
Mais jovem presidente entre todas as confederações vinculadas ao Comitê Olímpico do Brasil (COB), Henrique Motta vive, aos 33 anos, uma das semanas mais importantes desde a eleição ao cargo mais alto da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). Nesta quarta-feira (20/8), estende o tapete vermelho, ou melhor, os tablados para a realização do primeiro Campeonato Mundial de Ginástica Rítmica do Brasil, a reunião das principais estrelas da modalidade, no Rio de Janeiro, até domingo (24).
Para o presidente que saiu “do chão” da fábrica, como brincou em entrevista ao Correio durante o Troféu Brasil de Ginástica Artística, Henrique Motta vê o Mundial como oportunidade para mostrar o trabalho de excelência desenvolvido no país nos últimos ciclos e destaca a seriedade para tirar o projeto do papel.
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“Esse é o grande ponto quando se vai fazer grandes eventos, por mais emotivo que seja. O brasileiro tem muito disso, de trazer emoção. Mas a nossa parte como Confederação é trabalhar tecnicamente para fazer um grande evento. Isso a gente vem fazendo muito bem. É o primeiro Campeonato Mundial não só do Brasil, mas da América do Sul. É um marco, mesmo, da modalidade”, celebrou.
Treinada por Camila Ferezin, a Seleção Brasileira competirá no conjunto, com Maria Eduarda Araki, Maria Paula Caminha, Mariana Gonçalves, Sofia Pereira e Nicole Pircio. No individual, as esperanças são Geovanna Santos e Babi Domingos, exaltada pelo presidente. “A Babi é a primeira finalista olímpica do Brasil. O nome da Babi estará sempre marcado para a ginástica rítmica brasileira, como a primeira finalista mundial e olímpica. Além do grande talento, está abrindo portas para diversas outras meninas praticarem ginástica”, celebrou. A seguir, outros tópicos da conversa com o chefão da ginástica do país.
Quais são suas prioridades?
“A minha prioridade é, sem dúvidas, trabalhar para mantermos a ginástica brasileira no patamar em que se encontra hoje, buscando formar novas gerações, tão capacitadas quanto as atuais, não só de atletas, mas de treinadores, equipes multidisciplinares e gestores para que essa cadeia funcione e possamos permanecer no patamar em que estamos hoje, como esporte mais vitorioso do Brasil no último ciclo olímpico.”
Então, manter a ginástica neste patamar não é, necessariamente, só ganhar medalha?
“A medalha é o final do processo, é a consequência de um trabalho realizado ao longo de todo esse processo. Trabalhar pensando na medalha é muito superficial, porque o esporte não é só a medalha. É a prática realizada em todo o país, o número de ginásios de ginástica que você tem, quantas entidades esportivas praticam a ginástica hoje, quantos treinadores têm, quais são os processos de capacitação, o que é desenvolvido no dia a dia, como os atletas são olhados, os clubes pequenos para se desenvolverem e como está tratando a equipe de alto rendimento, que vai te levar à medalha. Quando é feita a gestão de Confederação, que fomenta, administra e desenvolve a ginástica em âmbito nacional, é preciso pensar em todos esses pontos.”
Como se sente nessa condição de ser o mais jovem presidente de Confederação?
“Sou o mais jovem. Acredito que a competência está ligada ao esforço, ao conhecimento e ao quanto você se dedica a esse processo. Fico muito honrado de ocupar essa posição hoje, num processo de muita confiança, porque, além de ser o mais jovem, sou o presidente da modalidade mais vitoriosa do último ciclo olímpico. Fico muito honrado. Fui atleta da modalidade, árbitro, coordenador da CBG, diretor esportivo e, agora, presidente. O caminho até a presidência foi mais rápido do que eu imaginava inicialmente.”
A sua carreira seguiu uma espécie de escadinha. Isso reafirma a sua competência?
"Sempre gosto de dizer que não sou e, sim, estou presidente da CBG. Esse cargo existe na instituição e me preparei para isso. Busquei fazer uma preparação nesse sentido, não só de gestão, mas podendo me comunicar em outras línguas, com outros países. Isso é uma coisa muito importante na comunidade. Entender de ginástica, saber de fato o que acontece aqui. Hoje, sou presidente, mas, por exemplo, dois dias atrás cheguei aqui, olhei para a barra fixa e vi que estava 5cm mais alta e pedi para ajeitarem, só olhando. Por quê? Essa vivência foi muito importante para mim, de vir de dentro do ginásio. Sem dúvida, vir do chão da fábrica, como a gente fala, faz muita diferença dentro desse processo."
“O meu lugar preferido é o ginásio, sem dúvidas. Faço todas as funções, representação, mas o meu lugar preferido é estar aqui dentro.”
A situação financeira da CBG te tranquiliza ou aumenta a pressão?
