TEATRO

Pelo teatro, vale tudo

O teatro é antitela, é espaço onde a cena não se limita a cenário, nem mesmo a uma atuação impecável

O teatro é a arte ao alcance dos nossos sentidos, um aceno ao real, embora tantas vezes fantasia ou ficção — e o que há de mais ficcional do que a vida vista por meio de telas? -  (crédito:  Reprodução)
O teatro é a arte ao alcance dos nossos sentidos, um aceno ao real, embora tantas vezes fantasia ou ficção — e o que há de mais ficcional do que a vida vista por meio de telas? - (crédito: Reprodução)

Estava na plateia quando Lilia Cabral agradeceu, ao fim do espetáculo A Lista, dizendo que estava muito feliz porque fomos assisti-la, a despeito de querer saber quem matou Odete Roitman. Eu fui uma delas. Não sou mesmo mais noveleira. Vi todas as boas novelas dos anos 1970, 1980 e uma ou outra dos 1990. Tornei-me teatreira (e essa palavra nem existe) nos últimos tempos. Não recuso convite nem chance de estar nesse espaço sagrado, em que a entrega é assustadoramente real. E quando a gente também se entrega na condição de espectador, a magia é completa.

Fique por dentro das notícias que importam para você!

SIGA O CORREIO BRAZILIENSE NOGoogle Discover IconGoogle Discover SIGA O CB NOGoogle Discover IconGoogle Discover

O teatro é antitela, é espaço onde a cena não se limita a cenário, nem mesmo a uma atuação impecável. Como uma brisa, o texto se espalha, o gesto do ator se expande e atinge em cheio a plateia. O teatro é a arte ao alcance dos nossos sentidos, um aceno ao real, embora tantas vezes fantasia ou ficção — e o que há de mais ficcional do que a vida vista por meio de telas?

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

A arte, é verdade, está longe de se limitar ao palco. Eu mesma amo cinema, e a nossa dramaturgia na TV é de uma qualidade inquestionável. Mas o teatro, este sim, é coisa de outra ordem. É um corpo a corpo sem barreiras. Teatro é vento bom, tem cheiro, luz, vida própria. Dá aos artistas o privilégio do encontro direto com seu público e, a nós, permite degustar a arte em sua plenitude. A peça termina e saímos extasiados, encantados, tantas vezes emocionados e reflexivos, tantas vezes cansados de rir.

A gente passa dias e noites no celular, teclando ou rolando o feed, num scroll infinito que nunca acaba nem gera repercussão, a não ser ansiedade e adoecimento mental. Se o tempo que passamos diante das telas fosse, apenas partezinha dele, dedicado ao teatro, desconfio que nós e o Brasil seríamos outros. Creio mesmo que vale tudo pelo teatro. Vale cada segundo dedicado. Vale o dia inteirinho e mesmo a noite reveladora de quem matou Odete Roitman.

As atrizes Lilia e Giulia Bertolli, sua filha, juntas e brilhantes em cena numa peça sobre amizade que perpassa gerações, me lembraram o quanto as telas têm nos afastado das pessoas e da verdade. A vida inventada das redes não vale um vintém. Não é nada se comparada à força descomunal de assistir a uma peça de teatro. Reserve um tempo de valor e esteja presente onde a sua presença de fato importa.

 

  • Google Discover Icon

Tags

postado em 19/10/2025 06:00
x