
A paralisação dos serviços do governo federal dos Estados Unidos, conhecida como shutdown, chega nesta quarta-feira (5/11) ao 36º dia e se transforma na mais longa da história. O recorde, até então, de 35 dias, pertencia ao primeiro mandato do presidente Donald Trump, em 2019. Pela 14ª vez, o Senado fracassou em obter um consenso para tentar reabrir o governo. Desde 1º de outubro, quando o Congresso não conseguiu um acordo para aprovar o orçamento do ano fiscal de 2026, cerca de 1,4 milhão de funcionários públicos ficaram sem receber seus salários. Os servidores de áreas consideradas essenciais, como controladores de tráfego aéreo ou policiais, viram-se forçados a seguir trabalhando sem remuneração.
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A concessão de ajuda alimentar passou a ser alvo de chantagem de Trump. Em suas plataforma social, o republicano revelou que os beneficios do Programa de Assistência Nutricional Suplementar (SNAP) "somente serão dados quando os democratas da esquerda radical abrirem o governo". O alerta do presidente sugere uma mudança de tom. Na segunda-feira, a Casa Branca tinha indicado que liberaria benefícios parciais.
O secretário dos Transportes dos EUA, Sean Duffy, disse que o espaço aéreo do país pode ser fechado parcialmente por falta de pessoal. "Ontem (segunda-feira), 46% dos atrasos de voos foram causados por problemas de funcionários nas torres de controle de tráfego aéreo. Isso é inaceitável!", escreveu na rede social X.
O Partido Republicano, que goza de pequena minoria na Câmara dos Representantes e no Senado, pretendia que cinco senadores democratas avalizassem sua resolução legislativa para manter os fundos até o fim de novembro e, nesse período, discutir os temas orçamentários de fundo. Em uma demonstração de impaciência, Trump pediu abertamente aos republicanos que lancem mão de uma medida considerada uma "arma nuclear legislativa": a eliminação da barreira mínima de 60 votos no Senado, a fim de contornar a oposição democrata.
Economia
Historiador político da American University (em Washington), Allan Lichtman explicou ao Correio que "qualquer shutdown do governo prejudica a economia". "Trabalhadores afastados reduzem seus gastos, assim como o governo. Funções governamentais vitais para o suporte à economia também cessam. Embora não seja certo, uma paralisação prolongada representa o risco de recessão em uma economia instável", advertiu.
De acordo com Lichtman, o shutdown tem surtido efeito negativo sobre a popularidade de Trump. "Pesquisas mostram que mais americanos culpam Trump pela paralisação do que os democratas. Além disso, a limitação do acesso ao SNAP e outros benefícios afetará negativamente dezenas de milhões de americanos e seus dependentes", afirmou o especialista.
James Naylor Green — historiador político da Brown University (em Rhode Island) — lembrou que, nas paralisações anteriores, o governo sempre pagava os funcionários no retorno ao trabalho. "Dessa vez, parece que Trump não fará isso e, provavelmente, ficará sujeito a processos por parte dos sindicatos. O impacto sobre a economia deve-se muito mais ao desemprego, caso servidores sejam demitidois", disse à reportagem.
Ele assegurou que todas as pesquisas responsabilizam os republicanos por impedirem um acordo para aprovar o orçamento e reativar os serviços do governo. "As mais recentes sondagens, apresentadas na segunda-feira, mostram que mais de 60% dos americanos desaprovam todas as políticas de Trump. Ele encontra-se no ponto mais baixo de popularidade", admitiu Green. O professor da Brown University destacou que, uma vitória democrata nas eleições para governadores de Nova Jersey e da Virgínia, e para prefeito de Nova York (leia nesta página), será um sinal importante para os republicanos perceberem a necessidade de uma mudança de rumo da política.
EU ACHO...
"Uma pesquisa recente demonstra que a taxa de aprovação de Trump despencou para o menor nível em seu segundo mandato e atingiu os 37%, de acordo com recente pesquisa da CNN. As pesquisas indicam que o presidente lidou mal com a paralisação do governo. Sua tentativa de culpar os democratas não está funcionando. As pessoas querem seus benefícios do Programa de Assistência Alimentar Suplementar (SNAP) e os subsídios da Lei de Acesso à Saúde (Affordable Care Act), que Trump está bloqueando."