“Quanto mais a gente ganha, mais a gente que vencer. Tranquilidade, não, mas isso traz uma segurança da possibilidade de desenvolver a modalidade. Sem recursos é muito complexo. O Brasil é o único país de terceiro mundo que compõe os principais da ginástica. A gente só disputa contra grandes potências. Nossos recursos são todos pagos em dólar e em euro. Existe todo um processo que, por mais que exista investimento, ainda é muito desafiador para um país como o Brasil, ultrapassar essas potências, que têm uma cultura esportiva mais antiga e um investimento maior.”
Dificilmente seremos a grande potência?
“Não! Estamos aqui para isso. Apesar das dificuldades, temos um grande investimento, temos muita gente apoiando a ginástica. Trabalhamos para permanecer nesse patamar ou quem sabe aumentar ainda mais. Entendo que são fatos, desafios que temos diante do local que queremos estar, que é o pódio, como foi nos últimos Jogos Olímpicos. Não adianta reclamar, temos que fazer.”
Como quer que a sua gestão seja lembrada?
“Uma gestão humanizada, que entende que as pessoas fazem as coisas acontecerem. Por mais que a tecnologia avance, que tenhamos mega-aparelhos, são pessoas que fazem isso acontecer. As pessoas precisam ser tratadas como pessoas, serem entendidas com as dificuldades e potências que temos. Quero ser lembrado como uma gestão humanizada e vitoriosa.”
Enxerga a CBG como precursora do movimento da participação feminina?
“Entendo a ginástica não necessariamente como precursora desse processo, mas como processo relevante. As mulheres da ginástica ganharam quatro medalhas olímpicas nos últimos Jogos. Sem dúvida, a ginástica tem um papel muito importante dentro desse processo. A CBG tem 70% das colaboradoras mulheres. Temos diversas mulheres dentro do processo, treinadoras, coordenadoras.”
As outras confederações poderiam beber da fonte da CBG?
“As demais confederações também estão trabalhando muito forte no processo de desenvolvimento esportivo nacional. O esporte brasileiro vem crescendo cada vez mais e isso passa pelas confederações. Vejo um movimento muito proativo do esporte brasileiro, de buscar conhecimento. Acredito que o esporte brasileiro está num bom caminho. Ocupamos um lugar importante no cenário mundial, somos reconhecidos como nação esportiva.”
Como a CBG lida com a grande procura pelas modalidades?
“Tentamos dar cada vez mais informações e comunicar melhor onde as pessoas podem praticar e assistir ginástica, como podemos incentivar que mais locais, escolas públicas e privadas, tenham ginástica. Acredito que o papel da CBG é de administrar, fomentar e desenvolver a modalidade em território nacional nas cinco regiões. Por isso, levamos eventos a todos os lugares. O objetivo é exatamente esse, estimular a prática e a prática qualificada, olhando cada espécie, momento, cada coisa precisamos olhar dentro da modalidade.”
Não teremos essas gerações para sempre. O desenvolvimento de preocupa?
“O desenvolvimento é o meu foco. Claro, não é todo dia que nasce uma Rebeca Andrade, um Cristiano Ronaldo, um Messi… É possível nascer e precisamos ter estrutura para isso. Do nosso lado, capacitaremos cada vez mais entidades esportivas, treinadores, atletas para permanecermos ou quem sabe aumentar esse patamar.”
Busca equilíbrio de protagonismo entre as modalidades?
“Dentro da CBG, temos oito modalidades hoje. Em determinados momentos, você tem uma modalidade se destacando e outras, menos. Tem diversos fatores que devem ser analisados para entendermos a situação. Tínhamos uma geração na ginástica artística masculina muito talentosa e que foi muito bem trabalhada nos últimos ciclos olímpicos. Trabalhamos para formar uma nova. Neste momento, o feminino está com maior destaque, mas, no passado, o masculino esteve por muitos anos. Pode ser que a próxima seja a rítmica, o trampolim, a acrobática.”
“Nosso objetivo é fomentar todas as modalidades de forma igualitária, claro as modalidades olímpicas com investimento maios, porque temos recursos que são carimbados nesse sentido. Ter oito modalidades dentro da sua confederação é um desafio, mas também uma oportunidade. A ginástica artística masculina tem muitos países na disputa, muito mais do que a feminina. O feminino é mais concentrado em pelo menos 10. No masculino, você tem um cara bom do Irã na argola. Um bom do cavalo, de Taipei. No solo, um das Filipinas. No feminino, é basicamente EUA, Rússia, China, Brasil, Itália, Grã-Bretanha e acabou. No masculino, você pode ver pódio de qualquer lugar do mundo. Tivemos colombiano medalhista na barra fixa; filipino campeão no solo, irã. Esse processo dificulta um pouco mais.”
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