
Na última sexta-feira, fui ao teatro assistir a uma peça que está há 24 anos em cartaz. Sabe um texto que não envelhece nem nunca vai envelhecer? Trata-se de Intimidade Indecente, da autora Leilah Assunção, que desde 2001 teve sucessivas montagens. Em todas, Marcos Caruso viveu Mariano. Já a protagonista Roberta foi interpretada por Irene Ravache, Vera Holtz e, atualmente, Eliane Giardini. A peça é sobre um casal que se separa na casa dos 60 anos, mas não se desgruda até os 90, perpetuando o vínculo.
Além do texto e da esplêndida interpretação, é de fato chocante ver como a cumplicidade pode sobreviver a todo o resto. Intimidade e conexão resistem ao tempo. Resistem até mesmo ao desamor. Ao ver essa peça, lembrei ainda de um romance incrível, Tudo bem no ano que vem, que assisti no cinema e revejo até hoje em DVD: Doris (Ellen Burstyn) e George (Alan Alda), um casal de amantes, mantém um caso por mais de 25 anos, mas só se encontram durante um fim de semana por ano, sempre no mesmo hotel na costa dourada da Califórnia.
Os casais Mariano/Roberta e Doris /George são gente como a gente, comuns e desinteressantes, que revelam na cumplicidade cotidiana as vantagens de compartilhar vivências com quem esteja invariavelmente na mesma sintonia.
Ter relações duradouras, posso apostar, está na prescrição para uma vida longeva, assim como todos os hábitos que nos renovam, como fazer exercício físico, dormir bem, ter uma alimentação adequada. Acrescentaria ainda ir ao teatro como remédio com alto potencial curativo. Por isso mesmo, a arte deveria ter mais apoio e incentivo.
Outra prática que tem me surpreendido positivamente é maratonar documentários e, mais recentemente, ouvir podcasts. Existem vários sobre longevidade. Recentemente, o Correio lançou o PodEnvelhecer apresentado pelas jornalistas Carmen Souza e Sibele Negromonte. No segundo episódio, marcou-me um dado que o presidente do Departamento de Gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia no DF, Otávio Nóbrega, deu: as demências se tornaram uma pandemia e hoje 10ª causa de morte, a 6ª nos Estados Unidos, e o Brasil está seguindo esse curso.
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Envelhecer é um processo doloroso, sim. Não dá para fingir que não é, sobretudo quando a pessoa não tem condições de tratar de forma adequada. Na maioria das vezes, o envelhecimento vem acompanhado de achatamento da renda e aumento dos gastos. Passar por tudo isso, além de possíveis problemas de saúde, sem ter apoio humanizado e conexões reais torna tudo muito mais complexo.
Por isso, a nós e aos nossos, desejo gente de bem por perto; cuidado e companhia. E muita arte, sobretudo ao teatro, que tem esse benefício de nos rejuvenescer anos em alguns poucos minutos.
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