
Uma intervenção voltada à acessibilidade na Torre de Londres acabou revelando um novo e expressivo capítulo da história do local. Durante escavações realizadas nas imediações da Capela Real de São Pedro Ad Vincula, arqueólogos britânicos identificaram cerca de 20 esqueletos enterrados no subsolo. A descoberta foi comunicada nesta semana pela Historic Royal Palaces, organização responsável pela preservação do monumento.
Os trabalhos arqueológicos tiveram início a partir do projeto de instalação de um elevador na capela. A iniciativa remonta a mais de seis anos, período em que dois esqueletos foram encontrados — os primeiros daquele espaço a passarem por análises científicas conduzidas com métodos modernos.
A investigação atende a uma exigência legal e marca a primeira escavação do tipo realizada na capela em mais de 30 anos. O edifício, que ultrapassa cinco séculos de existência, foi erguido originalmente entre 1286 e 1287, durante o reinado de Eduardo I, e passou por uma reconstrução em 1519 após ter sido destruído por um incêndio.
Entre os achados mais relevantes estão sepulturas datadas do século XIV. Segundo a organização, há indícios de que elas estejam associadas à Peste Negra, epidemia que devastou a Europa entre 1346 e 1353 e provocou a morte de até 50 milhões de pessoas. A disposição dos corpos sugere que o local possa ter funcionado como uma vala comum para vítimas da doença.
Além disso, outros três esqueletos, atribuídos aos séculos XII e XIII, também foram localizados. A presença de vestígios de caixões indica que esses indivíduos provavelmente pertenciam às camadas mais altas da sociedade, já que o uso de caixões ainda não era uma prática disseminada naquele período.
A escavação também trouxe à luz objetos não humanos, como pequenos fragmentos de uma mortalha e dois potes datados dos séculos 12 e início do 13. Os recipientes continham resíduos de carvão e representam apenas a segunda ocorrência desse tipo de artefato já registrada no país.
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Os pesquisadores ainda identificaram marcas do incêndio que destruiu a capela original em 1512, bem como as fundações da primeira construção. Outros vestígios encontrados podem estar ligados a uma capela erguida por Henrique I no século 12, estrutura sobre a qual há escassos registros históricos.
Para Alfred Hawkins, curador de prédios históricos da Historic Royal Palaces, o conjunto de descobertas abre novas possibilidades de interpretação do passado. Segundo ele, a escavação permite que os pesquisadores comecem a construir uma “visão mais detalhada das vidas daqueles que viveram, morreram e oraram dentro da capela”.
Já Katie Faillace, da Universidade de Cardiff, destaca o papel da tecnologia no avanço das análises. Para ela, a combinação entre a escavação e os recursos de ponta da universidade tem um “potencial incomparável de reconstruir as experiências daqueles que viveram e morreram na Torre, permitindo que criemos uma rica imagem da vida desses indivíduos”.

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