Mercosul-União Europeia

'Agora ou nunca', diz Lula sobre possível acordo com União Europeia

Em fala enfática, presidente adverte que, se não houver a assinatura do acordo na reunião do bloco sul-americano, no sábado, o Brasil será duro. No encontro, Lula irá transferir a presidência para o paraguaio Santiago Peña

A poucos dias da Cúpula do Mercosul, que ocorre no próximo dia 20, os líderes de duas das maiores economias europeias frearam as expectativas para uma possível assinatura do acordo entre os dois blocos em 2025. O presidente da França, Emmanuel Macron, e a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, defenderam ontem o adiamento da decisão final sobre o tema.

O presidente Luíz Inácio Lula da Silva não gostou de saber e prometeu ser duro, caso o acordo não seja concluído no sábado. Lula frisou que se não houver a assinatura do acordo na próxima reunião, o Brasil não validará mais o tratado enquanto o petista for presidente.

"É importante lembrar que essa reunião do Mercosul era para ser no dia 2 de dezembro, eu mudei para o dia 20 de dezembro porque a União Europeia pediu, porque só conseguiria aprovar o acordo com o Mercosul no dia 19. E eu agora estou sabendo que eles não vão conseguir aprovar", discursou Lula durante a reunião ministerial realizada nesta quarta-feira (17/12) na Granja do Torto.

No encontro do sábado, Lula entregará a presidência pro tempore do Mercosul para Santiago Peña, do Paraguai. Depois, o Brasil só assumirá o cargo novamente em 2027.

"Está difícil, porque a Itália e a França não querem fazer por problemas políticos internos. E eu já avisei para eles: se a gente não fizer agora, o Brasil não fará mais acordo enquanto eu for presidente. É bom saber. Faz 26 anos que a gente espera esse acordo. É mais favorável para eles do que para nós", acrescentou.

A expectativa brasileira é de que o acordo seja aprovado pelo Conselho Europeu amanhã e assinado oficialmente no dia seguinte, no Brasil. Porém, líderes europeus já sinalizaram que isso não deve ocorrer. Ainda assim, Lula disse esperar que o tratado seja firmado. Ele ressaltou ainda a importância do acordo como resposta às medidas unilaterais de comércio impostas pelos Estados Unidos, e como forma de fortalecer o multilateralismo.

Ele foi incisivo ao dizer que não avançará com o tratado se o documento não for aprovado agora. "Eu vou a Foz do Iguaçu na expectativa de que eles digam sim, e não digam não. Mas também, se disserem não, nós vamos ser duros daqui para frente com eles, porque nós cedemos a tudo que era possível a diplomacia ceder", enfatizou Lula. Caso o acordo não satisfaça a Itália, o futuro das negociações pode estar comprometido, visto que se quatro países da UE, representando 35% da população do bloco, se oporem, as tratativas comerciais caem por terra. Além de França e Polônia, a Hungria também sinaliza que pode ser contra o acordo.

AFP - Italy's Prime Minister, Giorgia Meloni attends the Atreju political meeting organised by the young militants of Italian right wing party Brothers of Italy (Fratelli d'Italia) on December 14, 2025 in Rome. (Photo by Tiziana FABI / AFP)

Protecionismo

Macron, publicamente contrário ao acordo entre os dois blocos, sobretudo em virtude da pressão do setor produtivo no país, disse que "se houvesse uma vontade de impor o acordo por parte das instâncias europeias, a França se oporia de forma muito firme". A declaração foi feita pela manhã durante a reunião do Conselho de Ministros do país e repassada pela porta-voz do governo, Maud Bregeon.

Já a premiê italiana, que se manifesta menos sobre o assunto do que o francês, disse também durante a manhã que considera "prematuro" a assinatura do acordo. Ela reforçou que é necessário ainda ouvir todos os setores, sobretudo os agricultores, antes de tomar a decisão. "Devemos esperar até que essas medidas sejam finalizadas e, ao mesmo tempo, explicá-las e discuti-las com nossos agricultores", afirmou. Apesar do tom mais duro, Meloni deixou claro que o país não atua contra o acordo e que segue a posição do partido Fratelli D'Italia, que acredita que o texto ainda não é favorável aos agricultores italianos. "Isso não significa que a Itália pretende bloquear ou se opor ao acordo como um todo... Estou muito confiante de que, no início do próximo ano, todas essas condições poderão ser atendidas", acrescentou a premiê.

Salvaguardas

Nesta semana, o parlamento europeu aprovou uma série de medidas que prevêem mecanismos de salvaguarda para o setor agrícola no continente. Produtos mais sensíveis, como carne bovina, aves e açúcar, serão supervisionados e, caso seja constatado um desequilíbrio prejudicial de mercado, a UE poderá aplicar tarifas adicionais. As medidas ainda devem passar pela Comissão Europeia. Além da França e da Itália, a Polônia também não está satisfeita com os termos do acordo, ao contrário da Alemanha, que esperava a concretização das negociações já neste sábado. Havia a expectativa de que a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen marcasse presença em Foz do Iguaçu para assinar os termos junto com os líderes do Mercosul.

 


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