
A principal agência de combate aos entorpecentes dos Estados Unidos acusou o regime do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, de colaborar com as guerrilhas colombianas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e Exército de Libertação Nacional (ELN) para traficar cocaína aos Estados Unidos. "A Venezuela converteu-se em um Estado narcoterrorista, que segue colaborando com as Farc e o ELN para enviar quantidades recordes de cocaína a partir da Venezuela aos cartéis mexicanos, que continuam entrando nos EUA", declarou Terry Cole, diretor da Agência de Controle de Drogas (DEA), à emissora Fox News.
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Em meio à pressão do governo de Donald Trump e ante a notícia do envio de três destróieres americanos para a costa da Venezuela, envolvidos em uma missão de combate ao narcotráfico, Diosdado Cabello — número dois do chavismo — ameaçou a oposição a Maduro em caso de intervenção dos Estados Unidos. "Se aqui ocorresse algo, e não ocorrerá, iríamos atrás daqueles que pediram invasões, bloqueios e sanções, e daqueles que nos atacam. Sabemos seus nomes, onde estão, o que fazem... Qualquer um que peça sanções e bloqueios será atacado", avisou Cabello.
Na noite de segunda-feira (18/8), Maduro anunciou a mobilização de 4,5 milhões de integrantes da Milícia Nacional Bolivariana e os instou a pegarem em fuzis. Nesta quinta-feira, a Marinha dos Estados Unidos determinou o retorno da frota de contratorpedeiros e de 4,5 mil marines (fuzileiros navais) a Norfolk (Virgínia), uma medida de precaução por causa da furacão Erin, que atingiu a categoria 5 na escala Saffir-Simpson e deverá atingir os EUA no fim de semana.
O mexicano Vicente Sánchez Munguia, professor do Colegio de la Frontera Norte (em Tijuana), lembrou ao Correio que, nos últimos dias, as agências de inteligência e de segurança de Washington têm feito declarações sobre os cartéis mexicanos e da Colòmbia e tratado o regime de Maduro como uma organização narcoterrorista. "Tais afirmações conferem ampla margem para o governo Trump tomar medidas de intervenção, inclusive na Venezuela, para perseguir os supostos terroristas. Existe o risco de que Venezuela, México e Colômbia sofram algum tipo de intervenção das agências federais e das forças armadas", admitiu.
De acordo com Munguia, o Cartel Jalisco Nueva Generación tem a Colômbia como principal fornecedor de cocaína exportada para os EUA. "A saída da droga ocorre por meio do Equador e da Venezuela. Existe um elemento de pressão sobre a América Latina. Tanto que a presidente do México, Claudia Sheinbaum, defendeu o princípio do não intervencionismo. Há um elemento interno: Trump tenta fortalecer o apoio da linha-dura do Partido Republicano", disse. Citadas por Terry Cole, as Farc se desmobilizaram em 27 de junho de 2017 — a maior guerrilha da Colômbia tornou-se partido político.
Antonio Guevara, coronel do Exército venezuelano e analista de segurança e defesa, admitiu ao Correio que o vínculo entre a Revolução Bolivariana, o ELN e as Farc não é algo novo. "Essa ligação com o narcotráfico começou muito antes da chegada de Hugo Chávez ao poder. Há informações nos bastidores políticos e militares de que grande parte do financiamento das campanhas de Chávez veio das Farc, à época o principal cartel de drogas depois dos cartéis de Cáli e de Medellín", afirmou.
Segundo o estrategista militar, o narcotráfico é um problema comum a Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e México. "A situação é muito complexa. Todo mundo se pergunta: por que uma eventual ação bélica americana ocorreria na América Latina, depois de 25 anos de existência dos cartéis do narcotráfico e de sua penetração nos governos de Venezuela, Colômbia, Bolívia, Equador e Peru? Existe uma justificativa. A questão é se ela pode materializar uma intervenção militar", acrescentou Guevara.
