COPA DO MUNDO

Rota do hexa: local para treinos da Seleção é desafio de logística

Desejo do técnico Carlo Ancelotti é que a Seleção Brasileira se prepare na Costa Leste dos EUA para a caça ao sexto título. Presidente da CBF, Samir Xaud prefere base no lado Oeste. Sem craques da logística, entidade baterá martelo após sorteio

Washington (EUA) — Carlo Ancelotti quer que a Seleção fique concentrada na Costa Oeste dos Estados Unidos. De preferência, em Seattle, cidade próxima ao Canadá. Porém, para isso acontecer, dependerá do sorteio de hoje. Se as coisas não saírem como o italiano deseja, a delegação seguirá na Costa Leste mesmo, o que é mais interessante sob o ponto de vista da torcida. Na Flórida, e mais especificamente em Orlando e cidades vizinhas, há uma concentração gigantesca de brasileiros, além de Boston, próximo a Nova York, onde também há mais de 300 mil. Isso daria uma força maior para o nosso time, mas também poderia transformar a concentração num caos, pois jogadores e comissão técnica precisarão de privacidade.

Não é necessário ir muito longe para lembrar o "carnaval" que houve na cidade suíça de Weggs, onde o Brasil fez a preparação para a Copa de 2006. Resultado: desempenho ruim com um time estrelado, com Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Adriano e outros, e eliminação nas quartas de final para a França de Zinedine Zidane, Thierry Henry, Ribery e companhia. Os jogadores estavam fora de forma e, em treinamentos, torcedores invadiam o campo para tirar fotos e tietar jogadores. O episódio com Ronaldinho Gaúcho foi dos mais marcantes, pois uma torcedora invadiu o gramado, abraçou e beijou o craque, até ser retirada por um segurança. 

Ficar na Costa Leste, preferencialmente em Seattle, cidade em que o povo pouco se importa com o futebol, seria perfeito. No verão, o município se destaca pelas chuvas quase diárias. Ponto negativo: atravessar o país é cansativo. Um voo Seattle-Miami, por exemplo, dura, em média, 6h. Jogadores de futebol não gostam de longas viagens. A Califórnia também é uma opção para a Costa Oeste. O Brasil ficou lá em 1994 e foi campeão mundial, em cima da Itália, que tinha Ancelotti como auxiliar do técnico Arrigo Sachi. 

Ainda há uma barreira para Ancelotti conseguir pôr a delegação em Seattle ou na Califórnia. Chefe do escritório da CBF em Miami, inaugurado em agosto, Bruno Costa relatou à reportagem que a preferência do presidente da entidade, Samir Xaud, é pela Costa Leste. Ou seja, vai contra a vontade do treinador. Porém, se o sorteio não ajudar, ele não terá como contrariar Ancelotti, pois o técnico tem autonomia para escolher aquilo que ele entende ser melhor para a Seleção Brasileira. 

Miami também pode servir de base para a Seleção Brasileira, mas muito provavelmente será da Argentina, atual campeã do mundo, que tem em Messi seu astro e que joga no Inter Miami. É bem provável que os argentinos usem a estrutura do clube de Messi. Se o Brasil ficar em Orlando, o complexo da ESPN deverá ser usado pelo time canarinho. Lá, há uma estrutura fantástica, com mais de 10 campos e, com certeza, a delegação terá privacidade e muita segurança. 

O grande empecilho da atual gestão da CBF é que os diretores não têm mais força na Fifa, e não há muito poder de escolha. Na gestão Ricardo Teixeira, o Brasil tinha membros no comitê executivo, como o próprio Ricardo. Mandava e desmandava, pois ajudou a eleger Blatter, e o
ex-presidente, fazia o que ele queria. Como ambos foram pegos no esquema de corrupção para a escolha do Catar como sede da Copa em 2022, e foram banidos do futebol, o Brasil não conseguiu ter mais representatividade. Fernando Sarney ainda ocupou um cargo importante na Fifa e Conmebol, como vice-presidente da CBF, mas, a atual direção deu uma rasteira nele, e o cargo prometido, que ele ocupava antes de Ednaldo Rodrigues, foi para dirigentes argentinos.

Um diferencial na preparação para a Copa do Mundo na América do Norte é o planejamento da logística. A CBF não tem mais os profissionais que cuidavam de tudo com uma competência impar: Américo Faria e Guilherme Ribeiro. Ambos tinham trânsito aberto na Fifa e sugeriam bases que eram imediatamente, aceitas pela Fifa. 

Guilherme Ribeiro falou com o pessoal da Logística em 2018, na Rússia, que o Brasil não jogaria em Sochi e que seria suicídio pôr a Seleção lá. Os gestores da época, foram teimosos, escolheram a cidade russa e o time brasileiro, conforme Ribeiro garantiu, não fez nenhum jogo lá, rodou milhares de quilômetros e voltou para casa, eliminado pela Bélgica, nas quartas de final. 

Em 1994, na primeira Copa do Mundo nos Estados Unidos, a delegação brasileira ficou em Los Gatos e jogou na Universidade de Stanford, sob um forte calor. Saiu para jogar em Detroit, Dallas, e foi para a final, em Los Angeles, no Rose Bowl. Naquela época, Américo Faria era o craque da logística e tudo deu certo: o Brasil sagrou-se campeão.

 


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