
O diretor da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi, afirmou que o agronegócio enfrenta “a tempestade perfeita” ao combinar, nos últimos anos, queda expressiva no preço das commodities, perdas climáticas bilionárias e forte restrição de crédito. Ele participou nesta quarta-feira (3/12) do 5º Brasília Summit – Segurança Jurídica no Agro, promovido pelo LIDE em parceria com o Correio Braziliense.
No evento, destacou que a soja, que em 2021 registrava valores próximos de R$ 210 por saca, recuou para cerca de R$ 100 a R$ 110. “Essa queda foi abrupta e permanece até hoje”, disse.
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Lucchi lembrou que eventos climáticos extremos provocaram prejuízos de R$ 732 bilhões entre 2013 e 2024, dos quais 57% atingiram agricultura e pecuária. O diretor chamou atenção ainda para a retração do seguro rural, instrumento que classificou como “a principal ferramenta de mitigação de risco disponível ao produtor”.
Segundo ele, o país reduziu de 14 milhões para 3 milhões de hectares segurados em três anos, o que reduziu a cobertura de mais de 30% para menos de 5% da área plantada. Ele avaliou que a Resolução 14.999 do Conselho Monetário Nacional ampliou a aversão dos bancos ao risco e tornou mais restritiva a concessão de crédito. “O endividamento saiu de 3,54 para 11,4, o maior nível da série histórica. Isso acende uma luz vermelha”, afirmou.
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Lucchi defendeu aperfeiçoamentos em mecanismos já existentes, em vez de mudanças legislativas amplas. Ele citou a necessidade de revisar custos cartoriais, taxas e exigências que encarecem o crédito rural, citando casos em que juros de 6,5% ao ano chegam a 22,5% após cobranças intermediárias. “Você perde eficiência da política pública, especialmente para o pequeno produtor”, disse.
O diretor acrescentou que ajustes na Recuperação Judicial podem melhorar a operacionalidade do instrumento, com revisão de regras sobre bens essenciais, remuneração do administrador e prazos de solução dos processos. “Não há solução única, mas há espaço para aperfeiçoamentos.”
Ao analisar a próxima safra, Lucchi afirmou que a combinação de Selic elevada, retração bancária e redução no apetite dos investidores privados deve manter o ambiente de pressão no campo. Ele mencionou estudo da CNA sobre custos cartoriais que mostrou variação de R$ 174 a R$ 5.700 no registro de crédito de R$ 300 mil, diferença superior a 3.000%.
Para ele, a discussão atual deve buscar alternativas para “tornar o financiamento do agro brasileiro mais funcional”. “O produtor quer investir em tecnologia, mas precisa de condições adequadas de financiamento para conseguir avançar”, concluiu.

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