ESPORTES OLÍMPICOS

Boxe do Brasil celebra bom início de ciclo rumo a Los Angeles

Premiado pela modalidade nos últimos quatro Jogos Olímpicos, país testemunha ouros consecutivos de Luiz Bolinha e pódios de Jucielen Romeu e companhia. Reestruturação é alicerce para o Mundial na Inglaterra

Luiz Bolinha está invicto na atual temporada e projeta boa campanha no Campeonato Mundial em Liverpool -  (crédito: Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe))
Luiz Bolinha está invicto na atual temporada e projeta boa campanha no Campeonato Mundial em Liverpool - (crédito: Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe))

Medalhar em quatro edições consecutivas de Jogos Olímpicos não é para qualquer modalidade do Brasil. É natural imaginar que a faça pertença ao vôlei de quadra, de praia ou à vela. Porém, não é de nenhuma delas que falamos. A rotina de pódios tem sido impulsionada nos ringues. Embora tenha deixado Paris-2024 com a sensação de baixa, devido ao bronze solitário de Beatriz Ferreira, o boxe acostumou-se a brindar o país no megaevento. De Londres-2012 para cá, são oito conquistas com braços fortes. O número ensaia ser atualizado em Los Angeles-2028. O início do ciclo rumo à edição cinematográfica da Olimpíada reforça o otimismo.

O projeto visando a terceira edição dos Jogos em Los Angeles poderia ser atrapalho pela perda da maior estrela do elenco. Beatriz Ferreira se despediu da categoria olímpica após a jornada em Paris para dedicação exclusiva às competições profissionais. É aí que entra o trabalho cuidadoso da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe) nos bastidores. Uma reestruturação foi feita nos diferentes níveis para a manutenção dos resultados. Mateus Alves deixou de ser headcoach para assumir a função de coordenador. A função de treinador foi delegada ao cubano Paco Garcia, voz da consciência da Seleção nas Olimpíadas de Atlanta-1996 e Atenas-2004.

A tabelinha entre Mateus Alves e Paco Garcia tem rendido frutos no início do ciclo. O Brasil obteve medalhas em todas as competições que disputou até aqui. Na última etapa da Copa do Mundo, no Cazaquistão, o país fechou a participação com sete pódios e quatro ouros. Invicto, Luiz Oliveira, o Bolinha, é um dos destaques. "Eu imaginava, sim, meu ciclo pós-Paris da forma que está. Saí de Paris com muito mais vontade. De lá para cá, todos os campeonatos que participei, saí com medalha de ouro. A cada campeonato foi uma preparação cada vez melhor", comenta.

O boxe corre nas veias de Bolinha. O pugilista de 24 anos é neto da lenda Servílio de Oliveira, o primeiro medalhista olímpico do Brasil nos ringues, dono do bronze do peso-mosca (51kg) edição da Cidade do México-1968. "O Brasil reconhece. O tempo passa, porém o legado que ele deixou isso jamais será apagado. Isso me motiva muito para manter e melhorar o resultado do nosso país e da nossa família", discursa.

O principal objetivo de Bolinha neste ano é o Campeonato Mundial, de 4 a 14 de setembro, em Liverpool, Inglaterra. Ele ensaia repetir os movimentos do baiano Everton Lopes, único campeão da versão olímpica do torneio, em 2011. "Sinto que o Brasil tem feito um ótimo trabalho e estou muito confinante de que vamos não só manter, mas melhorar a performance. A maturidade e a experiência fazem muita diferença. Estou girando esse ciclo há muito tempo, conheço os atletas, eles me conhecem", destaca.

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Figurinha do álbum do boxe brasileiro nas últimas duas edições dos Jogos Olímpicos, Jucielen Romeu é uma das responsáveis por manter o alto nível do país em meio à saída de Bia Ferreira. Campeã nacional, a pugilista de 29 anos faturou ouro na Copa do Mundo em Foz do Iguaçu (PR), foi à semifinal e ficou com o bronze no Challenge da República Tcheca e assegurou a prata neste mês no Cazaquistão. "Vivenciar essa mudança de ciclo é muito bacana. Acredito que a equipe está como a outra, superfocada, com objetivo muito claro em mente e trabalhando duríssimo", exalta.

