
A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de ordenar o bloqueio total e completo a todos os navios petroleiros sancionados que entrarem e saírem da Venezuela levou o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, a pedir a ajuda da ONU. O líder chavista telefonou com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e denunciou uma "escalada de ameaças" por parte de Washington. Durante a conversa, Maduro alertou sobre "graves implicações para a paz regional" e exortou o sistema ONU a rechaçar, de forma categórica, as acusações de Trump de que o petróleo e as riquezas naturais pertenceriam aos EUA. Segundo o ditador, as declarações representam "uma ameaça direta à soberania, ao direito internacional e à paz". Subchefe de gabinete da Casa Branca, Stephen Miller afirmou que "o suor, a engenhosidade e o trabalho árduo dos americanos criaram a indústria petrolífera na Venezuela". "Sua expropriação tirânica foi o maior roubo de riqueza e propriedade americanas registrado. Esses bens saqueados foram então usados para financiar o terrorismo", disse.
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Delcy Rodríguez, ex-chanceler e vice-presidente da Venezuela, avisou que seu país "não tornará a ser colônia energética de nenhum poder estrangeiro". "Não haverá petróleo entregue ou roubado a nenhuma potência estrangeira", destacou. "Que não se equivoquem com a Venezuela", acrescentou, ao convocar a unidade nacional entre os venezuelanos. O regime de Maduro classificou o bloqueio naval imposto por Trump de "ameaças belicistas". Ante o clima de nervosismo no Caribe, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, também fez um chamado à ONU para que evite um "derramamento de sangue": "Que as Nações Unidas assumam o seu papel, que não têm desempenhado, que assumam o seu papel de prevenir qualquer derramamento de sangue e que procurem sempre a solução pacífica dos conflitos".
Apesar do bloqueio anunciado por Trump, a Venezuela assegurou que as exportações de petróleo seguem "normalmente". O país detém as maiores reservas comprovadas de petróleo do planeta. A companhia estatal de petróleo venezuelana PDVSA garantiu que "que as operações de exportação de petróleo bruto e derivados transcorrem com normalidade". "Os navios petroleiros vinculados às operações da PDVSA continuam navegando com pleno asseguramento, apoio técnico e garantias operacionais", informou, por meio de nota.
Na noite de terça-feira (16/12), além de impor as restrições aos petroleiros sancionados, Trump avisou que a Venezuela está "completamente cercada", acusou Caracas de roubar petróleo americano e qualificou o regime de Maduro como "organização terrorista estrangeira".
Professora de ciência política da Universidade Estadual do Colorado, a venezuelana María Isabel Puerta explicou que o risco da nova escalada, com o bloqueio a petroleiros sancionados, é de ela descambar para um confronto militar. "Essa provocação pode levar a um conflito armado. Nem os Estados Unidos nem a Venezuela estão realmente interessados nisso. Trump desistiu de mudar a justificativa da campanha militar, o que contribuiu com o aumento do ceticismo de sua própria base poítica, que não demonstra apetite para se envolver em um conflito armado com a Venezuela. Primeiro, a Casa Branca se apoiava no combate às drogas; agora, na expropriação de empresas petrolíferas", afirmou ao Correio.
Puerta não acredita na iminência de uma ofensiva terrestre norte-americana. "O número de tropas destacadas no Caribe seria insuficiente para uma operação dessa natureza, segundo estrategistas militares. Essa análise também é feita com base em experiências anteriores, como no Panamá." Para a estudiosa, a ONU nada pode fazer em relação à tensão na América do Sul. "Trump não tem limites", advertiu. José Vicente Carrasquero Aumaitre, cientista político da Universidad Simón Bolívar (em Caracas), lembrou ao Correio que os EUA têm manifestado sua discordância em relação às Nações Unidas. "Não creio que a ONU possa dissuadir Washington de qualquer ação na Venezuela. Da mesma forma, a Venezuela tem sido denunciada pela ONU como violadora dos direitos humanos, e o efeito mostrou-se nula. Se você fechar, hoje, as Nações Unidas, ninguém notará isso", disse à reportagem.
FRASES
"A Venezuela não tornará a ser colônia energética de nenhum poder estrangeiro. Não haverá petróleo entregue ou roubado a nenhuma potência estrangeira" (Delcy Rodríguez, vice-presidente venezuelana)
"Que as Nações Unidas assumam o seu papel, que não têm desempenhado, de prevenir qualquer derramamento de sangue" (Claudia Sheinbaum, presidente do México)
EUA enviam militares ao Equador
Militares dos Estados Unidos chegaram ao Porto de Manta, no sudoeste do Equador, para desarticular a ação do narcotráfico em uma das principais rotas de drogas. "Essa operação permitirá identificar e desarticular as rotas do narcotráfico, e subjugar aqueles que acreditavam que poderiam tomar o país", escreveu o presidente equatoriano, Daniel Noboa, um dos maiores aliados de Washington na região, em publicação na rede social X. Até 2009, Washington manteve uma base na cidade. A mobilização militar adiciona tensão no subcontinente e coincide com os bombardeios a lanchas supostamente usadas pelos cartéis para escoar a produção de drogas até o México e os EUA. Desde setembro, os ataques aéreos deixaram 95 mortos.
A Embaixada dos Estados Unidos em Quito saudou os compatriotas da Força Aérea americana e citou uma "operação temporária com a Força Aérea do Equador em Manta". Não foram divulgados o contingente mobilizado nem o prazo da missão. Segundo a missão diplomática, a operação visa "o fortalecimento da compilação de informação e as capacidades de luta contra o narcotráfico, e é desenhada para proteger os EUA e o Equador frente às ameaças que compartilhamos".
Para Arturo Moscoso, diretor da Faculdade de Relações Internacionais da Universidad Internacional de Ecuador (UIE), a mobilização militar dos EUA em Manta deve ser interpretada mais como parte de uma estratégia regional de combate ao narcotráfico e ao crime transnacional do que como uma ação isolada ou exclusivamente bilateral. "O Equador converteu-se em nó chave para as redes criminosas internacionais, tanto por sua localização geográfica quanto pela fragilidade institucional, da qual os cartéis têm tirado proveito", explicou ao Correio.
Moscoso entende que a operação militar em Manta articula-se com ações realizadas pelos EUA no Mar do Sul do Caribe e em outras zonas sensíveis. "Ela pode ter, como efeito indireto, um aumento de pressão sobre o regime de Nicolás Maduro. Não parece que o Equador seja utilizado como instrumento central de contenção à Venezuela, mas como um elo crítico na luta contra o tráfico de drogas, armas e dinheiro, que afeta diretamente a segurança interna do país", observou.
O equatoriano não descarta que uma parcela importante da cidadania perceba a ajuda militar americana como necessária e positiva, em um contexto de violência desenfreada e de sensação de insegurança generalizada. "Enquanto a cooperação Quito-Washington não implicar perda de soberania nem presença permanente, dificilmente será vista como uma contradição frontal com o resultado do referendo sobre a instalação de bases militares estrangeiras", disse Moscoso, em alusão à consulta popular em que a população rejeitou essas bases. (RC)
EU ACHO...
"Mais do que um sinal de confrontação geopolítica direta, a presença norte-americana no Equador responde a uma lógica de segurança compartilhada, na qual o país desempenha um papel importante, ante a magnitude do problema que enfrenta (narcotráfico)."
Arturo Moscoso, diretor da Faculdade de Relações Internacionais da Universidad Internacional de Ecuador (UIE)

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