
Em dezembro de 1971, o Brasil vivia sob o jugo da ditadura militar, com o general Emílio Garrastazu Médici na Presidência da República. No Rio de Janeiro, vivia-se o Verão da Contracultura, movimento que tinha como musa Gal Costa, de saudosa memória. A cantora baiana era a representante de Caetano Veloso e Gilberto Gil, exilados em Londres.
- Leia também: Rita e Roberto
O grande assunto naquele período, no circuito artístico, era o Fa-Tal Gal a Todo Vapor, show protagonizado pela cantora baiana, recém-chegada de Salvador, no Teatro Tereza Rachel, em Copacabana. A montagem do espetáculo, que confrontava os repressores de plantão, teve como diretor artístico Waly Salomão.
Responsável pela direção musical, Jards Macalé era autor de duas canções do repertório, Movimento dos barcos e Mal secreto. Em trecho da letra desta última, ele deixava claro seu desconforto em relação àquele momento: "Meu segredo é que sou um rapaz esforçado/ Fico parado, calado, não converso/Mascaro minha dor, já sei sofrer". Foram ele e Waly, também, que descobriram, no Morro de Morro de São Carlos, Luiz Melodia, autor de Pérola Negra, que viria a se tornar um dos maiores sucessos do repertório.
- Leia também: Uma era de esquinas ímpares
Um outro feito de Macalé tem a ver com um dos álbuns mais importantes da discografia brasileira, Transa, de Caetano Veloso, gravado durante o exílio londrino. São dele os arranjos e a direção musical. O eterno tropicalista, aliás, convidou o amigo para se juntar à banda que o acompanhou, em 13 de agosto de 2023, ao reviver o show que marcou seu retorno ao Brasil em 2023, na Marina da Glória, no centro do Rio de Janeiro, com aquele repertório, que havia apresentado no Teatro João Caetano, quando do seu retorno ao Brasil, em abril de 1972.
- Leia também: Nada será como antes
Fiz algumas entrevistas com Macao — como o chamavam seus amigos. Em uma delas, em 16 de novembro de 2013, ele exaltava os companheiros de geração, pela qualidade do que produziam. A última foi em 22 de outubro de 2021, quando lançou Síntese do lance, álbum que havia gravado com João Donato. Mais recentemente, nos reencontramos no Vivo Rio, casa de espetáculos, ao lado do Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro. Estávamos na plateia, assistindo ao show comemorativo dos 60 anos de carreira de Maria Bethânia. Escrevo este texto já com saudade desse grande artista da Música Popular Brasileira, que partiu para outra dimensão, na quinta-feira da semana passada.

Opinião
Opinião
Opinião