Artigo

Educação integral: compromisso inegociável com o futuro dos jovens brasileiros

Modelo não se limita ao desempenho acadêmico, uma vez que promove segurança, permanência escolar e desenvolvimento socioemocional, tornando a escola um espaço mais acolhedor e propício à aprendizagem

Correio Braziliense
postado em 12/02/2025 20:09 / atualizado em 12/02/2025 21:21
Estudos comprovam que a educação integral melhora o desempenho acadêmico e amplia as oportunidades dos jovens no ensino superior e no mercado de trabalho -  (crédito: Divulgação)
Estudos comprovam que a educação integral melhora o desempenho acadêmico e amplia as oportunidades dos jovens no ensino superior e no mercado de trabalho - (crédito: Divulgação)

Mateus Moratorio* 

O ensino médio brasileiro passa por um momento decisivo. Com as novas diretrizes aprovadas no final de 2023, estados e redes de ensino têm até 2026 para revisar e adequar seus currículos. Essa reformulação não pode ser vista apenas como um ajuste pontual, mas como uma oportunidade para responder a uma questão essencial: que jovem queremos formar ao final do ensino médio? 

A resposta a essa pergunta não pode se limitar à ampliação da carga horária de matemática e língua portuguesa ou à melhora nos índices de avaliações de larga escala. Mais do que discutir quais componentes curriculares são mais importantes em detrimento de outros, a verdadeira questão é se estamos preparando os jovens para a vida, para os desafios do século 21 e para serem cidadãos críticos, autônomos e capazes de transformar suas realidades.

O compromisso com a educação integral no Brasil não é novo. Desde a Constituição de 1988, passando pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996 e pelo Plano Nacional de Educação (PNE) de 2014, a ampliação dessa oferta tem sido uma meta pactuada. O Novo Ensino Médio (NEM), aprovado em 2017 e implementado em 2021, reforçou a necessidade de conexão com os interesses dos jovens e de fortalecimento do vínculo com a escola. No entanto, sua execução trouxe desafios, especialmente na formulação dos itinerários formativos, que, muitas vezes, careceram de estrutura e planejamento adequados. 

Agora, com a Resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE) de 2024, as redes estaduais estão reestruturando suas propostas curriculares. Esse é o momento de garantir que essa mudança vá além de ajustes técnicos e reafirme um compromisso inegociável com a formação integral dos estudantes. A reformulação curricular deve ser conduzida com responsabilidade, assegurando que a escola não apenas cumpra metas quantitativas, mas também ofereça uma experiência formativa completa, que equilibre o desenvolvimento acadêmico, social e emocional dos jovens. 

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) já estrutura o Ensino Médio por áreas de conhecimento, e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) segue essa lógica. No entanto, se a reestruturação curricular priorizar apenas disciplinas mensuráveis em avaliações padronizadas, haverá um esvaziamento da proposta educacional, reduzindo as oportunidades de desenvolvimento global dos estudantes. A escola deve ser um ambiente onde os jovens não apenas adquiram conhecimento, mas desenvolvam autonomia, pensamento crítico e capacidade de adaptação em uma sociedade com desafios cada vez mais complexos. 

Para isso, é essencial que o ensino médio vá além da transmissão de conteúdos isolados e promova experiências que incentivem a participação ativa dos estudantes no próprio processo de aprendizagem. Modelos que integram metodologias inovadoras, tutoria personalizada e projetos interdisciplinares não apenas fortalecem o vínculo do jovem com a escola, mas também ampliam sua visão de mundo e preparam-no para escolhas mais seguras no futuro acadêmico e profissional. A escola deve ser um espaço vivo, onde o aprendizado se conecte com a realidade dos estudantes e contribua para a formação de uma sociedade mais equitativa e inovadora. 

Estudos comprovam que a educação integral melhora o desempenho acadêmico e amplia as oportunidades dos jovens no ensino superior e no mercado de trabalho. Uma pesquisa do Instituto Sonho Grande, em parceria com o Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE), o Instituto Natura (IN) e a Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco, revelou que estudantes do ensino médio integral em Pernambuco têm 17 pontos percentuais a mais de chance de ingressar no ensino superior, sendo 9 p.p. a mais em universidades públicas, em comparação aos alunos do ensino regular. Esse resultado está diretamente ligado à organização do tempo escolar e à ênfase no protagonismo juvenil, no acompanhamento individualizado dos estudantes e na personalização da jornada de aprendizado. 

A expansão do modelo integral também impacta a permanência dos estudantes na escola e a segurança escolar. Em São Paulo, a evasão escolar diminuiu 20%, com impacto ainda maior entre estudantes com atraso escolar. A adoção da modalidade também contribuiu para um ambiente escolar mais seguro, reduzindo ameaças a professores e o consumo de drogas entre estudantes.  

Esses resultados demonstram que a educação integral não se limita ao desempenho acadêmico: ela promove segurança, permanência escolar e desenvolvimento socioemocional, tornando a escola um espaço mais acolhedor e propício à aprendizagem. O modelo não se resume à ampliação da carga horária. Seu diferencial está na ressignificação do tempo e das práticas pedagógicas, promovendo protagonismo juvenil e ajudando os jovens a seguirem seus projetos de vida. 

A reformulação do ensino médio é necessária, mas deve ser conduzida com responsabilidade. Os estados têm até 2026 para consolidar essas mudanças, mas as decisões que moldarão o futuro da educação estão sendo tomadas agora. Garantir que essa reestruturação fortaleça a educação integral não é apenas uma escolha pedagógica — é um compromisso com o futuro da juventude brasileira. O momento de agir é agora. 

Mateus Moratorio, gerente do Instituto Sonho Grande, defende a educação integral como compromisso com o futuro da juventude brasileira
Mateus Moratorio, gerente do Instituto Sonho Grande, defende a educação integral como compromisso com o futuro da juventude brasileira (foto: Tiago Queiroz)

*Mateus Moratorio é Gerente de Qualidade do Ensino Médio Integral, do Instituto Sonho Grande, organização que atua para implementar e expandir a educação integral. 

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação