
Fim de férias, é hora de voltar às salas de aula. Hoje, cerca de 470 mil estudantes retomam a rotina de estudos nas escolas e creches públicas do Distrito Federal. Equipes do Departamento de Trânsito e da Polícia Militar estão nas ruas para orientar o trânsito e reforçar a segurança. Além da expectativa natural do primeiro dia de aula, alunos, professores e pais enfrentarão o desafio da proibição do uso de celulares nas instituições de ensino.
Na última sexta, a Secretaria de Educação (SEEDF) publicou uma circular com orientações sobre o uso de telefones e outros dispositivos eletrônicos portáteis por alunos. As regras seguem as diretrizes da Lei 15.100/2025, que tem como objetivo melhorar o desempenho acadêmico e o bem-estar dos estudantes (veja quadro o que pode e o que não pode).
O casal de professores Ailton Fernando de Oliveira, 51 anos, e Michelle Augusto, 39, são pais de Diana Augusto, 12, que começa hoje o sétimo ano no CEF2 de Planaltina. "A gente sempre conversa muito com ela sobre o uso do celular. Acredito que isso vai ajudar bastante na atenção dos alunos durante as aulas. Porque, hoje em dia, as crianças e os jovens estão muito focados no celular", relata Ailton. Os pais ainda não receberam as orientações sobre como serão as medidas de restrição, mas acreditam que mais detalhes serão fornecidos nas próximas semanas.
Diana Augusto também aprova a proibição do celular, mas gostaria de manter contato com os pais enquanto estiver na escola. "É bom, porque na sala de aula, no ano passado, eu sempre via colegas jogando no celular enquanto o professor estava explicando. Mas uma coisa que eu acho um pouquinho ruim é não poder entrar em contato com a minha mãe quando eu quiser. Deveria haver flexibilidade", defende Diana. "É possível se comunicar com os pais por meio do próprio colégio, não precisa de celular", pondera Michelle.
Coordenador do curso de pedagogia do Ceub, Murilo Rezende considera a proibição dos aparelhos móveis uma medida que fortalece o desenvolvimento dos estudantes, promovendo um ambiente de maior concentração, interação social e de participação no processo de aprendizagem. "Entendo que o celular é uma ferramenta poderosa para a educação. Mas o uso irrestrito pode prejudicar a qualidade do ensino, afetar a saúde mental e as habilidades socioemocionais, como a empatia e a capacidade de interação", alertou.
Na capital, há 708 escolas públicas, 63 Centros da Primeira Infância (Cepis), 76 instituições parceiras e 101 entidades que atendem a estudantes com o Cartão Creche. A comerciante Maria Rita Cardoso, 45, tem conversado com a filha Helena, 15, sobre o assunto. Como ela trabalha o dia todo, o celular é importante para se comunicar e monitorar a adolescente. "Acho que é uma questão de bom senso. Não dá mesmo para usar telefone durante as aulas. Mas não via problema em deixar à vontade na hora do intervalo", opina.
- Rede pública retoma as aulas com novas regras para celular
- Ano letivo começa sem celulares nas escolas
- Volta às aulas sem celular e com desafio para ampliar educação integral e creches
Desafios
Controlar o uso dos aparelhos móveis não será o único desafio do governo. De acordo com o diretor do Sindicato dos Professores no DF (Sinpro-DF), Samuel Fernandes, o ano letivo começa com a falta de solução para velhos problemas. "Muitos alunos vão estudar longe de casa, por falta de construção de novas escolas, e salas de aula superlotadas", ressalta.
A Secretaria de Educação enviou uma nota ao Correio informando que o processamento das vagas da chamada pública é feito com base no registro da Unidade Vizinhança, Residência-Trabalho (Uvirte), apresentada pelos pais e responsáveis, de forma a garantir o atendimento mais próximo à residência dos estudantes ou do local de trabalho dos responsáveis.
