CANDANGÃO

Como os árbitros do Candangão 2025 se preparam para as partidas

Responsáveis por guiar a parte disciplinar do principal torneio do Distrito Federal, eles e elas iniciam trabalhos muito antes de a bola rolar. Há por provas teóricas, técnicas e físicas para minimizar os erros em campo

O elenco dos árbitros do Candangão 2025 -  (crédito: Lucas Bolzan/FFDF)
O elenco dos árbitros do Candangão 2025 - (crédito: Lucas Bolzan/FFDF)

Salas de aula. Lições práticas em campo. Provas de múltipla escolha no computador. Mesmo ocupando função primordial nos campos de futebol, há, no mundo da arbitragem, uma série de detalhes desconhecidos por muitos. Inclusive, para os amantes do planeta bola. Prontos para a estreia do Campeonato Candango, os donos do apito na capital federal utilizam de um vasto rol de capacitações para tecer a melhor preparação possível. Eles separam os uniformes e alinham os relatórios em nome de uma competição bem-sucedida.

Para as autoridades dos gramados, a rotina é intensa muito antes de a bola rolar. A necessidade pelo entendimento das regras do jogo abrange momentos de testagem. Aplicações de provas teóricas e práticas são exemplos. A preparação física, além disso, é tão importante quanto a noção básica da mecânica do esporte.

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Pelos gramados do quadradinho, a premissa é a mesma. Quem garante é Raimundo Lopo, instrutor, assessor, inspetor de arbitragem e observador do VAR da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e da Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL), além de funcionário a serviço da Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF) como presidente da Comissão Distrital de Árbitros de Futebol (CDAF).

Dono de 40 pré-temporadas ao redor do Brasil em diversas unidades da Federação, Lopo é referência em Brasília. Presente em 10 cursos da CBF como aluno, geriu outros dois na posição de coordenador. Fora do Brasil, participou de outros dois, ofertados pela Fifa, também como aluno.

Ao Correio, ele conta sobre o funcionamento da preparação da arbitragem para a capacitação diante de um torneio profissional, como o Campeonato Candango. Na prática, a pré-temporada se inicia na primeira metade de janeiro. Na teoria, porém, data ainda do ano anterior. "Na última segunda, tivemos o segundo dia de aulas teóricas, mas a preparação começa antes. Todos os profissionais de arbitragem precisam estar muito bem cuidados em relação à forma física e às regras do jogo, sempre", explica.

De acordo com Lopo, um árbitro só é devidamente autorizado a entrar em campo caso aprovado nos aspectos físico e teórico do futebol. O primeiro passo após a apresentação oficial acontece em sala de aula. Na Universidade de Brasília (UnB), muitas competências são estudadas. As principais fazem referência a alterações nas regras do esporte e em situações de jogo. Ademais, o estudo do movimento corporal dos jogadores, para interpretação de múltiplos contextos, é, também, fortemente contemplado.

"Filosofia e regra do jogo é algo que cobramos muito. Estudamos o movimento do corpo dos jogadores. Comparamos com outros esportes. Depois, passamos para a parte dos vídeos, para ver quando o movimento é considerado natural, ou não", detalha Lopo. De acordo com ele, a exigência precisa ser, sempre, elevada. "Depois dessa parte teórica, fazemos a avaliação. É tudo feito no Google Forms, em questões objetivas e discursivas. Tem que estar habilitado de todas as formas. Quem não passou, estuda para passar. Só atua nas competições quem estiver apto, físico e técnico", garante.

Antes de entrarem em campo, árbitros do Candangão passam por aulas teóricas
Antes de entrarem em campo, árbitros do Candangão passam por aulas teóricas (foto: Lucas Bolzan/FFDF)

Cuidados

Entre um total de 37 árbitros na nova edição da competição local, estará Maguielson Lima Barbosa, árbitro CBF desde 2018. Em atividade há 10 anos, o juiz natural de Planaltina foi eleito o melhor na função no Candangão de 2024. Marca presença em diversos jogos da primeira divisão do Brasileirão. Na vitória do Flamengo sobre o Criciúma, por 2 x 1, em Brasília, o dono do apito foi ele. Na ocasião, um pênalti foi marcado pelo após o choque de duas bolas dentro da área, com um chute proposital do zagueiro do time catarinense. O lance inusitado chamou atenção e o brasiliense ganhou elogios pelo conhecimento da regra.