Jucielen é o elo entre os últimos dois ciclos e a renovação do boxe olímpico do Brasil. Sonha com o pódio nos Jogos e enxerga positivamente a reestruturação da modalidade. "As mudanças são positivas, treinadores novos surgindo, ótimos, com boa visão, coisas diferentes. Abraçamos e estamos confiantes. Isso que dá dando certo, mantendo o padrão de vitórias."

"É continuar melhorando minha vida, não só como atletas, mas pessoal. Esse meu sonho de medalha olímpica segue muito vivo. Por isso sigo dura e dando o meu melhor, focada nesse objetivo. Espero conquistá-lo em Los Angeles", profetiza Jucielen.

Jucielen Romeu é destaque na equipe feminina da Seleção Brasileira
Jucielen Romeu é destaque na equipe feminina da Seleção Brasileira (foto: World Boxing)

Uma das mentes por trás do sucesso do boxe, Mateus Alves vê saldo positivo. "A saída da Bia (Ferreira) não significa uma queda, mas obviamente substituí-la não é fácil para as atletas que estão, por tudo que ela conquistou, mas temos um grupo consistente, tanto no masculino quanto no feminino. O Keno Marley saiu, mas quem o substituiu, o Isaias, já foi campeão dos torneios. Da mesma forma, a Rebeca, que substitui a Bia. Isso mostra que temos, sim, uma transição", explica o coordenador técnico.

O ex-treinador da equipe nacional estabelece alicerces para a manutenção do bom nível nos ringues. "Nosso pilar continua sendo a equipe olímpica permanente. Todos os atletas morando em São Paulo, seguindo a mesma metodologia com uma comissão técnica. Os pilares são: treinamento forte, continuidade, consistência e cumprir com todo o calendário internacional até chegar em Los Angeles", detalha.

O prestígio brasileiro não se restringe aos resultados. Em março, o país entrou no mapa das grandes competições do calendário internacional ao receber o World Boxing Cup em Foz do Iguaçu (PR). Os resultados nos diferentes setores foram tão positivos que a CBBoxe manifestou o desejo de receber novamente uma disputa. "O Brasil sediou a primeira etapa da World Cup, em Foz do Iguaçu. Foi um sucesso, tanto de público presente quanto de organização. Todos os países saíram daqui muito satisfeitos. Para nós, é importantíssimo, sediarmos eventos, isso fortalece o boxe brasileiro como entidade. Faz com que nossos atletas tenham visibilidade interna também. É sempre positivo", ressalta.

Mateus sonha com desfecho em Los Angeles-2028 melhor do que em Paris-2024. A decepção com o time masculino, vitorioso em apenas dois dos sete combates, transformou-se em preocupação e pressão nos meses seguintes. "Eu não dormi durante 30 dias depois dos Jogos de Paris. Não entrei em rede social, não saí de casa, para entender o que aconteceu."

O coordenador chama a atenção para um paradoxo midiático. Em Tóquio-2020, o boxe tinha pouca visibilidade. Na edição seguinte, havia excesso. "Estamos tentando encontrar um meio-termo, um equilíbrio. Muita mídia para o boxe não faz bem. Nem muita, nem pouca. A gente acredita que isso foi um aprendizado para nós e para eles", analisa.

Há, inclusive, uma pressão do Comitê Olímpico do Brasil (COB) sobre a CBBoxe. "A palavra para mim foi essa, de que sou responsável pelo resultado. Para mim, é uma redenção, é uma questão pessoal. É uma raiva interna que não se imagina. Sou uma pessoa obcecada por resultado, tenho mais de 2.400 lutas como corner de boxe. Minha voz nunca se recuperou por causa disso. São 15 anos na entidade, se eu não ganhar medalha, eu desisto, vou embora", desabafa.

Mateus Alves, de headcoach a coordenador técnico da Seleção Brasileira de boxe
Mateus Alves, de headcoach a coordenador técnico da Seleção Brasileira de boxe (foto: Arquivo pessoal)

 


  • Jucielen Romeu é destaque na equipe feminina da Seleção Brasileira
    Jucielen Romeu é destaque na equipe feminina da Seleção Brasileira Foto: World Boxing
  • Mateus Alves, de headcoach a coordenador técnico da Seleção Brasileira de boxe
    Mateus Alves, de headcoach a coordenador técnico da Seleção Brasileira de boxe Foto: Arquivo pessoal
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postado em 25/07/2025 06:00
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