JUDÔ

Nicole Marques celebra ser a primeira mulher do DF campeã mundial

Lapidado pela Academia Espaço Marques, talento de 17 anos a alegria do ouro no Mundial Jr. de Lima e mira sequência, de olho em LA-2028

Nicole concilia a vida de atleta com a de estudante do 3º ano do ensino médio no Colégio Biângulo de Águas Claras -  (crédito: Anderson Neves/CBJ)
Nicole concilia a vida de atleta com a de estudante do 3º ano do ensino médio no Colégio Biângulo de Águas Claras - (crédito: Anderson Neves/CBJ)

Pouco mais de um ano depois de Ketleyn Quadros e Guilherme Schimidt colocarem no pescoço o bronze por equipes nos Jogos de Paris-2024, o Espaço Marques se orgulha da renovação da linha de produção de talentos e conquistas. Foram os tatames da academia em Taguatinga Sul que forjaram os medalhistas olímpicos na França e inspiraram Nicole Marques, campeã do Mundial Júnior do -52kg em Lima e primeira mulher de Brasília a conquistar um ouro dessa magnitude. De quebra, o talento do quadrado encerrou jejum de 15 anos do país sem título júnior. A última havia sido a gaúcha Mayra Aguiar, em 2010.

Nicole tem 17 anos, é treinada pelo pai, o sensei Robert Marques, e pela mãe, Phillis Marques. O judô é uma herança deles para ela. Porém, nunca impuseram o esporte. Houve a tentativa do balé, havia o gosto pelo futebol, mas os caminhos levaram a flamenguista ao tatame. "Meus pais conseguem deixar esse processo mais leve, agradável de lidar, feliz e mais animado. Meu pai trabalha na parte do judô em si. Minha mãe contribui com a parte física focada para a modalidade. Estão sempre comigo nas competições. Sempre faço questão de que eles estejam comigo, porque adoro vê-los na arquibancada. É essencial", conta.

Lá se vão três dias desde a consagração de Nicole no Mundial Júnior de Judô, em Lima. A brasiliense suportou maratona de cinco lutas contra adversárias de diferentes escolas do judô. Uniu talento e leitura de combate para desbancar a austríaca Carina Klaus-Sternwieser, a cazaque Nurailym Sarsenbek, a espanhola Monica Martinez Morillas, a indiana Nungshithoi Chanu e a venezuelana Leomaris Ruiz na decisão. Detalhe: quatro das adversárias eram mais velhas, entre 19 e 20 anos. Perguntada sobre qual foi o maior desafio na bateria de duelos, ela não titubeia. "A mais difícil, coloco a semifinal e a primeira luta. A primeira tem aquele frio na barriga, de início, de estreia. A semifinal, foi com a Indiana, temos certa rivalidade, porque lutamos outras disputas de medalha, e eu acabei perdendo. Foi minha revanche, tinha um peso maior", compartilha.

Nicole Marques e o ouro no pódio do Mundial Jr.
Compete Brasília, programa do GDF, e Bolsa Atleta impulsionaram a judoca ao ouro mundial (foto: Anderson Neves/CBJ)

A medalha de ouro foi conquistada no Golden Score, a prorrogação dos combates empatados. Porém, o tempo extra não a intimidou. Ela trabalha diariamente para momentos como aquele. "Na academia, fazemos o trabalho para poder chegar no Golden. Se chegar no Golden, a gente dá conta de lidar com ele, tanto psicologicamente quanto fisicamente. Eu estava preparada e não desistiria. Foi o pensamento que tive na hora", destaca.

O sucesso na campanha no Mundial Jr. também é uma resposta aos críticos. A jovem relatou ter recebido críticas nas redes sociais, após a convocação para a competição. Um deles dizia: "Torcerei pela Nicole, porque ela é Brasil. Mas, se ela não ganhou nem o Sub-18 (Cadete), quem dirá o Sub-21?" A brasiliense respondeu da melhor forma: "Deus me honrou".

Os maiores exemplos de Nicole são de "casa", os judocas formados na Academia Espaço Marques. "Eu me espelho muito na Erika Miranda (cinco vezes medalhista mundial nos 52kg), na Ketleyn Quadros, no Guilherme Schimidt e no Matheus Takaki. Cresci com eles. O jeito de lutar, o jeito de se portar fora. No Mundial, a Erika Miranda foi minha técnica. Nunca imaginei que a minha inspiração seria minha de técnica", comemora.

Nicole desembarcou em Lima confiante. Ela vinha de um bronze no Mundial Cadete no mês anterior e atualizou a preparação para a competição de nível mais exigente. "Mudei totalmente a minha rotina. Como eu estava muito bem na escola, pedi um apoio para conseguir conciliar os estudos com treino, pois eu precisava treinar de manhã, à tarde e à noite. Eu estava fazendo quatro treinos por dia, um a mais. Normalmente, fazemos três, porém mais longos. Fiz quatro mais curtos com foco no Mundial e estudando as minhas adversárias."

A carreira de Nicole parece seguir uma escadinha. Bronze no cadete, campeã nos Jogos da Juventude (até 17 anos) e do Júnior, ela mira a Olimpíada de Los Angeles-2028. "Acredito ser possível, pois as meninas contra as quais luto no sênior são muito fortes, mas terei o meu pico de hormônio", comenta. Neste ano, ela competirá as versões adultas do Troféu Brasil em Belo Horizonte e o Brasileiro no Rio.

 


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postado em 08/10/2025 06:00
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