Guerra no Leste Europeu

Estados Unidos e Ucrânia aguardam resposta da Rússia sobre plano de paz

Ucrânia e Estados Unidos alinham posições, depois de o presidente Volodymyr Zelensky mostrar prontidão para avançar em nova versão do acordo de paz de 28 pontos. Emmanuel Macron denuncia falta de vontade de Moscou em negociar

Moradores da capital se protegem estação de metrô: rotina de tensão -  (crédito: Sergei Gapon/AFP)
Moradores da capital se protegem estação de metrô: rotina de tensão - (crédito: Sergei Gapon/AFP)

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, mudou radicalmente de posição em um período 96 horas. Na última sexta-feira (21/11), ele classificou o plano de paz apresentado pelo americano Donald Trump de uma "escolha impossível" e prometeu não trair o próprio país. Depois da redação de um novo rascunho do acordo proposto por Washington e de mais uma rodada de negociações, dessa vez em Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), o líder ucraniano afirmou a aliados que está "pronto para avançar" com a versão atual do plano.

Fique por dentro das notícias que importam para você!

SIGA O CORREIO BRAZILIENSE NOGoogle Discover IconGoogle Discover SIGA O CB NOGoogle Discover IconGoogle Discover

No entanto, Zelensky reconheceu a existência de pontos "delicados". "A Ucrânia tem o rascunho elaborado por nossas equipes em Genebra. Esse rascunho está sobre a mesa e estamos prontos para avançar juntos", declarou aos líderes da Coalizão de Voluntários que apoia seu país. "Estou pronto para me reunir com o presidente Trump, pois há pontos delicados a serem tratados." A data do encontro não foi anunciada. 

O titular da Casa Branca demonstrou otimismo em relação às negociações. "Vamos chegar lá. Acho que estamos chegando muito perto de um acordo", comentou. Por sua vez, o presidente da França, Emmanuel Macron, criticou a postura de Moscou. "Claramente não há vontade por parte da Rússia de alcançar um acordo", advertiu. Ele prometeu exerccer uma "pressão constante" para que Moscou negocie. "Continuaremos apoiando a Ucrânia com firmeza", acrescentou.

O novo rascunho do acordo não apresenta mudanças em relação às concessões territoriais ou a garantias de segurança — o plano original previa a cessão de Donetsk e Luhasnk (ambas no leste) e da Crimeia à Rússia. Uma autoridade próxima às negociações revelou à agência France-Presse que o texto modificado prevê em 800 mil a limitação do contingente do Exército ucraniano, frente aos 600 mil estabelecidos na versão anterior.  

Moradora de Kiev, a cientista política Kateryna Shtepa — especialista em Leste da Europa pelo Instituto Britânico de Assuntos Globais — explicou ao Correio que a Ucrânia encontra-se em uma difícil situação. "No front, há pesadas baixas e apenas as batalhas defensivas têm sido travadas. Devido aos bombardeios russos, a maioria das instalações de geração de energia foi danificada ou destruída, pouco antes do início do inverno. Para Kiev, é importante aproveitar o momento e assinar um acordo em termos favoráveis", disse.

Garantias

A estudiosa crê que o principal problema com os 28 pontos do plano de Trump são as garantias "pouco claras" de paz e a integridade territorial da Ucrânia. "Um dos lados precisará fazer concessões, pois a situação na frente de batalha se deteriora a cada dia. Tudo dependerá da disposição do Kremlin para um diálogo justo. Os pontos propostos em Washington impulsionaram os países em direção à paz, mas a palavra final será dos líderes da Ucrânia e da Rússia."

De acordo com Shtepa, os líderes europeus sequer foram convidados para as negociações. "A posição da Europa permanece míope: eles apoiam inequivocamente a Ucrânia e, ao mesmo tempo, seu apoio militar não altera a situação na frente de batalha. Macron propõe a ideia de um cessar-fogo sem paz e com condições que o lado russo certamente não aceitará", afirmou. Enquanto as conversas ocorriam na Península Arábica, a Rússia continuava a atacar a Ucrânia: as forças de Moscou lançaram 464 drones e 22 mísseis em todo o país — 452 drones teriam sido interceptados.  "Enquanto mísseis eram abatidos sobre a cidade, destroços caíam, causando uma 'chuva de ferro' e danificando a infraestrutura civil. Os drones Shahed atingiram prédios residenciais, e moradores da capital passaram a noite em estações de metrô subterrâneas para se protegerem."

Shtepa alertou que os recentes bombardeios atingiram objetivos operacionais. "A defesa aérea ucraniana está sobrecarregada e não conseguir lidar com tantos alvos aéreos. Os parceiros europeus não estão fornecendo a defesa aérea que a Ucrânia realmente precisa, permitindo ataques russos."

Ceticismo 

A escultora Lenchik Dasyusha, 58 anos, vive em Kharkiv (leste) e tem dedicado o tempo na produção de gatos feitos de argila e espuma. Mais de 14 mil deles foram doados a soldados e civis feridos durante a guerra. "Estou na cidade desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022. Escutei todos os bombardeios e foi como se tivessem me atingido em cheio. Fechei-me para as emoções e decidi ajudar da maneira que fosse possível", contou ao Correio. Dasyusha interpreta os gatos como guardiões, um elemento a mais para a linha de defesa.

Cansada da guerra, ela duvida da paz de Trump. "Acredito na paz, mas depois de nossa vitória. Os russos não querem apenas o nosso território, mas eliminar os ucranianos, como nação. Isso ocorre há centenas de anos. Trump pensa em Vladimir Putin apenas como uma pessoa, mas não como um ex-agente da KGB. O presidente dos EUA fala muito, mas o resultado é sempre miserável", acrescentou.  

 

  • Google Discover Icon
postado em 26/11/2025 05:50
x