Oriente Médio

Hamas aceita libertar reféns; Trump exige fim de ataques a Gaza

Presidente dos Estados Unidos ameaça "inferno total" e impõe prazo para resposta sobre plano de paz. Movimento islâmico palestino aprova a entrega de todos os sequestrados em 2023. Moradores de kibbutz atacado mostram ceticismo

Protesto de familiares dos civis israelenses capturados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 -  (crédito: Jack Guez/AFP)
Protesto de familiares dos civis israelenses capturados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 - (crédito: Jack Guez/AFP)

Depois de garantir ter consultado lideranças de outras facções, e feito contatos com mediadores, o movimento islâmico palestino Hamas acenou com a libertação de todos os reféns israelenses, como parte do plano de paz de Donald Trump. No entanto, demonstrou resistência em relação a pontos da proposta e fez ressalvas à "imprecisão" do texto. O anúncio do Hamas foi feito poucas horas depois de o presidente dos EUA dar um prazo final — até às 19h deste domingo (pelo horário de Brasília) — para que o Hamas aceitasse a proposta. "O movimento anuncia sua aprovação para libertar todos os prisioneiros da ocupação — vivos e restos mortais —, de acordo com a fórmula de troca contida na proposta do presidente Trump, com a garantia das condições de campo necessárias para a execução da operação", afirmou o Hamas, em nota enviada à reportagem, por meio do WhatsApp. 

Consultados pelo Correio, moradores de Nir Oz, kibbutz com maior número de mortos (64) e sequestrados (74) durante o massacre de 7 de outubro de 2003, reagiram com ceticismo e com cautela ao anúncio do Hamas. Em publicação na sua plataforma Truth Social, Trump mostrou otimismo e exigiu que Israel pare de bombardear a Faixa de Gaza. "Com base na declaração que o Hamas acaba de emitir, acredito que estão prontos para uma paz duradoura. Israel deve interromper de imediato o bombardeio de Gaza para que possamos libertar os reféns de forma segura e rápida!", escreveu. "Neste momento, é muito perigoso fazê-lo. Já estamos negociando os detalhes que faltam. Não se trata apenas de Gaza, trata-se da tão aguardada paz no Oriente Médio."

O Hamas destacou que tomou a decisão com base na responsabilidade nacional. Também reafirmou a disposição em iniciar imediatamente, por meio dos mediadores, negociações para discutir os detalhes da libertação. Além do aceno em soltar os reféns, anunciou que aceita "transferir a administração da Faixa de Gaza para um órgão palestino formado por independentes (tecnocratas), com base no consenso nacional palestino e apoiado pelo respaldo árabe e islâmico". 

No entanto, indicou resistência a pontos do plano, principalmente a respeito do futuro de Gaza e dos direitos legítimos e inalienáveis do povo palestino. O comunicado adverte que tais pontos "estão vinculados a uma posição nacional unificada, (...) devendo ser discutidos em um marco nacional palestino coletivo, do qual o Hamas fará parte e contribuirá com plena responsabilidade". A proposta da Casa Branca alija a facção de qualquer influência ou poder. 

Horas antes do anúncio, Trump tinha determinado um prazo para que o Hamas respondesse se aceitaria ou não o plano de paz. "Se este acordo final não for alcançado, um inferno total, como ninguém jamais viu, rebentará contra o Hamas. Haverá paz no Oriente Médio, de um jeito ou de outro", escreveu em sua plataforma Truth Social.  

Irit Lahav, moradora do kibbutz Nir Oz
Irit Lahav, moradora do kibbutz Nir Oz (foto: X/Reprodução )

Esperança

Irit Lahav, ex-porta-voz do kibbutz de Nir Oz, se disse "verdadeiramente esperançosa" de que o Hamas seja "sincero". "Mas, duvido disso. Famílias de 48 reféns esperam dia e noite, há dois anos, para terem seus entes queridos libertados. Muitas pessoas sofrem, de ambos lados, desde que o Hamas brutalmente nos atacou, em 7 de outubro de 2023. Muitos soldados e civis estão aguardando o retorno para casa", desabafou, por meio do WhatsApp.

Dorin Rai; o marido, Bijai; e os três filhos sobreviveram ao massacre trancados em um quarto seguro, em Nir Oz. "Em outras ocasiões, o Hamas descartou se livrar das armas e do poder. Vi as notícias, agora, e espero que aceite o acordo. Espero, realmente, que seja verdade e que os reféns voltem para casa. Mas eu tenho medo de colocar esperança nisso. Esperamos tantas vezes e nada aconteceu", disse Dorin. "Até que eles soltem os reféns, não acreditarei nisso." Dos 48 reféns em poder do Hamas, nove são amigos de Dorin e de Bijai.

Deportação de ativistas da Flotilha Global Sumud

As autoridades israelenses começaram o processo de deportação dos mais de 400 tripulantes dos 41 barcos da Flotilha Global Sumud ("resiliência", em árabe). As embarcações partiram de Barcelona, em setembro, com ativistas como a sueca Greta Thunberg e o brasiliense Thiago Ávila, e tinham o propósito de romper o bloqueio à Faixa de Gaza e levar medicamentos e alimentos ao enclave palestino. Na quarta-feira, a Marinha israelense interceptou as embarcações que se aproximavam de Gaza. Ontem, os militares detiveram a "Marinette", o último barco que permanecia no mar. "Mais de 470 participantes da flotilha foram detidos pela polícia militar, submetidos a inspeções rigorosas, e transferidos para a administração penitenciária", informou a polícia.

"Quatro cidadãos italianos tinham sido deportados. O restante está em vias de ser deportado. Israel quer terminar o procedimento o quanto antes", afirmou o Ministério das Relações Exteriores de Israel em postagem no X.  A interceptação da flotilha desencadeou manifestações em Brasília, Buenos Aires, Paris, Roma, Túnis e Berlim. Na Itália, cujo governo tinha criticado os integrantes da flotilha, os sindicatos realizaram, ontem, uma greve geral que provocou cancelamentos e atrasos na rede ferroviária.

Dirigentes israelenses qualificaram alguns dos ativistas de antissemitas e aplaudiram a interceptação dos navios. "Sua ação importante evitou que dezenas de barcos entrassem em uma zona de guerra e rechaçou uma campanha de deslegitimação contra Israel", declarou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

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postado em 04/10/2025 05:50
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