Repressão
Para Antonio Ledezma, prefeito de Caracas preso em 2015, foragido e exilado em Madri desde novembro de 2017, é evidente um cenário de repressão na Venezuela nos próximos dias. "A perseguição aos dissidentes da ditadura não é uma surpresa para mim. Vale lembrar que, durante as últimas sessões da Organização dos Estados Americanos (OEA), foram divulgados relatórios da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) que confirmam que Maduro leva adiante um terrorismo de Estado", disse ao Correio. Ele acusou Maduro de desaparecimentos forçados e de execuções extrajudiciais. "A caça às bruxas alcança não apenas opositores, mas também ativistas e funcionários relacionados ao próprio regime", advertiu.
EU ACHO...
"Não acredito em uma ação militar direta contra Nicolás Maduro. Creio que se trata de uma pressão, a fim de tirar apoios na região, como do Brasil e da Colômbia. Os outros países não falam diretamente, porque também abrigam cartéis do narcotráfico. A justificativa do governo Trump para esse destacamento militar é a presença dessas organizações e o suposto papel de Maduro e seu governo como chefes de uma organização específica."
Vicente Sánchez Munguia, professor do Colegio de la Frontera Norte (em Tijuana)
"A acusação da DEA sobre uma ligação entre o regime de Maduro e as guerrilhas da Colômbia faz parte de uma escalada dos Estados Unidos contra a Venezuela. A narrativa é uma justificativa para qualquer ação de natureza militar americana. Acho que faltam muitas atividades relacionadas a essa escalada, fundamentalmente de natureza declarativa, retórica, para ampliar as desculpas para uma intervenção militar."
Antonio Guevara, coronel do Exército da Venezuela e analista de segurança e defesa
"O território da Venezuela converteu-se em covil da narcoguerrilha colombiana. Se buscarmos em arquivos da imprensa, inclusiva do Brasil, veremos que a Venezuela abriga ativistas do ELN e dissidentes das Farc. O que os EUA anunciaram foi um cerco antinarcóticos no Caribe. O regime de Maduro controla a rota do narcotráfico, como nas áreas de Arauca e de Victoria, e a transformou em uma via expressa para traficar cocaína até os EUA e a Europa."
Antonio Ledezma, prefeito de Caracas preso em 2015, foragido e exilado em Madri desde novembro de 2017
Caminhão-bomba mata cinco e fere 36 em Cali
Um caminhão carregado de explosivos foi detonado em frente a uma base aérea da cidade de Cali, a terceira mais populosa da Colômbia, matando pelo menos cinco pessoas e ferindo 36, às 14h54 desta quinta-feira no horário local (16h54 em Brasília). O prefeito Alejandro Eder qualificou a explosão como um "ataque narcoterrorista". Imagens divulgadas nas redes sociais mostram veículos em chamas, feridos no chão e pessoas fugindo, desesperadas, em meio ao som de alarmes e de gritos perto da base da Escola Militar de Aviação Marco Fidel Suárez. Até o fechamento desta edição, não havia informação sobre a autoria do atentado. Ataques terroristas anteriores foram atribuídos às dissidências das Farc, comandadas por Iván Mordisco.
"Ouvimos o barulho. (...) Depois não foi possível passar nem ver nada, há muitos feridos, muitas casas foram danificadas em frente à base", disse à agência France-Presse (AFP) Héctor Fabio Bolaños, de 65 anos, diretor de uma escola vizinha que teve que ser evacuada. "As crianças do turno da tarde tiveram que ser entregues aos pais que vieram buscá-las." A explosão "aqui na fábrica quebrou vidros e houve danos materiais. Felizmente, não houve pessoas falecidas em nossa área de produção", relatou Alexis Atizábal, fabricante de uniformes para a Força Aérea, em uma loja militar próxima à rua do atentado.
Ataque com drone
Eder anunciou uma recompensa de 400 milhões de pesos (o equivamente a R$ 561 mil) por informações que levem à captura dos terroristas. Mais cedo, oito pessoas morreram e sete ficaram feridas em confrontos e em um ataque com drone de guerrilheiros de uma dissidência das extintas Farc, que derrubaram um helicóptero. O atentado com a aeronave não tripulada, considerado raro na Colômbia, ocorreu no departamento de Antioquia (noroeste), durante uma operação para erradicar cultivos de plantas para produção de entorpecentes.
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