LOS ANGELES-2028

Brasil vive alta dos esportes individuais e queda nos coletivos

Ouros no taekwondo, título de João Fonseca, sucessos de Caio Bonfim e de outras estrelas contrastam com realidades de vôlei e futebol, por exemplo. Especialistas analisam o cenário

 Henrique Marques é o primeiro homem brasileiro campeão mundial de taekwondo -  (crédito:  World Taekwondo)
Henrique Marques é o primeiro homem brasileiro campeão mundial de taekwondo - (crédito: World Taekwondo)

Quarenta e um anos atrás, o Brasil se orgulhou da Geração de Prata do vôlei masculino na Olimpíada de Los Angeles-1984. No passado, também celebrou pódios e pódios dos homens e das mulheres sob as batutas de Bernardinho e Zé Roberto Guimarães. Não esquecemos de "Magic" Paula, Hortência, Janeth e companhia com o inédito ouro mundial, que furou a bolha dos Estados Unidos e da União Soviética no basquete feminino. Oscar "Mão Santa" não fica de fora com a Seleção do passado. Futebol? Éramos conhecidos pela arte e respeitados. Hoje, vivemos um novo normal: esportes coletivos em baixa e protagonismo das modalidades individuais. 

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Não é preciso ir muito longe para justificar o novo normal do esporte brasileiro. No início do mês, a Seleção Brasileira masculina de vôlei, de Bernardinho, caiu pela primeira vez na fase de grupos do Mundial. Na Olimpíada de Tóquio-2020, sob o comando de Renan Dal Zotto, amargou o quarto lugar após a derrota contra a Argentina na disputa pelo bronze. O que parecia ruim ficou pior em Paris-2024, com a queda nas quartas de final para os Estados Unidos. Não ficávamos fora de uma semifinal há 24 anos, ou seja, desde Sydney-2000.

O feminino tem resultados menos constrangedores, mas está em jejum de títulos. O bronze na Liga das Nações desta temporada e a prata no Mundial contra a Itália não saciam. Orquestrado por Zé Roberto Guimarães desde 2003, o vôlei do Brasil não conquista medalha de ouro com elas nos torneios mais relevantes do cenário desde 2017, quando abocanhou o extinto Grand Prix. 

O futebol masculino também preocupa. Fora dos Jogos Olímpicos de Paris-2024. Eliminada por Israel nas quartas de final do Mundial Sub-20 de 2023. Humilhada pela Argentina com goleada sofrida por 6 x 0 no Sul-Americano e despachada novamente do Sub-20 e, pela primeira vez, na fase de grupos, neste ano. A pressão vem do desempenho da versão principal da Amarelinha. Na Copa do Mundo de 2026, o jejum de títulos entre o tri, em 1970, e o tetra, em 1994, será igualado e com possibilidade de novo recorde negativo estabelecido. 

As bolas da vez são as modalidades individuais. Prodígio do tênis, João Fonseca faturou, em fevereiro, o ATP 250 de Buenos Aires e, no domingo, o ATP 500 da Basileia. Os resultados o catapultaram ao 28º lugar do ranking, tornando-o sétimo brasileiro a figurar no top 30 do mundo. Rayssa Leal encanta no skate. Yago Dora conquistou o título inédito da World Surf League e manteve o protagonismo do Brasil, campeão de oito das últimas 11 edições.

Caio Bonfim leva o nome de Brasília e bandeira do país aos lugares mais altos das competições mais nobres da marcha atlética, como no Mundial de Tóquio, há um mês. Os 400m com barreiras se acostumaram com Alison dos Santos, o Piu, entre os destaques. Hugo Calderano mudou o olhar do mundo para o tênis de mesa verde-amarelo. Em 2025, faturou a Copa do Mundo e foi prata no Mundial.

O taekwondo vive uma jornada iluminada com dois campeões do mundo no torneio realizado na China — Maria Clara Pacheco e Henrique Marques. O triatlo tem em Miguel Hidalgo, vice do Circuito internacional, o grande expoente. Isso sem contar Rebeca Andrade (ginástica artística), Isaquias Queiroz (canoagem velocidade), Bia Souza (judô). 

As estrelas dos esportes individuais do Brasil no ciclo rumo a Los Angeles-2028
As estrelas dos esportes individuais do Brasil no ciclo rumo a Los Angeles-2028 (foto: Valdo Virgo/CB/D.A. Press)

Especialistas ouvidos pelo Correio apontam as explicações para essa realidade. Diretor de esportes olímpicos e membro da Geração de Prata do vôlei em Los Angeles-1984, Marcus Vinícius Freire enxerga a queda dos times e ascensão das disciplinas individuais naturais no início de novo ciclo. "Quase todos os esportes coletivos do mundo inteiro fazem transição de geração. É normal os coletivos testarem muito mais gente. O Bernardinho e o Brasil, pela primeira vez, foram eliminados na fase de grupos do Mundial, assim como a França. É um ano em que isso acontece com frequência", analisa. 

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Para o dirigente rubro-negro, as modalidades "solo" têm o benefício de um calendário intenso e sequência de competições. "É exatamente o oposto. O individual não para, há sempre uma tentativa de continuar, porque a substituição ocorrerá. No individual, é importante porque são projetos segregados. Você não vê um grande trabalho. Você vê bons atletas que fazem uma evolução e continuam naquele formato de treino e competição. O importante para eles é competir entre os melhores e, com a manutenção do financiamento. O individual com a continuidade você vai sempre melhorando resultados, diferentemente da troca de geração dos coletivos", destrincha. 

Presidente do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC), com mais de 1.800 instituições filiadas, Paulo Maciel rechaça a diferença no tratamento entre as modalidades. "O protagonismo das individuais não é uma lacuna deixada pelos coletivos, mas sim o resultado de políticas esportivas estruturantes e contínuas de investimento dos diversos atores e entidades que compõem o esporte brasileiro. No CBC, por exemplo, não há diferença de modelo: nossa política é 'Universalizar a Formação de Atleta'", destaca. 

Chefão da World Surf League para a América Latina, Ivan Martinho se orgulha da modalidade na crista da onda com protagonismo brasileiro e acredita que os coletivos podem aprender com a entidade. "Um ponto fundamental é a gestão de liga independente, com formato padronizado, calendário bem definido e uma narrativa que conecta as etapas entre si. O surfe mostrou que é possível criar relevância sem depender de grandes centros urbanos ou estruturas tradicionais. Com gestão moderna, identidade clara e conexão com a cultura local, o esporte se transforma em plataforma de impacto", ressalta o presidente. 

Judoca campeã olímpica em Paris-2024, Beatriz Souza acredita que esse é apenas um momento do esporte brasileiro. "É um processo. Ninguém vive momentos ruins por muito tempo. Há um equilíbrio, são fases, temos muitas transições acontecendo, com galera nova evoluindo e indo para o adulto. Fica essa mescla de grandes experiências com os mais novos. Acredito que isso pode impactar de alguma forma na construção de equipes. Conforme o tempo vai passando, vão se entrosando, e os resultados acontecendo", observa. 

 


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postado em 28/10/2025 06:00 / atualizado em 28/10/2025 10:33
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