SÉRIE D

Série D: os perrengues encarados por Ceilândia e Capital na luta pelo acesso

No percurso cruel da quarta divisão, Gato Preto e Coruja encaram longas viagens, estruturas ruins e o sonho gigante de ascender no Brasileirão. Lucas do Rio Verde e Cuiabá são considerados os destinos mais crueis

Além do desempenho nos gramados, jogadores da quarta divisão nacional precisam equilibrar uma série de desafios, como voos longos, viagens extensas por estradas e estádios precários -  (crédito: Kleber Sales/CB/DA Press)
Além do desempenho nos gramados, jogadores da quarta divisão nacional precisam equilibrar uma série de desafios, como voos longos, viagens extensas por estradas e estádios precários - (crédito: Kleber Sales/CB/DA Press)

Esqueça a "vida de luxo" ostentada pelos clubes de elite do Campeonato Brasileiro. Na Série D, a dura rotina para cumprir o calendário e evoluir em âmbito nacional desafia os clubes a superar uma série de perrengues. Representantes candangos na última divisão, Ceilândia e Capital lutam contra a logística antes mesmo das batalhas nos gramados. Neste sábado (31/5), o Gato Preto pega o Porto Velho, às 17h, no Aluizão, em Rondônia, em mais um capítulo da aventura de percorrer destinos fora do eixo.

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Se o desafio técnico de sair da última prateleira é complexo pelo modelo de disputa — dos 64 clubes, apenas quatro conquistam o acesso —, acrescente à mistura corres variados. Voos com escalas desgastantes, embarques na madrugada, viagens complementadas por longos trechos de ônibus, falta de estrutura para treinos como visitante, estádios acanhados e com gramados ruins... Todos são ingredientes da amarga receita de dificuldades da quarta divisão.

"A Série D é diferente da A. Tem particularidades e todas estão voltadas à logística. No Ceilândia, eu fico muito atento", destaca Ari de Almeida, presidente do Gato Preto. "Estamos na última divisão. Então, mesmo não devendo, é natural os clubes passarem por alguns perrengues", completa o técnico do alvinegro, Adelson de Almeida. "A infraestrutura não é a mesma de uma Série C ou B em termos de hotel, de alimentação, mas a gente precisa passar por cima disso. É uma condição razoável e até boa de trabalho para buscar os objetivos do clube", explica Gustavo Cartaxo, diretor de futebol do Capital.

Juntos no Grupo A5, alvinegros e tricolores são unânimes sobre os locais mais complexos: Lucas do Rio Verde, sede do Luverdense, e Cuiabá, casa do Mixto. O Ceilândia enfrentou os destinos logo na largada — e encarou até avião emperrado no meio da pista. No primeiro deles, pega-se um voo de manhã e encara-se 400 km de estrada, em um desafio capaz de romper as 12h de deslocamento. "Foi a nossa maior aventura até agora. Tem dificuldade na estrutura de alimentação, mesmo com a CBF pagando", destaca Ari, apontando o trunfo para deixar tudo em ordem: contatos. Na cidade, o Gato Preto treinou em um campo público.

Hoje, o time vai até Porto Velho, local superado pelo Capital. A ida tem voo direto, mas a volta envolve longa escala em Belo Horizonte. "Vamos ficar cinco horas em Confins, esperando. É um pouco massacrante", adverte Adelson. Mesmo cansativa, a programação é sempre a melhor possível. "A logística de uma viagem da Série D é tudo. Quando saiu a tabela, eu tinha trabalhado isso. Então, eu sofri menos", aponta Ari. O Coruja joga no domingo (1º/6), às 15h30, no Estádio JK, contra o Goiânia, mas está atento para planejar os duelos seguintes "Luverdense e Mixto são bem complicados. Estamos vendo a logística. Em Goianésia, treinamos em clube. Não foi fácil", cita Cartaxo.

Atacante do Capital e terceiro maior artilheiro da história da Série D, Wallace Pernambucano reforça os perrengues, mas também consegue rir de algumas situações. "Você pega muitas estrada perigosas. Muitas vezes, chegamos às cidades sem campo para treinar, hotel em condições precárias, mas o futebol é apaixonante. Vivemos tudo isso e ficamos rindo de algumas coisas. São histórias que vamos contar quando pararmos de jogar", reforça. Os problemas são minimizados quando a bola rola pelo sonho de figurar em uma divisão mais elevada do Brasileirão. Para se ter um lugar ao sol, é preciso enfrentar os corres. Ceilândia e Capital sabem disso, a ponto de se fortalecerem em meio ao caos.

 

MP
DQ
postado em 31/05/2025 06:00
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