
Em um intervalo de nove dias, três países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) denunciaram violações do espaço aéreo cometidas por aeronaves da Rússia. Depois de incidentes com a Polônia e a Romênia (veja quadro), a Estônia informou que três caças russos MiG-31 invadiram o espaço estoniano e permaneceram sobre o Golfo da Finlândia durante 12 minutos. Três caças F-35 italianos decolaram de Amari (Estônia) para interceptar as aeronaves invasoras. O Ministério da Defesa da Rússia negou a violação.
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O ministro das Relações Exteriores da Estônia, Margus Tsahkna, admitiu a gravidade da situação. "A Rússia violou o espaço aéreo estoniano em quatro ocasiões este ano, o que por si só é inaceitável. Mas a incursão de hoje, da qual participaram três aviões de combate (...), é de uma audácia sem precedentes", declarou Tsahkna. "Este tipo de ato não pode ser tolerado e deve ser sancionado com medidas políticas e econômicas rápidas."
Kristen Michal, primeiro-ministro da Estônia, afirmou que seu país recorrerá à Otan para a realização de uma reunião emergencial, a fim de debater o assunto. "Uma violação desse tipo é totalmente inaceitável. O governo estoniano decidiu solicitar consultas, nos termos do Artigo 4 da Otan", disse o chefe de governo. O Artigo 4 é um mecanismo da aliança atlântica ocidental que exige dos países-membros informar uns aos outros se houver riscos à "sua integridade territorial, independência política ou segurança".
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, escreveu na rede social X que conversou com Michael sobre a violação do espaço aéreo pela Rússia. "A resposta da Otan, no âmbito da 'Sentila Oriental' foi rápida e decisiva", anunciou, ao citar uma operação lançada pela organização para proteger o Leste da Europa.
As intrusões russas em série no espaço aéreo de países-membros da Otan têm elevado o temor de uma resposta concertada a uma agressão militar. O Artigo 5 do Tratado da Otan estabelece o princípio da defesa coletiva e prevê que um ataque a uma nação da aliança representa um ataque a todas as demais. Na noite de ontem, a Guarda Costeira da Polônia notificou o "sobrevoo de baixa altitude" de dois caças russos sobre uma plataforma petrolífera polonesa no Mar Báltico." Foi violada a zona de segurança da plataforma", afirmou, por meio de um comunicado no X.
"Ação desestabilizadora"
Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, acusou o governo de Vladimir Putin de engajar-se em uma "atividade desestabilizadora que se expande para novos países e em novas direções". "Eles (russos) usam todas as ferramentas: desde a interferência nos processos políticos, como na Romênia e na Moldávia, até violações ao espaço aéreo, como na Polônia, na Romênia e, agora, na Estônia", declarou.
Para Zelensky, "isso é uma campanha sistemática russa dirigida contra a Europa, contra a Otan e contra o Ocidente". "Isso requer uma resposta sistêmica. Ações enérgicas devem ser tomadas — tanto coletiva quanto individualmente por cada nação", defendeu. O líder ucraniano voltou a pedir a adoção de medidas que impactem a economia de Moscou.
"Se fosse um incidente isolado, poderia ser visto como acidental, mas isso é visivelmente mais um passo em uma série calculada de vários pequenos passos que se somam para uma grande tomada do espaço aéreo", advertiu ao Correio o estoniano Rein Taagepera, cientista político, fundador do partido Res Publica e ex-presidente da Associação para o Avanço dos Estudos Bálticos. "A tomada do espaço aéreo de outro país é uma agressão grave", acrescentou. Ele ressaltou que, em uma eventual invasão calcupada pela Rússia, ainda que forjada em etapas, cada passo é, por definição, sem precedentes.
EU ACHO...
"Se a Rússia continuar com essa escalada gradual, chegará o momento em que a Otan será obrigada a abater um avião russo como parte da defesa do território. Isso não significaria guerra, a menos que Moscou decida deliberadamente interpretar o ato como guerra. A Rússia não fez isso quando a Turquia abateu um avião russo há alguns anos."
Rein Taagepera, cientista político estoniano e professor emérito da Universidade de Tartu
VIOLAÇÕES EM SÉRIE
Confira outros casos de invasão do espaço aéreo da Otan por parte de aeronaves russas
10 de setembro
A Polônia denunciou a incursão de 19 drones russos em seu espaço aéreo. A Otan viu-se obrigada a mobilizar suas defesas antiaéreas para derrubar as aeronaves não-tripuladas. Os destroços dos drones danificaram uma casa e um carro, no leste do país.
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13 de setembro
Três dias depois, no sábado, a Romênia denunciou a "inaceitável" entrada de um drone russo em seu espaço aéreo. O embaixador russo, Vladimir Lipayev, disse que a alegação de Bucareste de que a Rússia foi responsável pela intrusão "não tem fundamento".
19 de setembro
Um trio de caças russos entrou no espaço aéreo da Estônia e acabou inteceptado por aeronaves da Otan. A União Europeia denunciou uma "provocação extremamente perigosa".
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Eu acho...
"Se a Rússia continuar com essa escalada gradual, chegará o momento em que a Otan será obrigada a abater um avião russo como parte da defesa do território. Isso não significaria guerra, a menos que Moscou decida deliberadamente interpretar o ato como guerra. A Rússia não fez isso quando a Turquia abateu um avião russo há alguns anos."
Rein Taagepera, cientista político estoniano e professor emérito da Universidade de Tartu
Quadro - Violações em série
Violações em série
Confira outros casos de invasão do espaço aéreo da Otan por parte de aeronaves russas
10 de setembro
A Polônia denunciou a incursão de 19 drones russos em seu espaço aéreo. A Otan viu-se obrigada a mobilizar suas defesas antiaéreas para derrubar as aeronaves não-tripuladas. Os destroços dos drones danificaram uma casa e um carro, no leste do país.
13 de setembro
Três dias depois, no sábado, a Romênia denunciou a "inaceitável" entrada de um drone russo em seu espaço aéreo. O embaixador russo, Vladimir Lipayev, disse que a alegação de Bucareste de que a Rússia foi responsável pela intrusão "não tem fundamento".
Ontem
Um trio de caças russos entrou no espaço aéreo da Estônia e acabou inteceptado por aeronaves da Otan. A União Europeia denunciou uma "provocação extremamente perigosa".
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