A pasta ponderou que os familiares e responsáveis podem não conseguir vaga em uma escola específica de preferência. Entretanto, de acordo com a nota, existem vagas em outras unidades escolares e é compromisso da pasta buscar a oferta na escola mais próxima ao endereço indicado pela família do estudante, a depender da disponibilidade de vagas, e garantir que todos os alunos serão atendidos pela rede pública de ensino.
Quanto à falta de novas escolas, a Secretaria de Educação disse que o planejamento da oferta educacional considera diversas questões, como a movimentação da população e demandas de vagas por região. "Dessa forma, a SEEDF trabalha com um plano de obras para construção de escolas em determinadas regiões e encaminhamentos para possíveis aluguéis e de modo a atender à demanda em curto e longo prazo", ressaltou a pasta.
Saiba Mais
-
Cidades DF Bombeiros transferem criança em estado grave de Paracatu (MG) para o DF
-
Cidades DF Simulação mostra efeitos de impacto de asteroide no DF
-
Cidades DF Receita do DF apreende R$ 1 milhão em whisky, vodka, tequila e gin
-
Cidades DF Assassinato de professor que lutava contra o tráfico em escola do DF completa 17 anos
Agenda
PMDF
Hoje — Colégio Cívico-Militar CED 7 de Ceilândia (QNN 13, Setor N, Ceilândia)
Amanhã — Colégio Cívico-Militar CED 1 da Estrutural (AE 3, Praça Central, Cidade Estrutural)
Quarta-feira — Colégio Cívico-Militar CED 308 do Recanto das Emas (Quadra 308, Conjunto 12, Lote 1, AE, Recanto das Emas)
Quinta-feira — Colégio Cívico-Militar CEF 507 de Samambaia (Quadra QR 507, Conjunto 7, Lote 1, Samambaia Sul)
Sexta-feira — Colégio Cívico-Militar CEF 19 de Ceilândia (Quadra EQNN 18/20, AE, Ceilândia Sul)
Detran-DF
Hoje — Centro de Ensino Médio Paulo Freire (610 Norte)
Amanhã — Escola Classe 16 de Ceilândia (EQNO 04/06)
Quarta-feira — Escola Classe 108 de Samambaia (QS 110 – Setor Sul)
Quinta-feira — EC 303 de São Sebastião (Qd 303, Conjunto 01, Lote 34, Setor Oeste)
Sexta-feira — Escola Classe 203 de Santa Maria (Qd CL 203 – Lote 01)
Segurança reforçada e palestras sobre bullying e drogas

Para garantir a tranquilidade de estudantes neste retorno às aulas nas escolas públicas, as forças de segurança do DF prepararam um esquema especial que prevê, entre outras ações, o reforço no policiamento nas imediações de escolas e execução de ações educativas. A operação terá início às 6h30, em frente à entrada principal do Colégio Cívico-Militar CED 7 de Ceilândia. Toda a comunidade escolar terá acesso a palestras sobre segurança, prevenção da violência e conscientização sobre o trânsito, dicas sobre como evitar o uso de drogas e combater o bullying.
Além de reforçar a segurança nas vias de acesso e nas faixas de pedestres próximas às escolas, o Batalhão de Policiamento Escolar atuará para inibir crimes e garantir a tranquilidade durante a entrada e saída dos alunos. O Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF) também estará presente. As ações serão realizadas das 11h às 14h, para abranger a saída do turno matutino e a entrada do vespertino.
O foco das atividades é relembrar regras de circulação em via pública, destacando o comportamento adequado nas travessias, no interior de veículos e ao circular de bicicletas. Os pais também serão orientados sobre como estacionar de forma regular, cuidados no embarque e desembarque de passageiros e na contratação de transporte escolar que esteja regularizado no Detran-DF.