Formado em educação física, Maguielson ressalta que, apesar da preocupação com os testes físicos e técnicos, a rotina precisa ser regrada. "Busco sempre fazer os meus trabalhos particulares. Conto com uma equipe que me dá suporte e é composta por preparador físico, nutricionista e fisioterapeuta. Esses profissionais me garantem um acompanhamento diário que me prepara bem para a temporada", conta.

Mesmo após o fim do torneio local, Maguielson explica que os trabalhos continuam durante todo o ano. De acordo com ele, a manutenção dos treinos e das aulas em sala são primordiais para as oportunidades de trabalho continuarem aparecendo, assim como para os profissionais estarem atualizados em relação às regras do futebol, em constante mutação.

"O Maguielson é impressionante. Cursou educação física e participou do processo para se tornar árbitro ao mesmo tempo. Passou em primeiro lugar. Vários do curso dele não conseguiram. Todos recebem o mesmo treinamento, mas não são todos que chegam. O mérito é do árbitro. Eles são as estrelas. Nós (instrutores) somos apenas amuletos", avalia Raimundo Lopo. No Centro de Capacitação Física (Cecaf), localizado no corpo de bombeiros, tanto homens quanto mulheres são testados para garantir que estão aptos a cumprir as respectivas funções dentro de campo. Há, por exemplo, exigências de metas mínimas de tempo.

Exercícios como corrida rápida para dentro da área, piques em diferentes direções para simular contra-ataques, treinamento para impedimento e transição em corrida pelos terços de defesa, meio e ataque do gramado são exemplos. "Além disso, também mantemos as sessões de prática, no Corpo de Bombeiros, em todas as terças e quintas do ano. É possível ver, sempre, alguém por lá, tentando melhorar. Esse aspecto da preparação só é possível ver em Brasília", acrescenta o presidente da CDAF.

Estudo prévio

Em relação ao Candangão, Lopo expõe um padrão seguido por todos os profissionais de arbitragem na preparação teórica para as partidas: o da observação. De acordo com ele, a sucessão de visitas dos árbitros a partidas das equipes envolvidas no torneio ajuda fortemente com o estudo dos modelos de jogo. Assim, consequentemente, com o script a ser seguido em cada uma das partidas.

"Os árbitros estudam todos os times, separadamente. Eles observam como cada equipe joga, como os jogadores se comportam. Isso ajuda a planejar a partida, a decidir a melhor forma de se posicionar no campo", enumera. "Por exemplo, um time que costuma fazer transições ofensivas pela direita, me dará mais facilidade de entender onde precisarei estar dentro do campo durante os ataques desse time. E por aí vai", conta.

Lopo explica que, após a primeira rodada, há maior facilidade de entendimento de questões do tipo. Assim, se torna possível montar uma rede de apoio e de estudos ainda maior entre os árbitros. "Mas não é só isso. É preciso ter noção do que é futebol. É preciso ter interpretação. Ter jogado bola durante a vida, por exemplo, ajuda muito. A compreensão do que é o jogo é fundamental", salienta.

Testes físicos também fazem parte da rotina de pré-temporada da arbitragem
Testes físicos também fazem parte da rotina de pré-temporada da arbitragem (foto: Lucas Bolzan/FFDF)

*Estagiário sob a supervisão de Danilo Queiroz

  • Testes físicos também fazem parte da rotina de pré-temporada da arbitragem
    Testes físicos também fazem parte da rotina de pré-temporada da arbitragem Foto: Lucas Bolzan/FFDF
  • Antes de entrarem em campo, árbitros do Candangão passam por aulas teóricas
    Antes de entrarem em campo, árbitros do Candangão passam por aulas teóricas Foto: Lucas Bolzan/FFDF
Gabriel Botelho*
GB
postado em 17/01/2025 06:00
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