SOCIEDADE

Análise: Agosto, o mês que reescreve a história política e econômica do Brasil

Em um cenário político tão dividido, não tenho medo de cravar que ainda estamos muito distantes da volta à calmaria. Daqui a duas semanas, terá início o julgamento no Supremo Tribunal Federal da trama golpista. Serão dias tensos, podem ter certeza

"É bem alto tanto o percentual dos que avaliam que Lula não deveria tentar a reeleição em 2026 (58%) quanto os que defendem que Bolsonaro deveria abrir mão de uma eventual candidatura (65%). São números que traduzem a polarização existente do país" - (crédito: Caio Gomez)

Agosto, o mês do cachorro louco, como acreditam os supersticiosos, ainda nem acabou, e tem tudo para ser daqueles 31 dias que entrarão para a história. Entre a entrada em vigor do tarifaço de Trump e a aplicação de Lei Magnitsky no ministro Alexandre de Moraes, passando pela prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro e a divulgação de áudios de bolsonaristas, são tantos fatos importantes nas searas política e econômica que o noticiário se tornou um labirinto imprevisível.

O que em outras épocas renderia manchetes por semanas, hoje é atropelado em questão de horas, em uma pauta sobrecarregada, devorada e substituída por um novo escândalo ou reviravolta. O Brasil, acostumado a altos e baixos, parece agora viver em um clima de tensão permanente, em que a instabilidade se tornou a única constante.

Áudios e prints de conversas de Bolsonaro e aliados, por exemplo, não são apenas fatos, mas combustíveis para a guerra de narrativas que divide o país. Nas redes sociais, cada notícia se torna munição, usada para reforçar convicções e deslegitimar o adversário, transformando a arena pública em um campo de batalha, em que a população mostra sinais de cansaço.

Veja, por exemplo, dados da mais recente pesquisa Genial/Quaest, divulgados nos últimos dois dias. Mais da metade dos 12.150 entrevistados pelo instituto indicam que não querem nenhum dos nomes que protagonizaram as últimas disputas eleitorais. É bem alto tanto o percentual dos que avaliam que Lula não deveria tentar a reeleição em 2026 (58%) quanto os que defendem que Bolsonaro deveria abrir mão de uma eventual candidatura (65%). São números que traduzem a polarização existente do país.

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Quando se olha para as perspectivas financeiras, a divisão permanece. É exatamente igual, segundo a pesquisa Genial/Quaest, o percentual de brasileiros que avaliam que a economia vai melhorar ou piorar, com 40% cada. Outros 17% acreditam que continuará tudo da mesma forma.

Em um cenário assim tão dividido, não tenho medo de cravar que ainda estamos muito distantes da volta à calmaria. Daqui a duas semanas, terá início o julgamento no Supremo Tribunal Federal da trama golpista. Serão dias tensos, podem ter certeza. Afinal, em menos de um mês, tivemos decisões capazes de redesenhar relações internacionais, abalar a confiança nas instituições e expor, mais uma vez, as fragilidades da nossa tão atacada democracia. 

De uma forma geral, não se trata apenas de uma sucessão de fatos isolados, mas de um cenário em que o jogo político parece ter acelerado para além da capacidade de compreensão e resposta da própria sociedade. Agosto caminha para a última semana, mas os seus desdobramentos tendem a ecoar por muito tempo, impondo a todos nós a difícil tarefa de separar o que é espuma do que efetivamente moldará os rumos do país.

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postado em 22/08/2025 06:01
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