CB.TALKS

"Escolher a escola é escolher um projeto de vida", diz especialista

Marilucia Picanço, pediatra e professora da UnB, participa do 'CB Talks' na tarde desta quinta-feira (25/9). Evento reúne especialistas para discutir, analisar e propor soluções na educação digital

Giovanna Sfalsin
postado em 25/09/2025 16:35 / atualizado em 25/09/2025 18:14
Para Marilucia, a primeira infância
Para Marilucia, a primeira infância "é o começo de tudo" - (crédito: Marcelo Ferreira CB/DA Press)

Durante o CB Talks — Além do algoritmo: a educação no mundo digital, que ocorre nesta quinta-feira (25/9) no auditório do Correio Braziliense, a pediatra e professora da Universidade de Brasília (UnB) Marilucia Picanço destacou a importância da primeira infância para o desenvolvimento humano e fez um alerta sobre o uso excessivo de telas por crianças.

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

Segundo a especialista, o contato com o mundo digital deve ser mediado e limitado, especialmente nos primeiros anos de vida. “Crianças não devem utilizar as telas. O bebê nasce com poucas células cerebrais e, ao longo do tempo, isso vai sendo formado. Nesse contexto, a criança precisa trabalhar com o concreto, com o que vê, com o que toca. Essa interação interpessoal é fundamental para a formação da memória, do conhecimento e da história de vida, para ser um adulto funcional, participativo e cidadão”, afirmou.

Para ela, a primeira infância "é o começo de tudo" e exige atenção redobrada de pais, professores e pediatras.“Vivemos em um mundo onde a vida digital e os algoritmos estão em tudo do nosso dia a dia, no que consumimos e no que vemos. Dentro desse contexto, será que podemos deixar que eles decidam também pela escola dos nossos filhos?”

Marilucia acredita que a primeira premissa na hora de escolher uma instituição deve ser pensar que tipo de pessoa e cidadão se deseja formar. Para isso, mais do que números e métricas, é preciso olhar para o projeto pedagógico, os valores transmitidos e a qualidade das relações humanas dentro da escola.

Benefícios e riscos

Ela ainda reconhece que a tecnologia pode oferecer benefícios, como o maior acesso à informação, a comparação entre diferentes instituições e a personalização da escolha de acordo com o perfil da criança e da família, além de estímulo à inovação no setor educacional.

Por outro lado, alertou para riscos como a redução da complexidade da escola a rankings, a reprodução de desigualdades — já que instituições com mais recursos tendem a se destacar —, a falta de transparência dos algoritmos e o perigo da “bolha educacional”, que pode limitar a diversidade de experiências. 

De acordo com a pediatra, a escola deve preparar as novas gerações não só para interagir com o mundo digital, mas também para desenvolver empatia, criatividade, ética, pensamento crítico e convivência. “Não basta usar tecnologia: é preciso ensinar a pensar criticamente sobre ela”, destacou.

“O algoritmo pode ser um ponto de partida, mas nunca o ponto final. Escolher a escola é escolher um projeto de vida, e esse projeto não pode ser resumido a métricas. Formar pessoas vai sempre muito além dos dados”, finalizou.

Evento

Debate faz parte da 19ª edição do projeto Escolha a Escola do seu Filho, criado pelo Correio para apoiar pais e responsáveis na missão de escolher a instituição de ensino ideal. O encontro reúne especialistas para debater os impactos da tecnologia e dos algoritmos na educação e na formação de crianças e adolescentes.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação