Juros

Após Copom cauteloso, mercado aguarda sinalizações da ata da reunião

Apesar de a maioria das apostas do mercado passar para um corte dos juros a partir de março, depois de o BC manter discurso duro no comunicado, analistas ainda não descartam totalmente que o início do ciclo ocorra em janeiro

Banco central  -  (crédito: Reprodução/Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Banco central - (crédito: Reprodução/Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, ao manter a taxa básica da economia (Selic) em 15% ao ano pela 4ª reunião consecutiva, na quarta-feira, também manteve o conservadorismo no comunicado, sem dar sinais de quando pretende iniciar o corte dos juros em 2026. A falta de uma sinalização dos rumos da política monetária, incluindo a manutenção do trecho que deixa a porta aberta para alta dos juros, fez o mercado aumentar as apostas em uma queda da Selic apenas a partir de março de 2026. 

Fique por dentro das notícias que importam para você!

SIGA O CORREIO BRAZILIENSE NOGoogle Discover IconGoogle Discover SIGA O CB NOGoogle Discover IconGoogle Discover

Diante do discurso cauteloso do Banco Central, alguns analistas acreditam que, na próxima terça-feira, quando será divulgada a ata da reunião do Copom, poderá haver alguma sinalização de que os juros podem cair ainda em janeiro. Eles argumentam que, como a taxa básica está num patamar bastante elevado, com taxa de juro real (descontada a inflação) em torno de 10% ao ano, há condições que permitem o início do ciclo de flexibilização em janeiro, como a atividade mais fraca e a inflação se acomodando dentro do limite superior da meta, de 4,50%.

De acordo com Eduardo Velho, economista-chefe da Equador Investimentos, será preciso aguardar a ata do Copom, na próxima semana, para bater o martelo dessa confirmação. "Por enquanto, o mercado está dando uma probabilidade maior para início do corte em março, mas janeiro ainda está no jogo. Mas isso vai depender muito da ata, que, de certa maneira, já teve surpresa no passado. Mas, se não houver nenhuma mudança no discurso do que está no comunicado, o mercado vai continuar precificando que a maior probabilidade de queda é em março, que, por enquanto, está em torno de 70% das apostas", destacou. 

Velho reconheceu que a falta de sinalização do BC sobre quando pretende começar a cortar os juros está relacionado, em parte, à piora do quadro fiscal que está entrando no radar dos agentes financeiros. "O mercado está começando a precificar a piora do quadro fiscal, porque ele estava descolado e não estava ligando muito", afirmou. Ele destacou que medidas como a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026 permitindo abatimento da meta fiscal de até R$ 10 bilhões de aporte do Tesouro Nacional aos Correios, estatal que atravessa uma grave crise financeira, têm preocupado os analistas. "A flexibilização da LDO e a falta de clareza sobre a arrecadação para o ano que vem, tendem a agravar o quadro da dívida pública, que vai permanecer elevada. E só agora o mercado está começando a incorporar o risco fiscal", alertou. 

Especialistas ainda destacam que a nova perspectiva do Banco Central para inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deste ano passou de 4,6%, no Copom de novembro, para 4,4%, no de dezembro, abaixo do teto da meta, em linha com as atuais projeções do mercado. E, para o segundo trimestre de 2027 —- considerado o horizonte relevante monitorado pelo Comitê —, a estimativa para o IPCA passou de 3,3% para 3,2%, levemente acima do centro da meta, de 3%. 

Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, ressaltou que, apesar de o Copom manter praticamente o mesmo texto do comunicado da reunião de novembro, "seria uma ótima indicação de que uma queda dos juros estaria descartada". "Entretanto, como o presidente do BC, Gabriel Galípolo, fez questão de ressaltar que o Copom não precisa alterar substancialmente a sua comunicação para proceder uma mudança da política monetária, podemos dizer que essa reunião ainda está no jogo", disse. "Além disso, a queda na projeção, mesmo que na margem, mostra uma convergência para a meta, e a troca de 'suficiente' para 'adequada', vai deixar uma pulga atrás da orelha do mercado", acrescentou.

Leal manteve a expectativa de um corte de 0,25 ponto percentual na reunião de janeiro do ano que vem, pois ele estima que, quando o novo horizonte passar para o terceiro trimestre de 2027, a inflação já estará no centro da meta. "Saberemos se essa possibilidade é factível ou não no Relatório de Política Monetária (RPM) da semana que vem, quando o Banco Central abrirá as suas projeções", afirmou.

Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), também reconheceu que os juros seguem "absurdamente elevados".  "O Banco Central já deveria ter começado a reduzir a taxa básica, porque a desaceleração da atividade é nítida e o ambiente é de inflação mais controlada", afirmou Oliveira.

Na avaliação dele, a economia está, de fato, sentindo o impacto do aperto monetário. "Ele está funcionando na atividade e na inflação. Então, acho que as condições para o BC em breve começar a cortar os juros, nem que sejam lentamente, estão dadas", afirmou Oliveira, em referência aos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicando variação de 0,1%, no Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre do ano, e o fato de o IPCA acumulado em 12 meses até novembro, de 4,46%.

 


  • Google Discover Icon
postado em 12/12/2025 04:28
x