Visão do Correio

Nomes à mesa no tabuleiro eleitoral

Apesar de a eleição para o Palácio do Planalto estar distante mais de um ano do seu primeiro turno, a corrida eleitoral teve a sua largada nas últimas semanas

Disputa pelo Palácio do Planalto a mais de um ano do primeiro turno -  (crédito: Roberto Stuckert Filho/PR)
Disputa pelo Palácio do Planalto a mais de um ano do primeiro turno - (crédito: Roberto Stuckert Filho/PR)

Apesar de a eleição para o Palácio do Planalto estar distante mais de um ano do seu primeiro turno, a corrida eleitoral teve a sua largada nas últimas semanas. Enquanto no campo mais à esquerda há uma maior clareza, justamente pela possibilidade de reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no âmbito conservador há incertezas sobre quem desafiará o atual chefe do Executivo. Em jogo está o eleitorado alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível.

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Vários nomes se colocam na mesa do tabuleiro — em especial os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo; Ronaldo Caiado (União), de Goiás; Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais; Ratinho Jr. (PSD), do Paraná; Eduardo Leite (PSD), do Rio Grande do Sul —, que convergem para um ponto: o gosto pela polarização. 

No discurso, os postulantes a evitar um quarto mandato de Lula afirmam que o Brasil não merece viver a dicotomia entre o lulopetismo e o bolsonarismo. Garantem que oferecem uma terceira via. Na prática, porém, oferecem muito pouco ao eleitor que procura uma alternativa. 

Como mostrou a última pesquisa Quaest, essa parcela da população é maioria, independentemente do recorte salarial. Entre os mais pobres, 56% não se classificam como lulistas nem como bolsonaristas. Essa fatia cresce para 69% na classe média, e para 72% entre os mais ricos. Ou seja, há uma rejeição à figura dos dois políticos que protagonizaram a disputa há três anos.

A oferta, no entanto, não atende à demanda. O discurso dos governadores pré-candidatos citados continua alinhado às bases do bolsonarismo. A defesa integral da anistia dos condenados pelos atos golpistas do 8 de Janeiro é o maior exemplo disso — sem entrar no mérito se há ou não exagero em algumas condenações. 

A participação do governador de Minas Romeu Zema no Programa Roda Viva, da TV Cultura, foi emblemática nesse sentido. Ele garantiu que seu vínculo com Bolsonaro "não é tão grande", mas confessou que visitou o ex-presidente recentemente para informar sobre o lançamento de sua pré-candidatura em São Paulo, o que é chamado de "pedir a bênção" no jargão político. 

No último sábado, em discurso durante a Festa do Peão de Barretos — no interior de São Paulo —, Tarcísio levantou um boneco de Jair Bolsonaro para homenagear aquele que fez "tudo por ele" e que é vítima de uma "grande injustiça".  O governador de São Paulo dividia o palco com Zema e Caiado, que tem repetido a promessa de anistiar o ex-presidente caso chegue ao Palácio do Planalto. 

A busca por uma país pacificado não deve passar por uma aproximação da polarização, mas pela apresentação de um plano de governo coerente com as necessidades da população, independentemente do espectro ideológico.  Na esquerda, por sua vez, a elaboração de políticas públicas também precisa ser prioritária, ainda que os desafios sejam grandes no que diz respeito ao relacionamento com o Congresso Nacional, majoritariamente conservador.

Em uma guerra de narrativas que dividiu o país, os números da Quaest escancaram a demanda da população por uma nova maneira de fazer política. Mesmo sem caneta federal nas mãos, os pré-candidatos, se querem ter sucesso nas urnas, precisam apresentar esse paradigma alternativo no discurso de agora.

 

 

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Por Opinião
postado em 27/08/2025 06:00
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