
São necessários pelo menos R$ 10 milhões para entregar uma pista de atletismo Categoria 2 homologada pela World Athletics (IAAF) ao campeão mundial de marcha atlética, Caio Bonfim, e a uma geração inspirada no brasiliense forjada no Centro de Atletismo de Sobradinho (CASO) no maltratado piso do Estádio Augustinho Lima. Essa é a estimativa de especialistas consultados pelo Correio. Não se trata de maquiar o piso inaugurado em 2008, mas de torná-lo padronizado com certificação internacional para treinos e competições de alta performance. Em 11 de julho, foram liberados pelo GDF R$ 7.248.507,58 para a obra. O circuito faz parte da terceira fase de um série de obras na arena (leia entrevista com o secretário de Esportes Renato Junqueira no fim desta matéria).
Medalhista três vezes em 418 dias nos Jogos Olímpicos de Paris-2024 e no Campeonato Mundial, em Tóquio, com um ouro e duas pratas nos dois eventos de alta performance, Caio Bonfim arrisca ser o anfitrião do Mundial de Marcha Atlética por Equipes, em 12 de abril de 2026, na Esplanada dos Ministérios, sem chão à altura dos pés mais vitorioso do Brasil em mundiais. Dos 19 pódios do país em 20 edições, de 1976 a 2025, quatro foram dele na competição bianual de elite do atletismo.
A reforma do piso do Augustinho Lima virou corrida de obstáculos. A primeira movimentação pela obra veio em agosto do ano passado depois do choque nacional e internacional com as imagens do local no qual o vice-campeão olímpico em Paris-2024 treina. No entanto, houve problemas no edital da licitação. Um deles, relativo à espessura do piso. "As especificações estavam erradas. Falavam em piso certificado e homologado de 10mm, e não existe no modelo poliuretano. Fala em manta de borracha pré-fabricada de SBR que é o piso específico de uma única empresa e que tem dado problema em todas as pistas", explica uma fonte ao Correio. Resultado: o processo seletivo foi impugnado.
Diante do impasse, a reportagem ouviu Manoel Pires. O paulista é certificador homologado pela World Athletics. Representa a entidade no Brasil e avalia os circuitos para a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). "O ideal são 13mm", corrige, com elogios à pista do Augustinho Lima.
"Para mim, ela (pista de atletismo do Augustinho Lima) é oficial. Reformada, com piso novo, que necessariamente é fabricado fora do país, portanto, importado, ela é Categoria 2" Manoel Pires, certificador de pistas de atletismo da World Athletics e da CBAt em entrevista ao Correio
Essa certificação permitiria a Sobradinho abrigar eventos como o Troféu Brasil, campeonatos brasileiros interclubes das categorias sub-16 a sub-23, e a Copa Brasil de Marcha Atlética, por exemplo.
Há poucas firmas de ponta especializadas na construção de pistas no país. Lisonda, Pisosul, Playpiso, Recoma, Resinsa e Soccer Grass são algumas. A preferência dos atletas é pela marca italiana Mondo na cor azul, à base de borracha natural. No entanto, o edital recomenda borracha natural calandrada e vulcanizada (double deck) na cor laranjada.
O modelo Mondo é similar ao da pista do Centro Olímpico da Universidade de Brasília (UnB), inaugurada em 2023 com investimento de R$ 18 milhões. A estrutura recebe os Jogos da Juventude do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Outro circuito de referência na capital é o do Centro de Capacitação Física do Corpo de Bombeiros (Cecaf), no Setor Policial Sul.
Inaugurada em 2008, a pista no Augustinho Lima é considerada ultrapassada. Embora use borracha sintética alemã, começou a apresentar problemas dois anos depois da instalação. Em fase terminal, exibe placas soltas e oferece risco aos atletas. "Tem que tirar tudo. Esse tipo de piso tem três décadas", avalia outro profissional com expertise nesse tipo de serviço.
Há urgência. O Campeonato Mundial de Marcha Atlética será em 12 de abril, na Esplanada dos Ministérios. Faltam seis meses. Os profissionais ouvidos pela reportagem consideram o tempo escasso para entregá-lo aos treinos até março. O estádio seria um dos pontos de apoio para a nata do atletismo na capital do país. A maior preocupação é com a base da pista. Se ela estiver boa, o prazo de troca do piso é de 60 dias, da retirada do velho ao revestimento com o novo. Caso seja necessário começar do zero, no máximo, cinco meses. Conforme o edital, o prazo de execução para a construção da pista de atletismo é de seis meses.
Quatro perguntas para...
Renato Junqueira, secretário de Esportes do Distrito Federal
- Por que as obras na pista de atletismo do Augustinho Lima ainda não começaram?
RJ — Desde o ano passado, nós iniciamos a fase de planejamento da reforma dos nossos estádios. O Augustinho Lima é um estádio que por muitos anos, há décadas, na verdade, tem funcionado de forma precária. Desde a pandemia, há sete anos, praticamente inativo. Do ano passado para cá, nós tivemos que fazer uma intervenção maior nele. Demandou um planejamento maior em três etapas.
- O que já foi feito?
RJ — A primeira etapa, do ponto de vista hidráulico, elétrico, administrativo até a roçagem. Na segunda fase, agora nós já licitamos a parte do gramado com um novo sistema de gramado e irrigação para que a gente já possa entregá-lo, dando certo, já no próximo Candangão (2026).
- A última etapa é a pista de atletismo?
RJ — A terceira fase é com a pista de atletismo. Nos próximos dias nós publicaremos o (novo) edital de licitação. Primeiro se coloca o gramado e depois a pista (de atletismo) para que os caminhões não passem por cima da nova pista.
- Qual é o prazo estimado para a entrega da pista?
RJ — A ideia é que tudo isso seja concluído até o meio do ano que vem, mas a gente quer que a coisa aconteça o mais rapidamente possível para que no Mundial da Marcha Atlética a gente já tenha a pista em condições e sendo reinaugurada lá para a população (de Sobradinho).
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