Oriente Médio

Donald Trump e Benjamin Netanyahu revelam plano de paz para Gaza

Após receber o premiê de Israel na Casa Branca, presidente dos EUA anuncia as bases do pacto para pôr fim à guerra em Gaza. Documento prevê libertação dos reféns, desmilitarização do território, anistia a membros do Hamas e governança internacional

Donald Trump (D) e Benjamin Netanyahu (E) participam de entrevista coletiva na Sala de Jantar de Estado, na Casa Branca:  -  (crédito: Andrew Caballero-Reynolds/AFP)
Donald Trump (D) e Benjamin Netanyahu (E) participam de entrevista coletiva na Sala de Jantar de Estado, na Casa Branca: - (crédito: Andrew Caballero-Reynolds/AFP)

Donald Trump pôs fim ao mistério e anunciou o plano dos Estados Unidos para acabar com a guerra na Faixa de Gaza. Com 20 pontos, a proposta prevê a libertação imediata de todos os reféns do Hamas, a desmilitarização do território palestino, a supervisão de um "comitê de paz" liderada pelo presidente americano e pelo ex-premiê britânico Tony Blair, a reconstrução de Gaza e a concessão de anistia aos militantes do Hamas que depuserem armas e que se comprometerem com a coexistência pacífica com Israel.

"Este é, potencialmente, um dos melhores dias da civilização", declarou Trump. "Hoje é um dia histórico para a paz", acrescentou, ao receber, na Casa Branca, Benjamin Netanyahu. "Estamos no mínimo muito, muito perto (...) e quero agradecer a Bibi por realmente se envolver e fazer seu trabalho", disse, ao mencionar o apelido do primeiro-ministro de Israel, que avalizou a proposta de Washington.

"Apoio seu plano para pôr fim à guerra em Gaza, que satisfaz nossos objetivos bélicos, (que) trará de volta a Israel todos os nossos reféns, desmantelará as capacidades militares do Hamas, colocará fim a seu governo político e garantirá que Gaza nunca volte a representar uma ameaça para Israel", assegurou Netanyahu, ao mencionar uma "guerra entre a civilização e a barbárie". 

Netanyahu avisou que Israel "manterá a responsabilidade sobre a segurança", mesmo que o Hamas aceite o plano. Também sinalizou que a Autoridade Nacional Palestina (ANP), de Mahmud Abbas, "não terá nenhum papel" na Faixa de Gaza, a não ser que leve adiante "mudanças radicais" — sem, no entanto, explicar o que seriam essas reformas. De acordo com Trump, a retirada israelense ocorrerá "em etapas".

O republicano deu carta verde para Israel, em caso de recusa do Hamas em implementar o plano. "Se o Hamas rejeitar o acordo, o que é sempre possível, Netanyahu, você tem o nosso apoio total para o que precisar fazer. (...) A tirania do terror tem que acabar", comentou o americano. "Se o Hamas rejeitar o seu plano, senhor presidente, ou se supostamente o aceitar e fizer de tudo para combatê-lo, Israel terminará o trabalho sozinho. Isso pode ser feito da maneira mais fácil ou da maneira mais difícil, mas será feito", prometeu Netanyahu. Mais cedo, o israelense conversou por telefone com o premiê do Catar e pediu desculpas pelo bombardeio contra lideranças do Hamas, em Doha.

Saudação

A ANP saudou os "esforços sinceros e determinados" de Trump e afirmou que "confia em sua capacidade de encontrar um caminho para a paz". Na noite desta segunda-feira (29/9), enquanto voava para Ramallah (Cisjordânia), o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, também demonstrou esperança. "Desde as primeiras horas de 7 de outubro, condenamos o assassinato de civis e chamamos a pôr fim à guerra contra a Palestina", comentou, por meio do WhatsApp. "Qualquer iniciativa que consiga deter o genocídio é bem-vinda. A ANP aceitou a iniciativa", sublinhou.

Morador da Cidade de Gaza, o artista plástico Ahmed Muhanna disse ao Correio que tudo o que deseja é o fim da guerra. Ele garantiu que a maioria dos palestinos não apoia o Hamas. "Foi essa organização que nos trouxe a guerra. Somos contra a ocupação com todas as nossas forças. Mas precisamos ser sábios na tomada das decisões." Ele classificou de "inferno" os 724 dias de ataques. "Foram os piores da minha vida."

"Este é um acordo histórico, que permitirá ao nosso povo sanar, pôr fim à guerra e traçar um novo futuro para o Oriente Médio", reagiu o Fórum de Famílias de Reféns e Desaparecidos, grupo que representa os parentes de sequestrados pelo Hamas.

Analista especializado em Oriente Médio do Woodrow Wilson International Center (em Washington), Aaron David Miller é cético em relação ao plano de Trump. "Ele dará a Netanyahu a chance de continuar a guerra. É difícil imaginar o Hamas respondendo com um 'sim' claro; talvez um 'sim, mas'. Trump deixou claro que, se o Hamas disser 'não', Israel continuará a campanha militar", lembrou ao Correio.

