Se, por um lado, Donald Trump experimenta alívio com o fim do shutdown, depois de 43 dias de paralisação dos serviços do governo federal, por outro, o presidente republicano enfrenta talvez o mais grave escândalo de sua gestão. A divulgação, por parte dos democratas da Câmara dos Representantes, de e-mails trocados pelo financista americano e criminoso sexual Jeffrey Epstein com uma aliada, um advogado e um jornalista causou furor no Capitólio. Mike Johnson, líder da Câmara, anunciou que a Casa suspenderá o recesso e votará, na próxima semana, um projeto de lei para tornar públicos todos os arquivos do caso Epstein.
Novas mensagens de Epstein — acusado de tráfico sexual de menores — tornam a situação de Trump ainda mais delicada. Em um dos e-mails, o pedófilo pergunta para Landon Thomas Jr., então repórter do The New York Times: "Gostaria de ver fotos de Donald com garotas de biquíni na minha cozinha?".
Em 3 de dezembro de 2018, uma pessoa não identificada escreveu para Epstein, por meio do iMessage (serviço de mensagens da Apple). "Isso tudo vai ser esquecido! Eles estão apenas tentando derrubar Trump e fazendo de tudo para isso...!", afirmou. Epstein respondeu: "Sim, obrigado, é uma loucura, pois sou eu quem pode derrubá-lo". O contexto não ficou claro.
Quatro meses antes, em outro e-mail, o pedófilo disparou: "Eu sei o quão sujo Donald é". A declaração foi feita em troca de mensagens com Kathryn Ruemmler, uma ex-conselheira da Casa Branca durante o governo de Barack Obama. Na época dos dois e-mails, Trump exercia o primeiro mandato.
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As consequências políticas dos primeiros 20 mil e-mails divulgados podem ser desastrosas para os republicanos. A emissora de televisão CNN informou que o partido governista espera uma defecção em massa durante a votação pela liberação dos arquivos — a expectativa é de que muitos dos republicanos votem ao lado dos democratas e pressionem por transparência.
"Impacto poderoso"
Ex-procurador federal para o Distrito Sul de Nova York, Roland Riopelle considera que os e-mails trocados por Epstein com menções a Donald Trump terão um "impacto poderoso" sobre o presidente. "Trump foi retratado de forma muito negativa nessas mensagens", afirmou ao Correio. Segundo ele, a justificativa da Casa Branca de que os democratas criaram uma "falsa narrativa" para difamar Trump soa "ridícula". "Não há nada de falso em relação aos e-mails. Eles são completamente genuínos e muito prejudiciais para a imagem de Trump. Então, qualquer difamação contra o presidente é autoinfligida."
Peter M. Shane, professor de direito da Universidade de Nova York, explicou ao Correio que Trump invariavelmente classifica como "notícias falsas" ou "farsa" toda informação que o coloca em situação desfavorável. "Tanta informação que vem à tona corrobora a narrativa de que ele sabia da depravação de Epstein e ignorou-a ou tolerou-a ativamente. Acho que muitos eleitores do 'Make America Great Again' (Fazer a América grande novamente) não acreditarão nas evasivas de Trump", aposta.
- Leia também: Por que Trump quer processar a BBC
Para Shane, a divulgação de alguns e-mails pelos democratas da Câmara dos Representantes provavelmente teve o objetivo de pressionar os republicanos da Casa a se moverem rapidamente na liberação de todas as mensagens que eles obtiveram do espólio de Epstein. "Se essa era a estratégia, ela funcionou", disse.
Shutdown
No fim da noite de quarta-feira (12/11), ao assinar a ordem executiva que sanciona o fim da maior paralisação da história dos EUA, Trump anunciou: "Hoje enviamos uma mensagem clara de que nunca nos submeteremos a uma extorsão". A paralisação orçamentária forçou a demissão temporária de centenas de milhares de funcionários, provocou cancelamentos de voos e angústia entre famílias que dependiam de ajuda pública para subsistir.
De acordo com o Escritório de Orçamento do Congresso, os EUA sofreram prejuízos de até US$ 14 bilhões (R$ 74 bilhões) com o bloqueio orçamentário. Como algumas áreas foram bastante afetadas — como o transporte aéreo e alguns programas do governo —, a previsão é de que a reabertura completa do Estado leve algum tempo.
EU ACHO...
Anúncio eleva tensão no Caribe
Uma mensagem publicada na noite desta quinta-feira (13/11) pelo secretário de Guerra, Pete Hegseth, e uma informação divulgada pela emissora americana CBS News sugerem que os EUA podem estar preparando uma escalada da ofensiva militar contra o narcotráfico no Mar do Sul do Caribe ou mesmo um ataque à Venezuela.
"O presidente (Donald) Trump ordenou ação, e o Departamento da Guerra a está entregando. Hoje, estou anunciando a Operação Lança do Sul", escreveu Hegseth. "Liderada pela Força-Tarefa Conjunta Lança do Sul e pelo Comando do Sul (Southcom), essa missão defende nossa pátria, remove narcoterroristas de nosso hemisfério e protege nossa terra das drogas que estão matando nosso povo. O Hemisfério Ocidental é a vizinhança da América (EUA) — e nós o protegeremos", acrescentou.
Em seu anúncio, o chefe do Pentágono não forneceu qualquer detalhe sobre a operação. Por sua vez, a CBS News divulgou que altas autoridades militares dos Estados Unidos apresentaram a Trump opções atualizadas por operações em potencial na Venezuela, incluindo ataques por terra. A reportagem citou várias fontes familiares com reuniões na Casa Branca.
Segundo essas fontes, Hegset e o chefe do Estado-Maior, Dan Caine, informaram Trump sobre as opções militares sobre a mesa para os próximos dias. Duas dessas fontes asseguraram à CBS News que nenhuma decisão oficial tinha sido tomada. Tanto a Casa Branca quanto o Pentágono se recusaram a comentar o tema.
Manobras
A mobilização naval americana no Mar do Sul do Caribe foi anunciada depois que Washington acusou o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, de liderar cartéis de droga. Desde então, os EUA atacaram diversas embarcações com um balanço de 76 supostos "narcoterroristas" mortos. Na terça-feira, o maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald R. Ford, foi incorporado a essa operação em águas caribenhas.
Ontem, Maduro foi questionado por um jornalista da emissora CNN sobre uma eventual preocupação com uma ação militar dos EUA. "Estamos ocupados com o povo, governamos pela paz", disse. Ele defendeu que o povo americano se una pela paz no continente. "Não mais guerras intermináveis, não mais guerras injustas. Não mais Líbia, não mais Afeganistão. Sim, paz", concluiu.
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