ESPORTES AQUÁTICOS

Miguel Cardoso estreia no Mundial em Cingapura como caçula dos saltos

Brasiliense de 18 anos vive o primeiro ano na categoria adulta, celebra a estreia "precoce" no megaevento e a adrenalina de competir no high diving

Miguel saltará da plataforma 10m, além dos 27m do high diving -  (crédito:  Bruna Gaston CB/DA Press)
Miguel saltará da plataforma 10m, além dos 27m do high diving - (crédito: Bruna Gaston CB/DA Press)

O caçula de uma delegação de 10 atletas está pronto para oferecer ao Brasil um salto de qualidade durante o Mundial de Esportes Aquáticos, em Cingapura, de 11 de julho a 3 de agosto. Aos 18 anos, Miguel Cardoso conta os dias e as horas para viver, do outro lado do planeta, o capítulo mais importante de uma carreira adulta em desenvolvimento.

Calouro da turma de sete brasilienses dos saltos ornamentais no segundo evento mais relevante do calendário — atrás apenas dos Jogos Olímpicos — Miguel sempre esteve ligado ao esporte. Como um bom brasileiro, tinha tudo para se tornar jogador de futebol. Só que não. A inquietação o levou a uma modalidade na qual o Brasil sequer tem medalha em Olimpíada.

"Desde pequeno, sempre gostei de esportes com muita adrenalina, nunca gostei de ficar na minha zona de conforto. Sempre fui aquela criança que buscava algo que acelerasse meu coração. Conheci o esporte por meio do meu irmão. Ele fazia saltos e, desde pequeno, eu olhava ele treinar e competir. Sempre quis praticar, mas eu não tinha idade. Quando alcancei, comecei a treinar no Defer, de brincadeira, aulinha, até o dia que o Hugo (Parisi) foi na minha escolha, dizendo que haveria seletiva para entrar para a equipe de alto rendimento da UnB", relembra.

Dez anos depois, Miguel colhe os frutos na categoria adulta. Foi muito bem lapidado na base. Em 2023, alavancou o Brasil ao segundo lugar no quadro de medalhas do Campeonato Sul-Americano Júnior de Esportes Aquáticos. Sete das 26 medalhas obtidas pelo país tiveram a assinatura do brasiliense, dono de um ouro, cinco pratas e um bronze.

"Quando eu era menor, não tinha uma grande percepção de futuro. Em 2019, foi a minha primeira competição internacional, quando virou a chavinha da mente, despertou o gatilho de que eu posso, eu consigo. Nunca imaginei que chegaria a um Mundial tão novo como estou. É um feito muito grande para mim", celebra.

Miguel Cardoso treina diariamente em dois períodos no Centro Olímpico da Universidade de Brasília (UnB)
Miguel Cardoso treina diariamente em dois períodos no Centro Olímpico da Universidade de Brasília (UnB) (foto: Bruna Gaston CB/DA Press)

Embora esteja animado, Miguel tem a consciência de que a rotina de conquistas da base pode não se repetir no primeiro ano como adulto. É aí que entra o trabalho muito além do corpo: o acompanhamento psicológico. "Não vou descartar que este pode ser o ano mais importante da minha vida. Essa virada de chave, normalmente, é complicada, porque você sai de uma prova juvenil, nas quais você competia e voltava com 10, 11 medalhas. No adulto, não é mais o mesmo, as provas caem pela metade, a gente se especializa no que nos damos melhor", explica.

"A gente trabalhou bastante a questão da transição (do juvenil para o adulto), principalmente no ano passado, de que não seria a mesma coisa, de que não conseguiríamos estar sempre no topo, o que é normal no início. Um pensamento que ele trabalhava comigo era a troca de categoria como um mar. Depois que você passa a maior onda, vem a calma. Foi o que me ajudou", emenda.

Miguel tem intensa rotina de treinamentos do Centro Olímpico da Universidade de Brasília (UnB). Há dois anos, salta em dois períodos: das 8h às 12h, com pausa para almoço, retorno às 14h e ensaios até 17h ou 17h30.

Não bastasse ser o caçula da turma, Miguel chama a atenção por ser o único brasileiro a competir nos saltos ornamentais e no high diving, modalidade nas qual é preciso saltar de 27m de altura. E há uma curiosidade. A prática mais radical costuma desafiar os mais experientes, entre 35 e 40 anos. O talento do DF está dando uma "cara nova" para as disputas.

"O high diving surgiu de repente. Comecei em 2023, aos 16 anos. No início, era difícil, a ideia não entrava na cabeça. Quando subi a primeira vez, pensei: 'Eu não pulo daqui, não'. Isso foi na parte da manhã. De tarde, eu já estava pulando. A primeira é sempre a pior. Depois, acostuma", relata.

Perguntado se está mais ansioso para encarar os 10m dos saltos ornamentais ou os 27m, Miguel não fica em cima do muro. "Para o high diving, porque são 27m, dá uma acelerada a mais. Não temos onde treinar diariamente, pois não é em qualquer lugar que se acha plataforma".

É muita adrenalina e tensão envolta dos saltos ornamentais do high diving. Porém, há algumas coisas que ajudam Miguel a descarregar as emoções. Antes de competições, o sertanejo toca no fone de ouvido. Crochê também tem sido terapia e o ajuda a exercitar a paciência e precisão. Mas tem um item que não pode faltar na mala para qualquer competição.

"Tenho uma sunga que levo em todas as viagens. Uma das minhas maiores conquistas foi com ela, quando fui campeão sul-americano no meu penúltimo de juvenil. Quando competi usando-a, sempre fui bem. É a sunga da sorte", compartilha.

postado em 06/07/2025 06:00
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