OS 20 PONTOS DA PROPOSTA

A Casa Branca divulgou os itens do plano de paz. Confira abaixo: 
1- Gaza será uma zona livre de terrorismo e desradicalizada, que não representará uma ameaça aos seus vizinhos.
2- Gaza será reconstruída para o benefício do povo de Gaza, que sofreu mais do que o suficiente.
3- Se ambos lados concordarem, a guerra acabará imediatamente. Forças israelenses se retirarão até uma linha pré-acordada para preparar a libertação dos reféns. Todas as operações militares, incluindo bombardeios aéreos e de artilharia, ficarão suspensas. As linhas de batalha permanecerão congeladas, até que haja condições para a retirada completa. 
4- Dentro de 72 horas depois de Israel publicamente aceitar o acordo, todos os reféns, vivos e mortos, serão devolvidos. 
5- Assim que todos os reféns forem libertados, Israel libertará 250 prisioneiros condenados à prisão perpétua, além de 1.700 moradores de Gaza que foram detidos após 7 de outubro de 2023, incluindo todas as mulheres e crianças detidas naquele contexto. Para cada refém israelense cujos restos mortais forem libertados, Israel libertará os restos mortais de 15 moradores de Gaza falecidos.
6- Assim que todos os reféns forem devolvidos, os membros do Hamas que se comprometerem com a coexistência pacífica e a desmantelar suas armas receberão anistia. Membros do Hamas que desejarem deixar Gaza receberão passagem segura para os países receptores.
7- Após a aceitação deste acordo, toda a ajuda será enviada imediatamente para a Faixa de Gaza. Isso incluindo a reabilitação da infraestrutura (água, eletricidade, esgoto), a reabilitação de hospitais e padarias e a entrada de equipamentos necessários para remover escombros e abrir estradas.
8- A entrada de distribuição e ajuda na Faixa de Gaza ocorrerá, sem interferência de ambas as partes, por meio das Nações Unidas e suas agências, e do Crescente Vermelho, além de outras instituições internacionais não associadas de forma alguma a nenhuma das partes.
9- Gaza será governada sob a governança transitória temporária de um comitê palestino tecnocrático e apolítico. Esse comitê será composto por palestinos qualificados e especialistas internacionais, com supervisão e supervisão por um novo órgão internacional de transição, o "Conselho da Paz", que será liderado e presidido por Trump, com outros membros e chefes de Estado a serem anunciados, incluindo o ex-primeiro-ministro Tony Blair.
10- Um plano de desenvolvimento econômico de Trump para reconstruir e energizar Gaza será criado por meio da convocação de um painel de especialistas que ajudaram a dar origem a algumas das prósperas cidades modernas e milagrosas do Oriente Médio. 
11- Será estabelecida uma zona econômica especial com tarifas preferenciais e taxas de acesso a serem negociadas com os países participantes.
12- Ninguém será forçado a deixar Gaza, e aqueles que desejarem sair serão livres para fazê-lo e retornar. 
13- O Hamas e outras facções concordarão em não ter qualquer papel na governança de Gaza, direta, indireta ou de qualquer forma. Toda a infraestrutura militar, terrorista e ofensiva, incluindo túneis e instalações de produção de armas, será destruída e não reconstruída. Haverá um processo de desmilitarização de Gaza sob a supervisão de monitores independentes.
14- Uma garantia será fornecida pelos parceiros regionais para assegurar que o Hamas e as facções cumpram suas obrigações e que Nova Gaza não represente nenhuma ameaça aos seus vizinhos ou ao seu povo.
15- Os Estados Unidos trabalharão com parceiros árabes e internacionais para desenvolver uma Força Internacional de Estabilização (ISF) temporária para ser imediatamente implantada em Gaza. Ela treinará e fornecerá apoio às forças policiais palestinas em Gaza e consultará a Jordânia e o Egito.
16- Israel não ocupará nem anexará Gaza.
17- Caso o Hamas adie ou rejeite este plano, a proposta acima, incluindo a operação de ajuda ampliada, prosseguirá nas áreas livres de terrorismo entregues pelas Forças de Defesa de Israel às ISF.
18- Um processo de diálogo inter-religioso será estabelecido com base nos valores de tolerância e coexistência pacífica.
19- Enquanto o redesenvolvimento de Gaza avançar e o programa de reforma da Autoridade Palestina for fielmente executado, as condições poderão estar reunidas para um caminho credível rumo à autodeterminação e à criação de um Estado palestino.
20- Os Estados Unidos estabelecerão um diálogo entre Israel e os palestinos para chegar a um acordo sobre um horizonte político para uma coexistência pacífica e próspera.

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postado em 30/09/2025 05:50
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