
O índice de marinheiros abandonados pelas próprias companhias quase duplicou entre 2023 para 2024. De acordo com dados levantados pela Federação Internacional dos Trabalhadores em Transportes (ITF, em inglês), o número de funcionários marítimos deixados para trás saiu de 1.676 mil em 2023, para 3.133 mil no ano seguinte.
A federação ainda mostra que o número de embarcações desamparadas também aumentou. Em 2024, foram 312. No ano anterior, foram 132. Ou seja, aumento de 136%.
O órgão ainda comunica que o aumento "vertiginoso" do problema — que tem como raiz a falência das empresas de navegação — é acentuada pela falha do sistema de Bandeiras de Conveniência. Trata-se de uma prática internacional em que um navio é registrado em uma nação distinta da de origem.
Isso acontece para que seja possível acumular benefícios de regulamentação e custos fiscais, por exemplo. A falha no sistema, além disso, facilita a impunidade contínua do descumprimento dos direitos dos trabalhadores.
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Isolados e sem amparo
Os marinheiros deixados para trás passam por experiências de completo desamparo. Além de terem os respectivos salários cortados, enfrentam condições de bordo precárias. Ficam, também, sem água e comida de forma adequada para consumo.
Em alguns casos, ficam abandonados por meses, ou até anos a fio. Sem salário, ainda acabam sem remédios, sem meios de dar notícias para os familiares e, principalmente, sem perspectiva de retorno.
De acordo com o ITF, a falta de fiscalização e transparência das companhias, a ausência de seguro para embarcações e ainda a recusa de muitas empresas em reconhecer a situação são questões que contribuem para o abandono e complicam a resolução de casos.
Coordenador Global de Inspeção da federação, Steve Trowsdale, descreve o problema como "uma vergonha absoluta". "O total de 90% do comércio global ocorre por meio do transporte marítimo, e os marítimos são a espinha dorsal dessa indústria. É uma vergonha absoluta que armadores inescrupulosos estejam abandonando tantas tripulações impunemente por governos e órgãos reguladores internacionais. Isso é nada menos que uma traição aos trabalhadores essenciais do comércio global".
O ITF também relata que, dos 3.133 mil marinheiros abandonados em 2024, 899 são indianos. Representam o maior número de funcionários presos no mar. Em seguida, ficaram Síria (410), Ucrânia (288), Filipinas (273) e Indonésia (192). O montante de US$ 20,1 milhões, em adição, chegaram a ser devidos aos marinheiros em salários não pagos.
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