De acordo com o diretor-geral do Detran-DF, Takane Kiyotsuka, as equipes vão recepcionar as crianças de forma divertida e educativa, além de fiscalizar e orientar os pais. Ainda segundo ele, haverá apresentações teatrais, simulação de travessia segura e as crianças receberão um material pedagógico com caderno de atividades, contendo adesivos confeccionados especialmente para colar nos cadernos e agendas.
Colaborou Carlos Silva
Uso de telefone: o que pode e o que não pode

Quando o uso fica proibido?
- Durante as aulas, em sala ou em qualquer espaço pedagógico da unidade escolar;
- Fora da sala de aula, durante atividades pedagógicas conduzidas por profissionais de educação e/ou realização de trabalhos individuais ou em grupo, na unidade escolar;
- Durante os intervalos entre as aulas, incluindo o recreio.
Fica permitido, excepcionalmente, o uso nas seguintes situações
- Quando houver autorização expressa do professor regente para fins estritamente pedagógicos ou didáticos, tais como: pesquisas, leituras, atividades avaliativas supervisionadas, acesso ao material em plataformas de ensino, ferramentas educacionais específicas ou qualquer outro conteúdo ou serviço educacional;
- Para os estudantes com deficiência ou com condições de saúde que necessitam desses dispositivos para monitoramento ou auxílio de sua necessidade, e como recurso de adequação e acessibilidade pedagógica, visando garantir a inclusão e a aprendizagem:
- Quando houver autorização expressa da equipe gestora da unidade escolar por motivos de força maior, situações de estado de perigo ou estado de necessidade.
Diálogo é fundamental
por Maraci Sant'Ana,
psicóloga clínica
O uso de telas faz parte da vida moderna e não devemos tentar fugir disso. No entanto, o uso excessivo delas em um cérebro em desenvolvimento, como o de crianças e adolescentes, pode ser prejudicial, pois restringe o contato social físico, que é muito mais enriquecedor. Além disso, as crianças tendem a utilizar as telas para jogos, muitos dos quais são extremamente violentos e, por vezes, elas não conseguem distinguir claramente entre o que é fictício e o que é real. Outro ponto preocupante é o uso de redes sociais, que frequentemente oferecem conteúdo de baixa qualidade e fake news, estimulados por algoritmos que prendem a atenção das crianças por longos períodos, podendo até gerar dependência psicológica.
Em geral, os jovens não utilizam esses dispositivos para estudar, mas sim para se divertir, o que acaba roubando deles um tempo precioso. Isso é similar ao que acontecia antigamente, quando as crianças chegavam da escola e corriam para brincar com os amigos na rua, deixando de lado as tarefas de casa, ou passavam a aula inteira planejando o que fariam durante o recreio.
Qualquer criança que utiliza dispositivos de tela enfrenta enorme dificuldade em parar, não apenas porque o que veem nas telas é projetado para prender sua atenção, mas também porque essas atividades geram prazer imediato. Com isso, elas acabam se tornando reféns dessas tecnologias. O uso prolongado das telas, além de prejudicar a visão, causa cansaço mental, estresse e irritabilidade. Esse efeito é ainda mais prejudicial em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou Transtorno de Deficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH).
O uso de dados móveis dentro da sala de aula também pode prejudicar a interação social entre os alunos. Muitas vezes, uma criança está rodeada de outras, mas não as enxerga, pois está interagindo com alguém através da tela. Isso empobrece o ambiente escolar e impede que elas vivenciem juntas momentos importantes da vida, dificultando a construção de relações que podem ser levadas para a vida adulta.
Portanto, é fundamental restringir o uso de dispositivos nas escolas e explicar às crianças o motivo dessas restrições. A tecnologia é fantástica, desde que seja bem utilizada. A criança precisa ser ensinada a usar a tecnologia de forma consciente, e não ser usada por ela. Ela deve entender o que realmente está por trás de jogos e redes sociais, para não ser transformada em refém dessas ferramentas. E elas têm capacidade para compreender isso.