.

O cooperativismo, reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2005 como mecanismo de aprimoramento das atividades econômicas, promove diversas ações, incluindo educação ambiental e a distribuição gratuita de mudas para a recuperação de áreas trabalhadas.

A legalização é vista como o caminho para combater a ilegalidade, mas requer o fortalecimento das áreas passíveis de legalização. Para o futuro, segundo o executivo, o setor busca ter seu produto “valorizado de uma forma diferente”, com valor agregado, o que incentivaria a redução de custos e a eliminação do mercúrio.

“Hoje, a gente tem a nossa produção de ouro, que 90% é exportada; apenas 10% é industrializada. E todos nós que estamos com celular no bolso, estamos com os nossos computadores, precisamos cada vez mais de tecnologia. E aí é que vem o ouro. O ouro não é só a joia que está às vezes no nosso dia a dia”, frisou.

*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro

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postado em 07/10/2025 15:07 / atualizado em 07/10/2025 15:23
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