
Oposição interna e repulsa internacional. O plano de Benjamin Netanyahu para a tomada da Cidade de Gaza e o controle absoluto do enclave palestino causou condenação massiva de governos estrangeiros e reservas dentro da caserna israelense. A Alemanha abandonou a retórica e suspendeu as exportações de equipamentos militares para Israel. A França criticou, nos temas mais fortes, a estratégia de Netanyahu para a Faixa de Gaza e advertiu que a medida pode levar a um "bloqueio absoluto" do Estado judeu. O Ministério das Relações Exteriores francês sublinhou "sua firme oposição a qualquer projeto de ocupação da Faixa de Gaza e ao deslocamento forçado de sua população". Por sua vez, o Irã denunciou que o plano israelense "é outro sinal claro da intenção manifesta do regime sionista de realizar uma limpeza étnica em Gaza e cometer um genocídio contra os palestinos", afirmou um comunicado do porta-voz da chancelaria de Teerã.
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O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas atendeu a um pedido de vários membros do Conselho de Segurança e confirmou uma reunião de urgência neste domingo (10/8), a fim de debater o tema. Pelos termos do plano de Netanyahu, as Forças de Defesa de Israel (IDF) tomarão o controle da Cidade de Gaza (norte) e forçarão o desarmamento do Hamas e o retorno "de todos os reféns, vivos e mortos", além da desmilitarização do território. Sob controle israelense, Gaza será repassada a uma administração civil alternativa que não seja nem o Hamas nem a Autoridade Palestina.
Para Barak Medina, ex-reitor e professor de direito da Universidade Hebraica de Jerusalém, o plano de Israel está errado. "Ele foi elaborado, apesar da objeção dos próprios especialistas militares. É algo extremamente custoso e não atinge os seus objetivos", afirmou ao Correio. "A preocupação é que seu verdadeiro propósito não seja militar, mas, sim, anexar o território a Israel e restabelecer os assentamentos judaicos." Medina disse esperar que o plano não seja implementado. Ele acredita que a única solução possível é entregar o controle do território à Autoridade Palestina, com o apoio dos países árabes.
Coerência
Professor aposentado de história da Universidade Libanesa Americana (em Beirute), Habib Malik admitiu à reportagem que o debate dentro de Israel — no gabinete de Netanyahu e entre oposição e governo — ainda é intenso. "Ainda não vejo um caminho coerente a seguir em meio a toda essa cacofonia. Precisamos aguardar por mais clareza. Claramente, as famílias dos reféns estão bastante preocupadas, e com razão, assim como os militares, dado o perigo que os sequestrados correm e as possíveis baixas militares que podem ocorrer", observou.
Ex-relator especial da ONU para a Palestina Ocupada entre 2008 e 2014 e professor de direito internacional da Universidade de Princeton, Richard Falk espera que o desmantelamento de Gaza e sua transferência para a governança árabe jamais ocorra. "Isso tornaria os países árabes mais cúmplices do crime subjacente de genocídio e imporia um resultado punitivo aos moradores de Gaza. A percepção israelense, frequentemente articulada por Netanyahu e outros membros importantes do gabinete, é ver o Hamas como uma entidade inerentemente terrorista, apesar de sua vitória nas eleições de 2006, monitoradas internacionalmente", avaliou ao Correio.
Para Falk, recompensar Israel após sua perpetração de genocídio e punir o Hamas e o povo palestino é "uma grave injustiça". "Trata-se de reversão orwelliana de como a responsabilidade legal pelos acontecimentos pós-7 de outubro deve ser devidamente avaliada. É um sinal final de que nem o direito internacional nem noções elementares de responsabilidade criminal se aplicam a Israel. Somente o ativismo entre os povos do mundo pode trazer aparência de justiça à situação, como foi o caso na racista África do Sul, graças à campanha antiapartheid." O estudioso aponta que a onda populista em relação a Israel e aos EUA resultou na denominação da violência sustentada de Israel contra alvos civis e da linguagem política desumanizante como 'genocídio', após um longo período de fuga ao espetáculo das atrocidades diárias."
EU ACHO...
"O plano de Benjamin Netanyahu ainda é prematuro. Há outros planos rivais disputando a implementação — o plano de Donald Trump de desocupar a Faixa de Gaza, reconstruí-la e permitir o retorno daqueles que puderem; a ocupação e o controle militar israelense direto; a continuação da abordagem atual de esgotamento gradual das capacidades do Hamas. Ninguém sabe ao certo para onde tudo isso vai — é cedo demais para especular."
Habib Malik, professor aposentado de história da Universidade Libanesa Americana (em Beirute)
"O plano de Netanyahu de tomar toda a Faixa de Gaza parece reduzido, pelo menos por enquanto, à conquista de partes da Cidade de Gaza ainda sob controle palestino. Os primeiros indícios de uma intenção israelense de transferir a governança pós-genocídio de Gaza para os governos árabes da região também são incertos em geral. As táticas sionistas têm se contentado, ao longo dos anos, em prosseguir por etapas."
Richard Falk, professor de direito internacional da Universidade de Princeton
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