Allan Lichtman, historiador político da American University (em Washington)
Morre Dick Cheney, 84, ex-vice e arquiteto da "guerra ao terror"
Ele entrou para os livros de história como um falcão republicano que arquitetou a guerra ao terror depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 contra o World Trade Center e o Pentágono. Considerado o vice-presidente mais poderoso dos Estados Unidos, Richard Bruce Cheney — mais conhecido como Dick Cheney — morreu, na noite de segunda-feira (3/11), aos 84 anos, vítima de complicações causadas por uma pneumonia e de doença cardiovascular. "Durante décadas, Dick Cheney serviu à nossa nação, como chefe de gabinete da Casa Branca, congressista por Wyoming, secretário de Defesa e vice-presidente dos Estados Unidos", afirma uma nota divulgada pela família. "Era um grande e bom homem que ensinou seus filhos e netos a amar o nosso país e a vier com coragem, honra, amor e bondade."
Cheney foi vice durante os dois mandatos de George W. Bush, entre 2001 e 2009. Em nota à imprensa, Bush declarou que o antigo companheiro de governo foi "um dos melhores servidores públicos de sua geração" e "um patriota que trouxe integridade, alto intelecto e seriedade de propósito a cada cargo que ocupou". "Dick tinha uma presença calma e firme na Casa Branca, em meio a grandes desafios nacionais. Contei com seu conselho honesto e franco, e ele nunca fracassou em dar o melhor. Manteve suas convicções e priorizou a liberdade e a segurança do povo americano", acrescentou Bush.
Iraque
Antes de chegar à vice-presidência, Cheney ocupou o posto de secretário da Defesa durante o governo de George H. Bush, pai de George W. Bush, e foi o responsável por comandar o Pentágono na invasão ao Iraque, em 1990. Treze anos depois, tornou a planejar um ataque ao país de Saddam Hussein no âmbito da guerra ao terrorismo. A ação militar no Iraque baseou-se em falsas evidências de que o então ditador iraquiano possuía armas de destruição em massa e terminou na prisão, julgamento e morte por enforcamento de Saddam.
Ao Correio, Barton Gellman — biógrafo de Cheney e autor de Angler: The Cheney Vice-Presidency ("Pescador: a Vice-Presidência de Cheney") — afirmou que o republicano foi "o vice mais influente da história dos EUA, para o bem e para o mal". "Ele tinha três qualidades raramente vistas combinadas: era um articular nato, com profundo conhecimento do governo; possuía uma sede de poder feroz; e demonstrava opiniões políticas intensas que beiravam o fanatismo. Alguém assim faz diferença", disse.
De acordo com Gellman, Cheney foi o arquiteto de uma "guerra desastrosa" no Iraque e tomou medidas extremas para combater o terrorismo, "ambas rejeitadas pelos americanos. "No entanto, também foi um patriota, que nunca parou de acreditar que suas escolhas serviam ao povo, gostassem ou não", destacou.
O biógrafo lembrou que o ex-vice de George W. Bush era reservado e acreditava que, dessa forma, teria maior impacto. "Mas também era honesto sobre suas opiniões, apesar de ocasionalmente mentir por razões convenientes. Cheney nunca foi corrupto, apesar das falsas acusações contra a Halliburton", acrescentou Gellman. A empresa, então dirigida por Cheney, teria superfaturado ao entregar combustível para tropas americanas no Iraque, em 2003. (RC)
EU ACHO...
"Dick Cheney distorceu a lei o máximo que pode, mas nunca aconselhou a sua violação direta ou o desrespeito a uma ordem judicial. Quando o seu partido apoiou uma tentativa de golpe e se tornou uma ameaça à própria Constituição, como ele a via, rompeu com o apoio que lhe fora dado durante toda a vida e manifestou-se veementemente contra o seu então líder."
Barton Gellman, biógrafo de Dick Cheney e autor de Angler: The Cheney Vice-Presidency ("Pescador: a Vice-Presidência de Cheney")
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