
Dos Estados Unidos, onde cubro a Copa do Mundo de Clubes da Fifa, conversei com um profissional europeu, um amigo que prefere manter o anonimato. Ele é estudioso e sempre atento ao futebol brasileiro. Trocamos ideias táticas e conceitos, e o intercâmbio foi muito enriquecedor. Ele trabalha em uma seleção de ponta do Velho Continente, e vou compartilhar nossa última conversa, respeitando o sigilo da fonte, pois o importante é o conteúdo.
Nossa conversa em off foi sobre a campanha dos times brasileiros no torneio. Ele começou elogiando a vitória do Bayern de Munique contra o Flamengo por 4 a 2 em Miami. "Jogo interessante. A diferença não foi muito grande, e também dá para ver qual time está no meio da temporada e qual não está. Gostei muito de como os times brasileiros estão levando a Copa do Mundo a sério e adoram o esporte", disse.
Perguntei o que achou do Flamengo, e ele respondeu: "Jogou de forma direta e teve boas transições da defesa para o ataque. A eficiência do Bayern de Munique fez a diferença, com algumas irrefletidas perdas de bola no meio de campo do Flamengo". Ele alertou ainda: "27% de todos os gols são marcados após a recuperação da bola!".
Também conversamos sobre o técnico Filipe Luís. O feedback foi positivo. "Na verdade, não o acompanhei muito depois que ele parou de jogar, mas gosto da sua confiabilidade quando jogava. Provavelmente, um dos jogadores brasileiros mais europeus como lateral. Jogar com o Diego Simeone (técnico do Atlético de Madrid) também significa que você precisa de emoções e coração em campo. Acho que ele pode combinar bem os dois mundos: o jeito emotivo espanhol e brasileiro de jogar futebol, e também a maneira analítica inglesa e alemã de jogar futebol", recomendou.
Obviamente, quis saber qual time agradou mais: Botafogo, Flamengo, Fluminense ou Palmeiras. A resposta foi direta: "Fluminense. Analisamos o Fernando Diniz e o Fluminense intensamente nos últimos anos e a abordagem de jogo deles é interessante. Eles ainda têm elementos de Fernando Diniz no jogo, mas também algumas novidades de Mano Menezes e Renato Gaúcho", elegeu.
O desequilíbrio técnico, tático e físico dos europeus em relação aos times brasileiros também foi tema da conversa. "No Mundial de Clubes, as diferenças não são tão grandes — mas isso também se deve à época do torneio (final da temporada/pré-temporada na Europa e meio da temporada no Brasil) e, claro, às condições climáticas. No passado, os jogadores brasileiros talvez fossem mais habilidosos, mas isso mudou devido ao desenvolvimento mais focado em habilidades na Europa. As principais diferenças são a confiabilidade no jogo posicional, provavelmente um pouco de tática, mas, em geral, a qualidade de todo o elenco europeu, onde as principais equipes têm de 20 a 23 jogadores de elite. Em algumas equipes brasileiras, os primeiros 12 ou 13 jogadores são comparáveis, mas depois cai um pouco", observou.
Por fim, falamos sobre os vexames do River Plate e do Boca Juniors. "Todos estavam jogando da melhor maneira possível. Assim como os jogadores brasileiros, os melhores argentinos provavelmente estão jogando na Europa. Echeverri, grande talento, joga pelo Manchester City no Mundial de Clubes. Vitor Reis, ex-Palmeiras, também. É a natureza do futebol global. Mas o Brasil ou a Argentina sempre produzirão grandes jogadores e terão grandes seleções na Copa do Mundo. Que assim seja de 2026. Valeu, amigo! Obrigado por compartilhar conhecimento com os leitores do Correio.