Argentina

Eleições em Buenos Aires servem de alerta para Milei, dizem analistas

Derrota nas eleições provinciais de Buenos Aires para o peronismo serve de referendo do governo para o pleito de outubro. Especialistas admitem motivos de preocupação para o presidente

Javier Milei discursa depois da derrota na eleição provincial de Buenos Aires:
Javier Milei discursa depois da derrota na eleição provincial de Buenos Aires: "Não retrocederemos nem um milímetro" - (crédito: AFP)

Depois da derrota inesperada para o peronismo nas eleições legislativas provinciais de Buenos Aires, no domingo (7/9), Javier Milei sinalizou que não mudaria o discurso, nem o rumo do governo. "Sem dúvida nenhuma, no plano político tivemos uma clara derrota. (...) Não existe opção de repetir erros: de olho no futuro, vamos corrigir todos os erros", declarou, ao fazer menção às eleições nacionais de 26 de outubro. "Não retrocederemos nem um milímetro na política do governo. O curso não está apenas confirmado: vamos acelerá-lo e aprofundá-lo ainda mais", acrescentou.

Com 99% das urnas apuradas na província de Buenos Aires, a coalizão peronista Fuerza Patria, de esquerda, obteve 47,28% dos votos, enquanto a coalizão governista Alianza La Libertad Avanza conseguiu apenas 33,71%.  A importância da província está no fato de ela compor 38% do eleitorado argentino. 

No dia seguinte ao revés, o líder ultralibertário se reuniu por duas vezes com o gabinete ministerial — pela manhã e à tarde. Ao fim do encontro, descartou mudanças no escalão do governo. Analistas políticos consultados pelo Correio admitem que a derrota eleitoral tornará os próximos 47 dias, até as eleições nacionais de 26 de outubro, um período de atribulações e de tensão para Milei. 

Professor de ciência política da Universidad de Buenos Aires (UBA), Miguel De Luca afirmou que o próprio presidente tratou as eleições provinciais como um referendo. "Vejo um grande prejuízo ao seu capital político, um dano autoinfligido. A política econômica não apresenta resultados que sejam capazes de reduzir a inflação. Há uma ausência de medidas para fazer frente aos escândalos de corrupção. Os aliados políticos de Milei sentem-se humilhados. O presidente errou em eleger a província de Buenos Aires como um 'campo de batalha'", avaliou. 

Autocrítica

Por sua vez, Fanny Maidana — doutora em ciência política e professora da UBA e da Universidad Nacional de Litoral (em Santa Fe) — admite que a derrota de Milei era aguardada. "Os institutos de pesquisa davam vantagem para a Fuerza Patria, formada pelo governador Axel Kicillof e pelo kirchnerismo. O que não se esperava era a diferença de pontos percentuais entre as duas forças. Alguns institutos mostravam cerca de oito a nove pontos percentuais para a Fuerza Patria, mas não os 14 pontos", comentou. "É chamativa a vitória da Fuerza Patria, por exemplo, na cidade de Avellaneda, cuja maioria de habitantes é de classe média. O presidente mostrou-se calmo e, nas últimas aparições, baixou um pouco o tom, sustentando uma autocrítica, mas frisando que manterá o rumo."

A analista vê um panorama "bastante complicado" para Milei. "A governabilidade é uma questão com a qual ele sempre teve problema, sem maioria na Câmara dos Deputados ou no Senado. Na semana passada, ele sofreu o primeiro revés entre os senadores", lembrou Maidana, ao citar a decisão do Senado de reverter um veto presidencial a uma lei que garantiria a liberação de fundos para pessoas com deficiência. 

Facundo Galván, também professor de ciência política da UBA, considera que o discurso de Milei pós-eleição foi "bastante atípico". "Ele assumiu a derrota. A sobriedade, ao reconhecer um revés, fala muito. Ela instila moderação. Milei fez duas reuniões de gabinete e, a princípio, a única medida tomada foi a ampliação da Mesa Política Nacional, que agora contará com as presenças, além dele próprio e de sua irmã Karina, dos ministros Patricia Bullrich (Segurança Nacional), Guillermo Franco (Interior) e Luis Caputo (Economia). Não me parece que isso será suficiente para a Casa Rosada assimilar o golpe."

EU ACHO...

Miguel De Luca, professor de ciência política da Universidad de Buenos Aires (UBA)
Miguel De Luca, professor de ciência política da Universidad de Buenos Aires (UBA) (foto: Arquivo pessoal )

"O resultado das eleições de domingo na província de Buenos Aires foi muito negativo para Milei. O governo não pôde evitar a queda das ações e a disparada do dólar. O plano econômico mostra desgaste, e os escândalos de corrupção continuam sem solução. O período até as eleições gerais será muito difícil."

Miguel De Luca, professor de ciência política da Universidad de Buenos Aires (UBA)

Fanny Maidana, professor de ciência política na Universidad Nacional del Litoral e na Universidad de Buenos Aires (UBA)
Fanny Maidana, professor de ciência política na Universidad Nacional del Litoral e na Universidad de Buenos Aires (UBA) (foto: Aquivo pessoal )

"O efeito dos resultados foi notado no mercado, com a queda nas ações e o aumento do dólar, quase chegando ao recorde de 2.470 pesos. Mas o panorama não está claro. A eleição de 26 de outubro será outro pleito, pois será realizada em todas as províncias." 

Fanny Maidana, doutora em ciência política e professora da UBA e da Universidad Nacional de Litoral (em Santa Fe)

 

  • Miguel De Luca, professor de ciência política da Universidad de Buenos Aires (UBA)
    Miguel De Luca, professor de ciência política da Universidad de Buenos Aires (UBA) Foto: Arquivo pessoal
  • Fanny Maidana, professor de ciência política na Universidad Nacional del Litoral e na Universidad de Buenos Aires (UBA)
    Fanny Maidana, professor de ciência política na Universidad Nacional del Litoral e na Universidad de Buenos Aires (UBA) Foto: Aquivo pessoal
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postado em 09/09/2025 05:50
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